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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA ( 1 )

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Graças a Deus, hoje começo mais uma maratona de trabalhos que não me permitirão ficar afastado por tanto tempo da prancheta; desta feita, pra não estar ausente daqui, deixo com vocês uma ilustração para o clássico de Lima Barreto.
Beijos a todos.



O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA ( 2 )

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Mais uma semana vai chegando ao final. Não canso de me espantar com rapidez da passagem do tempo!
Hoje, fica aqui mais uma imagem do livro do Lima Barreto.
Bom weekend para todos.


LIMA BARRETO ( A NOVA CALIFORNIA )

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Bom dia, amadas e amados. Dentro em pouco estou saindo para resolver uns probleminhas no centrão de Recife. Sabem, se me fosse possível, só sairia de casa para ir ao cinema, uma livraria, ou algo do tipo. Cada dia mais me aborrece ter que deixar o sossego do meu teto para as chateações da rua, mas fazer o que, né?

A ilustra de hoje foi feita faz um tempinho já, para um conto do Lima Barreto, A Nova California, um texto perfeito para uma história em quadrinhos, todas aquelas situações bizarras são bastante inspiradoras pra quem curte narrar histórias em forma de desenhos sequenciais. Porém, só me deram liberdade para fazer esta, ou seja, era apenas uma imagem por conto.
Escolhi a cena no cemitério, contudo, me pediram para não deixa-la violenta demais. Que pena.


"DREDD" E "THE RAID: REDEMPTION"

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Desde que vi um trailer no site Omelete sobre um filme indonésio intitulado "The Raid", fiquei doido para assisti-lo; nas poucas cenas mostradas, tiros e pancadarias eram a palavra de ordem (algo bem típico do cinema que se faz naquelas paragens). Não passou nas salas de projeções brasileiras, não consegui baixa-lo pela internet, mas esses dias consegui uma cópia pirata (dublada- argh!) e pude matar a vontade. Não posso dizer que fiquei desapontado, o filme tem cenas de ação memoráveis e é de uma violência explícita poucas vezes mostradas. Contudo, o roteiro é muito fraco e as atuações muito rasas. Na verdade, isto nem importa tanto, sei o que esperar de produções deste tipo, para mim, ele peca mais por algumas cenas de luta que poderiam ter a metade de sua duração, acho que ficaria mais realista. Mas diverte. Para quem gosta de adrenalina, eu recomendo.
O enredo é o seguinte, uma equipe da SWAT invade um prédio repleto de bandidos (do primeiro ao último andar) a operação dá errado e a bandidada cai matando (literalmente) e os mocinhos tem que se virar para sobreviver, sem chances de resgate.
Não entendi muito bem a questão da corrupção policial, mas as cenas de porradaria em ambientes fechados são muito bem realizadas, principalmente quando acabam as balas e todos partem para o combate com facas e facões.

Agora chego ao ponto: "Dredd", o segundo filme oriundo do mais popular personagem britânico de hqs. O primeiro foi protagonizado pelo  Sylvester Stallone em 1995, e era muito fraco - na verdade, uma merda.
Não é o caso deste segundo. Este é muito bom! Algumas pessoas torceram o nariz, é claro, mas para mim é um filme que cumpre perfeitamente aquilo a que se porpõe. Eu sempre curti o estilo do Juiz Dredd, ele trata os vagabundos como merecem, na ponta da botina e não exita em atirar para matar.
O que ele tem a ver com The Raid? Simples, a história é a mesma, tanto que já li afirmações de pessoas na net, acusando-o de plágio. Nada a ver, é possível até que os realizadores de Dredd tenham se inspirado no filme oriental, mas na verdade, pessoas de bem, perseguidas por malfeitores em território inimigo, não é exatamente novidade.
Muito me impressionou o fato de ator principal, Karl Urban, não ter tirado o capacete durante todo o filme (ao contrário do Stallone), mantendo assim a aura de mistério, que é a marca registrada do personagem, afinal nem os criadores da hq conhecem o seu rosto, visto que Dredd nunca foi desenhado sem sua cobertura.
Infelizmente, nem todo mundo fora dos quadrinhos conhecem o Dredd, então o filme não pode ser saboreado da forma devida. Eu mesmo li poucas hqs dele, só aquelas lançadas pela Pandora Books e as edições em crossover com o Batman pela Abril.


Esta arte eu fiz rapidamente, só para ilustrar esta postagem. Na verdade os editores da extinta Pandora Books (Leandro Luigi Del Manto e o Maurício Muniz), pensaram em mim para pintar uma capa para uma das revistas (rapaz, quanto tempo, já!!!), mas nunca aconteceu.

