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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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TUDO PASSA. TUDO PASSARÁ.

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Eu já tentei ter uma boa visão de mim mesmo. Juro. Não consigo. Tento não me encarar no espelho e muito menos pensar a respeito. Não é que eu me ache exatamente feio, é mais como se eu não aceitasse a minha fisionomia, algumas expressões me soam como imbecis demais, a face de um retardado. Não sei dizer a razão mas isto vem de muito tempo, quando menino eu tirava fotos (o que era raro, fotos não eram como hoje) e não conseguia me olhar nelas, eu queria ter os olhos diferentes, outro nariz, outra boca. Eu lembro que meus primos sempre me zoavam, dos pés à cabeça, não sei se isto contribuiu de alguma forma para esta auto aversão à minha pessoa. Se eu pudesse usaria uma máscara quando fosse para a rua, quem sabe assim a tristeza que as vezes me alcança e me abraça apertado, não me encontrasse.
Minha voz é outra coisa que não suporto ouvir fora da minha cabeça. Os doutores devem ter um nome para esta patologia. Agora que vou ficando velho isto já não importa mais.

Mas mesmo assim já tive meus amores, belas garotas já estiveram em meus braços. O amor sempre sangrou meu coração e deixou cicatrizes, isto nunca foi fácil para mim, sempre tive medo de me envolver além da conta e perder o controle da situação, e geralmente eu perdia, eu sempre terminava chorando. O Bukowski definiu o amor como um cão dos diabos, acho que confere.

Mas sabem, se não fossem estas experiências talvez o Zé Gatão nunca tivesse sido criado.

E falando nele, a campanha no Catarse para a republicação do álbum editado pela PADA não vingou. Eu diria que foi um fracasso monumental apesar do esforço hercúleo do amigão Leonardo Santana (roteirista de quadrinhos e membro da PADA) e da querida Mira Werner em divulgar diuturnamente o projeto.
Na verdade não foi surpresa, eu imaginava que não fosse dar certo, mas pensei que pelo menos chegaríamos perto de 50%. Qual o quê!
Isto só vem provar que meu universo antropomorfo cheio de ultra violência temperado com filosofia de boteco não é mesmo popular. É uma pena pra mim que não poderei mais produzir HQs de Zé Gatão para um público mais amplo.


Mas vamos em frente. Eu continuo produzindo quadrinhos encomendados e capas para livros. Não posso me queixar e só tenho a agradecer a Deus.

Os rabiscos de hoje são sketches que faço nos álbuns do felino.

Beijos a todos.













A ESCRAVA ISAURA ( CENA 3 )

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Mais um dia de trabalho duro, mais um dia navegando no mar bravio e tirando a água de dentro da canoa. Isto me impediu de estar aqui mais cedo e com um texto mais animador. Mas me esforço para deixar com vocês, meus queridos, algumas palavras e uma arte.

Estamos bem, seguindo a rota. O porto ainda não desponta no horizonte, mas estamos com os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé.

O desenho de hoje é mais um momento da Escrava Isaura.

Beijos a todos e até a semana que vem, querendo Deus.


OLHANDO PARA OS MONTES.

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Senhor, onde estás?
Deus grandíssimo, impossível de mensurar e explicar, que a tudo criou e mantêm sobre controle, o que sou eu? Apenas um pedaço de carne sustentado por ossos, com alguma consciência e que tem a pretensão de ser algo além disso?
Tem misericórdia de mim, ó Deus, pois a vida é breve por demais, tão fugaz quanto a nuvem levada pelos Teus ventos e eu me vejo num labirinto escuro. Existe saída?
Que triste mundo é este, meu Senhor, onde necessito de um pedaço de papel pintado para provar que eu sou eu e onde o dinheiro, outro papel pintado, determina que um é melhor que outro?
Onde está o amor, esta flor bela e delicada, mas tão frágil que morre ao som de uma palavra mal colocada, mal interpretada, que se transmuta em indiferença ou ódio? Existe? Bem sei que o amor só reside em Ti e ele foi manifesto na Pessoa de Jesus, que é um contigo, o resto é ilusão. Feliz daquele que cedo aprende esta verdade e foge do laço e armadilha.
Bem sei que não sou digno que olhes para mim, Senhor, mas a minha estrada da vida se encurta e o fim pode estar em qualquer esquina, com Tua poderosa mão sustenha firmemente a minha, pois sem Ti não posso caminhar.
Senhor, não te escondas de mim, por favor.





A MORTE DO ZÉ GATÃO.

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Eu acredito que toda boa história deva ter um começo, meio e fim. Nascemos, vivemos e morremos. Deveria ser assim também com personagens fictícios? Eles devem perecer? Talvez sim, porque não? Eu, particularmente nunca fui muito fã dessa história de matar, pode parecer romântico demais da minha parte mas quando você cria um herói de papel você está dando uma alma a ele, uma personalidade, uma vida. Eu me apego a certos personagens. Fiquei triste, muito triste com a morte da Gwen Stacy, a namorada do Homem Aranha, até hoje acho que aquela menina nunca deveria ter morrido, poderia até ter sido a tia May, mas não a Gwen.
Na literatura, Conan Doyle matou o Sherlock Holmes, não  deveria ter feito, afinal, cedendo à pressões editoriais teve que ressuscitá-lo. O Robert Crumb matou o gato Fritz, uma história boa mas com um desfecho totalmente sem glamour (talvez tenha sido proposital). O Angeli matou a Rê-Bordosa. Nos quadrinhos de heróis as personagens vivem morrendo e voltando da morte, já não tenho mais paciência para isto.

Eu nunca pensei em matar o Zé Gatão, só que certa vez eu estava me afogando em uma  depressão que parecia não ter fim, a ideia de suicídio me perseguia a todo instante, como uso o felino como válvula de escape, imaginei uma HQ bem barra pesada, onde ele era amaldiçoado por uma bruxa, um mago ou algo assim e teria sete vidas, seriam sete histórias bem cascudas onde ele deveria morrer tragicamente no final de cada uma, sempre retornando da morte na hq seguinte. Como minhas narrativas, embora fantásticas, tem um pé bem fincado na realidade, eu achei que tudo isso seria irreal demais e por outros motivos que não convém declinar aqui eu nunca desenvolvi um roteiro, jamais coloquei no papel e também, confesso, me faltou coragem para submeter o gato a tais torturas. Engavetei a ideia como aconteceu com tantas outras.

Mas existem personagens que morrem sem que ninguém os tenha matado, como o Fantasma, o Mandrake, Rip Kirby e tantos outros, pois caem no ostracismo, fenecem na memória do público e são lembrados apenas por saudosistas como eu. Melhor teria sido se tivessem tido um final glorioso onde sempre fossem lembrados por este último ato heroico? Fica a dúvida.
Para quebrar meu argumento alguém poderia dizer que estes protagonistas continuam sendo publicados nas tiras de jornais, como o Príncipe Valente e Flash Gordon; pode até ser, mas são sucesso ainda? Outros dão as caras em edições especiais ou revivals, mas competem em pé de igualdade com X-Men e Batman?

No caso do Zé Gatão ele não é um personagem de sucesso, acho que nunca será, depois de tanto esforço da minha parte ele ainda é um completo desconhecido, o número de pessoas que o conhece e gosta é reduzido demais. Na verdade, me corrijo, acho que ele é até conhecido, mas não lido, não compreendido. Já vi idiotas discutindo o assunto na internet, sempre levantando a bola de que o nome é pouco comercial, ridículo, até, e o aspecto macho da obra é uma forçação de barra; teve quem afirmasse que ele é a junção de outros personagens como o gato Fritz e o Leão Negro. Outros detestam animais humanizados ou simplesmente não gostam de mim.

Não sei, é bem possível que Zé Gatão esteja sepultado sem que eu tenha dado um fim à sua vida. Tivemos cinco álbuns e vários contos publicados neste blog e isto me fez pensar que ele teve uma vida plena. Acho que não teve. Acontece. E se ele morreu (ou desapareceu, dá no mesmo quando se trata de um personagem de quadrinho) vai continuar defunto porque a possibilidade de novas edições é remota. As editoras hoje só publicam o que é venda líquida e certa, não se arriscam mais. O financiamento coletivo não se mostrou uma via de acesso e não tenho grana para me auto publicar.

Talvez ele viva para mim e mais uma meia dúzia que goste bastante dele se eu puder fazer mais algumas aventuras, mas seria como ele viver num cativeiro, como tantos animais em via de extinção.












MAIS UMA ENTREVISTA.

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Fizeram mais algumas perguntas para este vosso desenhista, respondi com a sinceridade de sempre.
Quem quiser dar uma conferida, é só acessar o link:

http://www.desenhoonline.com/site/eduardo-schloesser-em-entrevista-exclusiva-ao-blog-desenhoonline-com/

Há muito o que dizer mas ainda tenho que cuidar de algumas artes urgentes, então fica, quem sabe, para a próxima semana.

Até lá, se Deus quiser! Cuidem-se!