Isso aí, minha gente. Abração pros gatões e beijos pras gatinhas.
Bom fim de semana prolongado a todos.

AINDA MEIO PERDIDO.

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Bom dia a todos, hoje é dia do professor, sou formado como arte educador mas nunca exerci a profissão. Não consigo conviver muito tempo com as pessoas, além de tudo os mestres de hoje (não seria de sempre?) ganham uma merda de salário, por hora eu passo, mas fica aí minha sincera homenagem aos professores deste nosso país.
Hoje é também dia do comerciário. Afinal, é ou não feriado?
Bem , pra mim tanto faz.


Pra vocês terem uma idéia de como ando cada dia mais fora de órbita, não lembro mais pra qual (ou quais) livro (s) fiz as ilustras que hoje desemboco aqui. Mas acho que isto não tem lá muita importância, né?

A Devir não deu mais notícias sobre a continuação de Zé Gatão-Memento Mori, que já deveria ter saído.

Hoje fui citado no UHQ:  http://www.universohq.com/quadrinhos/2012/n15102012_03.cfm .Trata-se do posfácio que fiz para os Mortos Vivos 10 da HQM.

Também hoje criei coragem para tirar da gaveta um álbum meu (inédito) e remete-lo para uma avaliação numa editora de São Paulo. Já estou até preparado para a resposta: "Material interessante mas não é nosso perfil, etc e etc."  Vamos ver no que dá.
 
A luta continua e nós temos que seguir em frente. 


PASMACEIRA.

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O calor está de volta. O ar que sopra do ventilador constantemente ligado é sôfrego e morno. Os dias tem sido de relativa paz, algumas vezes tediosos.
Minha cabeça embotou hoje. Tenho algumas idéias para textos e desenhos que gostaria de colocar aqui, mas a porta da mente que dá acesso à mão, parece trancada e a chave perdida.
É uma fase, eu sei, as vezes demora a passar, mas logo, logo, se Deus quiser, este marasmo dá um tempo e o trem volta aos trilhos.
Ainda aguardo a publicação do meu próximo álbum. A editora silenciou. Já passei por isto, mas não dá para se acostumar. Entrementes, o taciturno Zé Gatão continua a sua batalha pela sobrevivência, agora em ilustrações soltas, como demonstram estas etapas.
Minha saúde parece boa. Preciso encontrar um tempinho para os execícios.
Brevemente chega às bancas um novo passo a passo de desenho.
Minhas ilustrações para livros clássicos prosseguem.
Os ponteiros do relógio giram inexoravelmente rápidos. O dia final espreita em alguma esquina da vida.




SEXTA QUENTE E O DETALHE DE UMA CAPA.

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Este recinto onde escrevo, neste exato minuto, está parecendo uma sauna. Minha esposa está dando uma descansada lá no quarto e deixei o ventilador com ela. Tem um menor que uso no meu estúdio, mas ele já fica ligado o dia todo quando estou trabalhando, então resolvi dar uma folga pra ele enquanto dou uma espiada nos meus e-mails. Meu plano hoje era postar um conto qui, mas não foi possível concluí-lo ontem a noite. Vamos ver se semana que vem ele "desenrosca".

Hoje, fiquem com um detalhe da capa de um livro de contos do Lima Barreto.
Bom fim de semana a todos.


RABISCOS DE ILUSTRAS E HQS

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Para a segunda feira vão passar batida, alguns estudos e esboços de trabalhos que estou executando no momento.
A pressa é grande por isto não posso me delongar.
Beijos a todos.








OLHOS DE ANJO. ( Um conto de Eduardo Schloesser )

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Maria do Carmo era uma mulher robusta, de quadrís largos, seios firmes e fartos, pensar-se-ia que com eles daria para amamentar um exécito. Olhos negros, pestanas grossas, rosto redondo de lábios carnudos, cabeleira crespa e volumosa com vários fios pratedos que denunciavam a idade de 45 anos. Suas axilas e púbis nunca conheceram navalha. Viúva. O marido um dia resolvera se envolver com garimpo, viajou para plagas distantes e foi assassinado com dois tiros no peito ao se engraçar com uma mulata comprometida. Por herança, as únicas coisas que deixou foram dívidas e três filhos, dois rapazes e uma menina, que ela criou com sacrificio costurando roupas pra fora. O mais velho tinha desessete anos, estava em vias de ir para o exército, onde acalentava o sonho de seguir carreira, ser general. Moleirão como era, duvidava-se que conseguisse, chamava-se Childerico. O mais novo, tinha quinze, era  esperto, um tanto travesso, chamava-se Tertuliano.  Ambos trabalhavam num roçado de um sítio próximo alguns quilômetros. A menina, uma gordinha, sardenta como o pai e o irmão mais velho, chamada Maria Clara, tinha oito anos. 
Mãe e filhos moravam numa casinha ao pé da serra. Uma habitação rústica, mas que ela não media esforços para tornar confortável aos seus rebentos. Era cercada por numerosas árvores frutíferas e uma horta muito bem cuidada. Duas cabras e algumas galinhas proviam a alimentação da família.

Certa manhã modorrenta, saiu do meio da mata um indivíduo alto, magro, cavanhaque bem desenhado no rosto austero, e longos cabelos grisalhos. Trajava calças de brim, camisa de chita beje, com as mangas dobradas na altura dos cotovelos, colete de gibão de couro curtido, botas longas, o cinto combinando com o chapéu de abas largas. Uma bolsa de couro de bode ladeava seu corpo esguio.
Com a parte de cima do rosto envolta em sombras pelo chapéu, atravessou o portãozinho de madeira e arame farpado e cumprimentou Maria do Carmo, que lidava no tanque de roupas.
"Bom dia! A senhora me desculpe invadir assim. Me dá de beber, dona?"
"Claro. Ô Tertuliano, venha dar água para o moço forasteiro, depressa!"
O rapazinho, largou a enxada com a qual capinava a lateral da casa um tanto a contragosto e dirigiu-se ao poço. Pegou uma concha de cabaça, encheu-a e serviu ao estranho. Ele bebeu e sorriu. Tirou o chapéu e inclinou-se na direção da mulher em sinal de agradecimento. Neste momento ela viu seus olhos. Olhos profundos e mansos, de um azul intenso e penetrante, como os olhos de um anjo.
"O moço não é daqui, pois não?"
"Não, venho de uma terra muito, muito distante." Suspirou fundo." A senhora tem uma bela propriedade aqui!" Disse isso olhando em volta. O mocinho voltou à enxada, a menininha rechonchuda brincava embaixo de um abacateiro com uma boneca rota de pano. O rapaz mais velho, sentado numa cadeira à porta de casa, o fitava com olhar indolente e curioso.
"Se o moço vem de tão longe, decerto há de estar com fome, está servido almoçar antes de seguir viagem?"
"Ah, a velha cortesia interiorana! Os bons modos ainda insistem em brotar neste mundo carregado de iniquidade!" A mulher franziu as grossas sobrancelhas tentando compreender as palavras do homem.
"Agradeço muito, mas no momento tenho muito mais a necessidade de me servir da senhora."
"Comequié?!? Não entendi!"
"Entendeu sim. Vamos lá para dentro. Não vai demorar nada e a senhora vai gostar!"
"Isto... isto é um absurdo! Sou mãe, estes são meus filhos! Sou uma mulher de respeito! O senhor suma da minha propriedade!"
"Se eu não sumir, vai acontecer o quê?"
"É...meu marido... meu marido chega já... ele...ele..."
Enquanto a mulher falava, o forasteiro obsevava ao seu redor. Notou que o ruivinho sardento levantou-se da cadeira, o garoto da enxada  se aproximava, lívido.
Calmamente foi ao poço e tomou mais um pouco de água.
"Poupe saliva, a senhora não tem marido. Se tiver, deve ser um borra-botas. Seus olhos demonstram que tem sede de um macho de verdade!"
"O senhor não fale assim na frente dos meus filhos!"
O homem repentinamente agarrou a mulher pelos cabelos e puxou-a em direção à casa. Ela protestava enquanto era induzida. Tertuliano, com um berro, levantou a enxada direcionada à cabeça do estranho. Mas antes que pudesse concluir o ato, tomou um violento chute no peito.
Berrou e caiu ao solo tentando sorver ar com sofreguidão. A menina, em estado de choque, agarrou-se à boneca. Chiderico, num ato instintivo, aproximou-se do estranho e levou um soco selvagem na boca. O mancebo agarrou os lábios cheios de sangue e dobrou-se enquanto urinava nas calças.
Temendo o que poderia acontecer a seus filhos a mulher afrouxou sua resistência. Empurrada para dentro da casa, o forasteiro a impeliu para um dos quartos e jogou-a sobre uma cama. Tentou vira-la de bruços mas ela resistiu. "Olhe dona, isto pode acontecer de um jeito fácil ou difícil. Não me obrigue a ser violento com a senhora. Então, como vai ser?" Intuindo que seria inútil repelir o agressor, Maria do Carmo fechou os olhos e se submeteu. O forâneo trancou a porta e levantou-lhe as saias descobrindo sua enorme bunda, baixou as calças e deitou-se em cima dela com voragem.

Do lado de fora da habitação, Tertuliano, parcialmente recuperado da agressão que sofrera, sentou-se ao lado do irmão de calças molhadas. "O que vamos fazer?" O outro, ainda segurando os beiços inchados, nada respondeu. "Precisamos fazer alguma coisa, aquele cara pode estar matando nossa mãe!" Com os dentes frouxos nas gengivas sangrantes, Childerico se impacientou: "E vamos fazer o que? Viu o que ele fez com a gente? Esse cara pode ser um bandido, um assassino!"
A menina, com um tom choroso na voz, perguntou com cuidado:
"O que aquele homem tá fazendo com a mamãe?"
"Nada - respondeu o irmão do meio - Eles só entraram em casa para conversar."
"Mentira, aquele homem tá machucando a mamãe! Porque ele bateu em vocês? Porque ele puxou a mamãe pelos cabelos?"
"Ah, Clarinha, pare de encher o saco! Vai brincar com alguma coisa, não enche!"
"Mas..."
"Ande, ou vou te bater!"
Quando a criança se afastou, Tertuliano desafiou o irmão:
"Você devia fazer alguma coisa."
"O que, porra? Fazer o que? Por que eu?"
"Você é o mais velho, vai entrar para o exécito, vai ser soldado!"
"Ah! Num enche! Você não sabe nada!" 
Ficaram ali em silêncio por longos minutos. A natureza era totalmente indiferente ao drama. O sol brilhava num calor agradável, pássaros chilrreavam nas copas das árvores, libélulas pairavam rentes à vegetação.
"Tão demorando muito, o que será que está acontecendo?"
"É, tão demorando muito mesmo!"
"Acho que vou dar uma espiada lá dentro."
"Cuidado!"
Tertuliano tentando fazer o mínimo de barulho enquanto caminhava rente à parede da casa, procurava algum som que viesse de dentro. Nada. Até que num segundo pareceu-lhe ouvir o ranger das molas de um colchão.
Junto à janela vedada, espiou por uma fresta e pensou ver o que poderiam ser nádegas bronzeadas, subindo e descendo em estocadas rápidas, firmes e violentas.
Voltou para junto de Childerico.
"Parece que estão lá ainda."
"O que estão fazendo?"
"Ah, cê sabe!"
Num átimo de resolução, o garoto levantou-se e seguiu em direção à cozinha e de lá pegou um facão. Neste momento, enquanto empunhava a arma, a porta do quarto se abriu e o estranho surgiu todo suado, apertando o cinto nas calças. Fitou-o sombriamente com aqueles olhos cor de anil e disse com tranquilidade:
"Cuidado com este facão, rapaz. Pense em alguma besteira e eu o enfio no seu cu até o cabo, e com ele lá dentro ainda, corto sua língua!"
Diante de tais palavras, o mocinho se acovardou, largou a arma e saiu desabalado do domícilio.
O homem ajeitou os cabelos, pegou uma caneca, serviu-se de café que havia num bule, deu um gole, estalou a língua, apanhou o chapéu e foi em direção ao quarto. Parou na porta e disse à mulher que jazia encolhida, deitada na cama:
"Fique tranquila. Não nos veremos mais."
Pôs o chápeu e retirou-se da casa. Os três irmãos agrupados o observavam com um mixto de apreenção e raiva. Tocou a aba da cobertura em diração a eles, atravessou o portãzinho e sumiu na mata.

Só muito tempo depois, Maria do Carmo teve coragem de sair. Os meninos não conseguiram encara-la.
Sentou-se na cadeira com um gemido.
"Aquele desgraçado...ele me machucou pra valer!"
"Como mãe?"- perguntou a filha.
"Nada, não importa!"
Levantou-se, tomou um banho e foi cuidar do almoço.

Dois meses depois vieram os enjoos. Não havia dúvidas, estava grávida. Tomou chá de raiz forte, indicada por uma velha índia, mas o feto resistiu. Ela decidiu não lutar contra ele. Nos meses subsequentes, ele lhe chutaria o ventre trazendo à memória o seu vitupério.
Nasceu um menino robusto, de olhos azuis cristalinos, no mesmo dia que seu filho mais velho entrou para as forças armadas.
O exército não era nada do que Childerico pensava. Morreu baleado num execício de tiro que nunca foi devidamente esclarecido.
As lágrimas amargas da mãe foram aplacadas pelo suave toque do seu novo rebento.
Uns anos depois, Tertuliano, que desde aquele fatídico dia evitava os carinhos da genitora, começou a namorar uma mulatinha da vizinhança e se casou.  Mudou-se e nunca mais deu notícias.
Clarinha também, não muito tempo depois, engravidou de um rapaz, juntou os panos e tornou-se uma máquina de fazer filhos.
Certa vez, Maria do Carmo arranhou o braço na cerca de arame farpado e foi acometida de tétano. O suplício da doença quase a matou. Quase. Mas as sequelas nunca a permitiram ter uma vida normal outra vez. Neste tempo, pouca ou nenhuma ajuda recebeu de parentes ou amigos. O único apoio que nunca faltou foi de seu filho caçula, o bastardinho como ela o chamava em seu íntimo, sempre ao seu lado, com seu sorriso puro de infante. E aqueles olhos azuis, como os olhos de um anjo.         







 

O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA.

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Este livro, considerado uma das obras primas de Lima Barreto, como o próprio título indica, é recheado de situações infelizes; não só o fim, mas toda a vida do major Quaresma é um caldo viscoso de insucessos e luta contra moínhos de vento. Pelo pouco que conheço da vida deste escritor, nota-se nele uma mágoa muito grande em relação ao status quo de sua época, pelo não reconhecimento que sua obra merecia. Basta se aprofundar um pouco em seus personagens para sacar o quanto de si mesmo e situações vividas tinham a ver com sua condição de autor relegado a segundo plano, provavelmente por ser mulato, e ai posso teorizar várias outras coisas, mas francamente não me compete, análise de vida e obra de um artista, eu deixo para os especialistas. O triste é saber que muita coisa permanece a mesma desde aqueles tempos. Acontece em todos os setores das artes.

Tenho recebido com muita frequência links de debates sobre assuntos já velhos, com as seguintes perguntas enfiadas uma ou outra vez ao longo do colóquio: "porque q hq nacional não vinga?" ou "o que falta ao artista brasileiro viver de sua arte?"
É interessante notar que atualmente os debatedores são sempre os mesmos, os autores da moda, que diga-se de passagem, são extremamente talentosos e que mereçem estar no olimpo dos grandes criadores de quadrinhos neste país. A questão é que não são os únicos, há uma pá de gente brilhante que normalmente é ignorada nos grandes festivais e etc. Não falo por mim, pois me sinto um privilegiado, vou logo adiantando.
Quando comecei neste meio, em São Paulo, eu ia a todos os eventos possíveis, Ângelo Agostini, Gibiteca Enfil e tal e coisa, e os convidados para as mesas redondas eram os fodões da época, e reparei que em muitos momentos, estes mesmos fodões estão por trás dos fodões atuais. Ou seja, não parece haver uma renovação legítima de pessoas dentro do mercado, tendo a pensar que aí fica difícil mesmo a "coisa" ir para a frente, se existe um bolo tão grande, mas as fatias são distribuídas para apenas uns poucos. Paranóia minha? É bem possível, mas sei lá, conheço tantos caras (desenhistas e roteiristas) que labutam nestas trincheiras, que não dá para evitar a comparação com o major Quaresma e seu criador.

Esta é a ilustração que criei para a capa do livro. 



BOM FIM DE SEMANA!

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Amados e amadas, passo por aqui apenas para desejar a todos um bom feriadão, e também, claro, deixar uma arte feita para um dos contos de Humberto Campos.
Nos falamos de novo semana que vem, com a Graça de Deus.


MACHADÃO.

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Bom dia, queridos e queridas. Minha vida está uma correria só. Na medida do possível vou organizando minha rotina e fazendo umas artes e hqs para autossatisfação, com o tempo elas vão aportando aqui com novos textos, se Deus quiser.
Por hora, para este blog não ficar sem atualização, deixo uma ilustra criada para um conto do Machado de Assis. Conto, aliás, cruel, como só ele era capaz de fazer.

Beijos para as mocinhas, aperto de mão para os moções.


UMA DROGA CADA DIA MENOS POTENTE.

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Chegaram dia destes umas caixas com os exemplares dos clássicos da literatura brasileira a que tenho direito. Ainda faltam outros tantos que ilustrei o ano passado. Devem me mandar logo. Muitas destas ilustrações já deram as caras por aqui.
Legal, pensei eu. É sempre bom ver trabalhos publicados, chegando a um público que nunca pude mensurar. Na verdade é a única coisa que ficará de mim por mais um tempo depois que eu me for. Mas, sei lá, fora o primeiro momento de euforia ao folhear as páginas e checar a qualidade de impressão, sentir o cheiro da tinta no papel, isto tem me causado cada vez menos enlevo.
Envelhecer seria isso? Sentir que toda a vaidade, não é nada mais que um narcótico que a medida que os anos avançam não produzem mais o efeito de outrora? Que isto só aumenta, em determinados momentos, a sensação de vazio? Faço-me ainda a seguinte pergunta: a idade está me tornando um babaca maior do que na verdade sou?
Recordo-me quando a muitos anos atrás vi uma ilustração minha ostentada na capa de uma revista de circulação nacional, exposta em bancas de jornais. Eram outros dias. Me alimentei daquela ufania durante um bom tempo. Nunca ousei revelar a ninguém que era o autor da proeza (uma carecterísca minha, ser invisível sempre que possível) mas me deleitava com os elogios que faziam à obra mesmo sem saber quem era o autor - muitas vezes, editores suprimiam minha assinatura.
Com o tempo fui me acostumando, alguém gosta do que faço e me encomenda um trabalho. Faço. Recebo. Gasto. Tempo depois vejo o fruto do esforço à exposição pública, na maioria das vezes, com retorno bem positivo, mas sem o mesmo orgulho de antes.
Por outro lado, sinto-me um tanto hipócrita, pois se não me importasse tanto, não deveria postar tais obras aqui esperando manifestações.
Sei não, pode ser que tudo isto seja fruto do cansaço.







SENHORA ( 01 )

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O livro foi publicado faz tempo, a capa já deu as caras por aqui, agora é a vez de algumas ilustrações internas.
Boa semana pra todos.


UM BREVE DIA LONGO.

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Boa noite a todos.
Era minha intenção escrever hoje um daqueles meus desabafos travestidos de crônicas do cotidiano, impulsionado por um acontecimento que presenciei numa fila de mercado, mas confesso que perdi o pique. Foi, pra variar, um daqueles dias arrastados e cansativos, cheio de pressão, onde meu trabalho só foi concluído por pura força de vontade. Não via a hora de sentar em frente ao computador e relaxar um pouco para dividir com vocês um tiquinho dos meus pensamentos, mas a fadiga (principalmente mental) cria estáticas no meu raciocínio, portanto, fica para uma outra ocasião.
Deixo com vocês alguma ilustras criadas para os livros clássicos, Lima Barreto, Machado, José de Alencar (acho que é isto), tenho trabalhado num rítmo tão vertiginoso que as vezes não tenho certeza de qual desenho corresponde a qual narrativa.
Bem, é isto aí. Acho que vou agora assistir um filme pra espantar os vestígios de um dia pedreira.
Bom feriado procêis.















ANTONIO.

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Depois de alguns meses morando no Brasília Pálace Hotel, o apartamento funcional a que meu pai tinha direito finalmente ficara disponível, e foi com certa tristeza que mais uma vez nos mudamos, agora pra sentir pra valer as diferenças entre São Paulo e o Distrito Federal, pois no hotel sempre haviam acontecimentos um tanto peculiares que não nos deixavam submergir totalmente em uma nova e pacata rotina de vida. O tal apartamento situava-se na SQN 104, bloco "C", bem ao lado da escola onde já estudava desde o princípio do ano (os que me acompanham neste blog a mais tempo, hão de se lembrar da postagens sobre minha chegada a Brasília e meu encontro com o Raul Seixas).
Ficamos lá por cerca de um ano (fomos depois para a SQS 202) mas foram tantos fatos ocorridos ali que a impressão que dá é que foram no mínimo uns cinco anos. Eu precisaria de pelo menos mais umas duas postagens para relatar os casos mais pitorescos, sofri muito bulling aquele ano, brigava quase toda a semana, mas isto fica para uma outra vez, quem sabe; o objetivo real ao dividir com vocês estas lembranças é para falar do Antonio, um colega de sala de aula, que vez por outra vem se fazer presente em minhas reminicências, e isto por um motivo bem característico: ele tinha um problema de dicção que o impedia de proferir as letras "R" e "L" numa palavra. Analizando hoje, posso imginar que sua lingua travava, não chegando a bater a ponta no céu da boca, substituindo as referidas letras por um "V". O curioso é que só eu parecia notar isto.

O Antonio era um rapagão alto, encardido e mal-ajambrado, sempre com as roupas rotas e sujas, morador da Vila Planalto, metido a boa praça (e no fundo talvez fosse mesmo). Ele me chamou a atenção logo no primeiro dia de aula, quando entrou em sala como se fosse dono do lugar, a camisa aberta e as calças caídas deixando entrever a cueca (hoje é moda, mas não em 1975). A professora, uma moça muito bonita, de olhos verdes, fuzilou:
- Antonio, feche essa camisa menino!
- Tô cum cavor, fessova! Respondeu ele num tom debochado. E a camisa continuou aberta, ninguém ligou. Estranhei. Em São Paulo, no Caetano de Campos, isto seria inadmissível. Talvez o processo de desmantelamento da educação começasse ali, uma nova modalidade de ensino, com talvez mais "liberdade" para o aluno, teorias quiçá engendradas por educadores a la Roberto Freire e tutti quanti.
Não lembro como, mas fiquei próximo do Antonio, e cada vez que ele falava eu desatava a rir, acho que ele nunca soube o porque. Na boca dele esta frase saíria assim: " O candidato Vuís Inácio Vuva da Silva sevía um cava muito vegal se não fosse aqueva barba."
Era briguento, e cada vez que ele falava "desci o cacete naqueve cava" eu dava uma gargalhada. "Esse cava é vouco, fica rindo a toa, cava mavuco do cavalho!"

Certa vez, por um motivo fútil o Antonio parou de falar comigo "ou favar, como eve divia", e passou a andar com o Miguel, este foi o primeiro cara que se tornou meu amigo, pois ambos éramos estranhos ao Planalto Central, ele era pelo menos dois anos mais velho que nós, repetente, um indivíduo burrão e de grande porte, mulato sarará, com cabeça, mãos e pés enormes, desproporcionais ao resto do corpo, filho de militar. Ele e o Antonio não se davam por sei lá que motivo, deve ter ficado enciumado quando me via conversando com seu desafeto e se afastou. Os dois se associaram para me encher o saco. Davam ombradas quando passavam por mim no pátio, pisavam no meu pé, barravam minha entrada no banheiro e bobagens deste tipo. Depois cansaram e voltaram a falar comigo, cada um a seu tempo. Coisas de garotos.
Um fato que merece registro é que no período que ainda residia no Brasília Pálace Hotel, certa tarde, convidei o Antonio para tomar banho de piscina comigo. Como ele tinha um aspecto de menino de rua, o segurança do hotel e o maitre se manifestaram contra, eu disse que ele era um amigo da escola e a contragosto, permitiram. Apesar de ser bem maior que eu, dentro d´agua o cara pareceu encolher de tamanho, ficando sucetível às minhas brincadeiras, tinha medo de se afogar no raso.

Aquele ano acabou e eu continuei no ano seguinte na Escola Classe 104 Norte. O Miguel foi para o Colégio Militar (sabe-se lá como) e do Antonio nunca mais tive notícias. Mas o seu jeito próprio de se expressar o manteve em minha memória, tanto assim que aquele dálmata que aparece em "ZÉ GATÃO - PINTURA DE GUERRA", fala com a mesma dicção que ele.

É isto amigos e amigas, hoje não teve desenho, mas na próxima terá, se Deus quiser, como diria meu coleguinha Antonio, "a gente vai se favando, até qualquer hova". 

O QUE ANDO LENDO, ASSISTINDO E OUVINDO.

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Quase não tenho tido tempo de ler ou mesmo assistir um bom filme. Hoje os tempos são outros, e olhen que não tenho filhos pequenos. O trabalho toma quase todo os meus dias, de domingo a domingo, mas ainda dá para ouvir boa música. Acabo de concluir as ilustrações de "A Luneta Mágica" do Joaquim Manoel de Macedo e já engato na "Uma Véspera de Reis" do Arthur Azevedo. Claro que tenho que ler esses livros para fazer as artes, mas isso não conta exatamente como prazer, uma vez que não tenho como saborear as palavras como é do meu agrado. Tem vezes que passo uma vista d´olhos na página e o editor sugere umas imagens. Mas leitura é algo que me obrigo, seja em que tempo for.
Atualmente só consigo ler em coletivos ou em salas de espera de consultórios médicos.

Estou no finzinho de "Tribulações De Um Chinês Na china" do Júlio Verne. Muito bom, e mal consigo imaginar o destino de Kin-Fo. Há trechos enfadonhos é verdade, quando Verne, talvez para dar uma visão mais clara ao povo ocidental da arquitetura, trajes ou mesmo costumes da China, faz descrições minuciosas, mas isto não tira o brilho da prosa deste fantástico escritor. O único outro livro dele que tive o prazer de ler foi Viagem Ao Centro Da Terra, ainda na adolescência.


Uma boa história em quadrinhos não pode faltar, mas estas eu leio na prancheta mesmo, nos intervalos que me obrigo entre uma arte e outra, vou absorvendo assim, a conta-gotas.

Acabo de ler a edição completa do Vira - Lata. Legal. A primeira história ainda é a melhor, o resto, é didática demais e quebra um pouco o rítmo, mas entende-se, sua função nas demais narrativas era educar os presos do Carandiru quanto ao sexo seguro. Um bom quadrinho nacional apesar do preço salgadíssimo.


 As restantes foram emprestadas por um amigo. Vamos a elas:

Mulher - Gato, Cidade Eterna.
Não tenho mais paciência pra gibi de herói, mas como a Selina Kyle é uma vilã, resolvi dar uma colher de chá. Putz, gostei bastante. Tá certo, poderia ser mais dark, mais violenta, a história pedia isto, mas não posso me esquecer que quadrinhos mainstream produzidos nos EUA, tem seus limites. Mas o roteiro do Jeph Loeb casa perfeitamente com a arte do Tim Sale, um artista que consegue muito bem detalhar as cenas com pincel.


Quem me conhece bem sabe que não sou chegado em mangá, mas Monster do Naoki Uraswa realmente merece uma leitura atenta, só não teço comentários mais detalhados pois a saga toda parece ter 15 edições e ainda estou lendo a terceira. Nada é o que parece na história. Gosto disso.
Do mesmo autor, li a primeira parte de 20 Century Boys, e estou gostando.



O último filme que vi no cinema foi o novo 007 - Skyfall, é bom, diverte, mas com o Daniel Craig ainda prefiro Cassino Royale.

Ma tv, semana passada eu e Verônica terminamos de assistir a quinta temporada de Dexter, de todas, a mais fraca, mas inda assim segura a onda, afinal este serial killer que só mata assassinos violentos, está sempre a um passo de ser pego, e os minutos finais são de tirar o fôlego. Mal posso esperar pela próxima temporada.


Como muita gente sabe, só ouço música da década de 70 para trás (tá, alguma coisa dos anos 80 também), atualmente estou ouvindo Roy Orbinson de novo. Sabem, estou convencido que o velho Roy só não fez mais sucesso que Elvis porque não era bonito. Acho que disse tudo.


Bem, por hoje basta.

O MISTERIOSO CASO DOS LOBISOMENS GIGANTES ( CENA 04 )

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Amadas e amados, depois de um longo inverno meus lobisomens gigantes voltam a dar o ar de sua graça. Esta peça demorou mais um pouco, pois inicialmente eu a tinha feito numa outra técnica, porém, meu scaner quando deu um probleminha fui me servir dos préstimos de uma lan house, no percurso aproveitei para cuidar de outros assuntos, um deles era ir ao mercado comprar algumas coisas. Eu acho que esqueci o envelope com a arte no balcão do caixa na hora de pagar, pois é a última lembrança que tenho dele. Quando dei pela falta, voltei correndo ao local. Tarde demais. Ninguém sequer lembrava de ter visto o tal envelope. Ainda voltei no dia seguinte pra ver se alguma boa alma tinha encontrado e deixado na gerência. Nada. Junto, foi-se um livro muito bom sobre mitos brasileiros que o Douglas da Devir tinha me presenteado. Vocês não podem imaginar como é frustrante uma coisa destas. Perder um original só não é mais doloroso que perder um filho na multidão.
Mas, bola pra frente, com a ideia na cabeça, recuperado do stresse (muitos meses depois) resolvi colocar tudo no papel de novo, mas desta vez com outro material.
Quis evocar desta vez, com cor, um pouco mais o clima dos monstros do mestre Ray Harryhausen. São os meus voos de fantasia, como costumo chamar.
Bom final de semana a todos.


SENHORA ( 02 )

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Mais alguma artes criada para o livro "Senhora" do José de Alencar pra começar a semana.
Olhando hoje, depois de tanto tempo, estes desenhos paracem muito formais, pouco inspirados.
Já disse aqui outras tantas vezes que procuro para cada narrativa, dar um tom através do traço, que traduza minhas impressões sobre o tema, e para mim, os livros do Alencar me trazem essa sensação de emoções (sejam quais forem) elevadas a enésima potência de forma um tanto forçada. Não considero aqui estilo ou época em que tais obras foram criadas, simplismente é o que fica impresso em minha mente ao ler suas palavras. No meio disso, penso que não dei o tratamento devido à obra. Mas estas, infelizmente, são coisas que só se percebo muito tempo depois, quando as ilustrações estão impressas e mais nada pode se fazer a respeito. 



Boa semana a todos.

CADERNO DE ESBOÇOS ( 01 )

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Acontece assim: as vezes sobra um pouco de nanquim no recipiente e eu para não desperdiça-lo pego um pincel e sigo espalhando tinta, sem esboçar, nem nada. O que sai são coisas deste tipo. Há quem goste, dizendo que são traços bem naturais.


Sketchbooks estão na moda, tem artistas que juntam um monte de esboços num caderno e depois publicam em livros de tiragem limitada que são disputados a tapa. Eu mesmo gosto bastante, mas nunca comprei nenhum, são caros pra cacete!


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