A ESCRAVA ISAURA (CENA 4)

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Hoje foi um daqueles dias que passou eu nem percebi. Foi um dia bom, sem incidentes, não há credores batendo na porta, tudo está em paz. Há trabalho, mas me sinto improdutivo. Tenho levado muito tempo para concluir uma ilustração. A gente envelhece e pensa que o artista está no melhor de sua fase, produz a melhor música, pintura ou poesia, em tese é assim, afinal ele adquiriu experiência, viveu muito, amou, decepcionou-se, reagiu, o abismo não o tragou e ele ficou mais forte, mais sábio, produz o fruto da sua vivência. Não é assim comigo, ou eu sou uma farsa, como sempre desconfiei, ou há algo muito errado. Me sinto velho, cansado, mastigado, sugado e cuspido, meus desenhos atuais me soam sem força, sem emoção, sem vida. Nem meus sketchbooks (nome elegante para uns caderninhos vagabundos de desenho) tenho tido coragem de prosseguir fazendo. Olho para o branco do papel e me vem um embotamento e há prazos a cumprir. Alguns dirão: "é uma fase, vai passar". Pode ser, já tive momentos assim, mas nunca duraram tanto. Outros acrescentariam: "você precisa de umas férias". Verdade, queria muito sair um pouco da rotina, não pensar em prazos ou responsabilidades. Mas é impossível largar tudo. Há uma guerra em andamento, eu sou soldado e general do meu exército, não posso abandoná-lo, pessoas dependem de mim. Não sei. Durmo e desejo não acordar. Acordo e respiro fundo e tento me encher de coragem para encarar o dia.
Claro, eu penso assim por que não sou uma das vítimas de guerra da Síria, não perdi familiares em acidentes trágicos, não sou vitimado pela seca do sertão nordestino. Eu tenho consciência de que sou mimadão, tenho muito e pareço dar pouco valor. Mas saber que sou um bem aventurado no que diz respeito a ter o básico necessário para vida (a custa de muito trabalho, insisto) não diminui esta tristeza que me abate de vez em quando e me faz ter a coragem de verbalizar aqui.
Meu irmão é médico, vê pessoas morrerem todos os dias. Uma amiga minha é enfermeira na Alemanha e me disse a mesma coisa. Pensando sobre isto, a mente fica turbada, mas sabem, nada que eu já não soubesse e a Bíblia já não tivesse alertado em quase todos os livros que a compõe.

Conclusão? Nenhuma. Apenas mais um dos meus desabafos. Como sempre resta somente o prosseguir. Sempre em frente.
                                                          
Mais uma imagem para A Escrava Isaura.

ZÉ GATÃO - O FOSSO.

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Tudo relativo ao personagem Zé Gatão está parado, suspenso, congelado.
Um motivo para isto (o principal) é que não tenho tempo para produzir material novo, seja um conto, uma arte e muito menos uma HQ. E também, com o total descaso do público em relação ao último livro (ZÉ GATÃO - DAQUI PARA A ETERNIDADE) e o fiasco da campanha para a republicação daquele especial PADA, confesso que fiquei desmotivado. Queimar os neurônios numa nova saga cheia de ação e banhos de sangue (como pretendo que seja a próxima aventura - já tenho o roteiro completo pronto) para depois levar anos para publicar, e quando o fizer, não ver a coisa decolar, desanima um bocado.

Contraditoriamente, eu tenho muita vontade de criar novas aventuras, possuo várias ideias forçando a porta da minha cabeça querendo sair. Três histórias mais longas, pelo menos, eu vou me esforçar para colocar no papel. Para vocês terem uma ideia, existe um álbum de hqs curtas do gato - 80% delas são inéditas, as restantes já deram as caras na web - tá prontinho faz uns bons anos. Quem sabe não lançam postumamente?

Uso o personagem como forma de desabafo, como um comprimido contra a depressão ou (mais de acordo) um laxante. Com  ele e seu universo violento eu posso contar vários tipos de histórias, que vão do puro escapismo ao que costumo chamar de forma bem pretensiosa de existencialista.


A arte de hoje foi elaborada a pedido do lendário editor e amigo, Leandro Luigi Del Manto para um card game. É quase uma releitura de uma obra do mestre Caravaggio, na qual me inspirei.

Esta seria uma das aventuras escapistas que nunca foram para o papel. Neste tipo de narrativa eu imagino o felino taciturno como um herói pulp, um explorador, num estilo Doc Savage, sempre com a camisa rasgada, enfrentando mil perigos.

Tenho vários esboços para pinturas descompromissadas como esta, aos poucos vou dando vida a elas, enquanto não consigo voltar a trabalhar nos meus saudosos quadrinhos.

Fui.

A ESCRAVA ISAURA (CENA 5).

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Fazia tempo que a gripe não me pegava. Ontem (sábado) foi um dia daqueles. Acordar muito cedo, retirar o parco dinheiro de um trabalho muito custoso, fazer compras do mês, encarar filas, calor e sol brutal. Chegando em casa suando em bicas ligo o ventilador para sentir a refrescância (isto pode ser fatal). Penso que a perpétua pressão que sofro tem baixado as minhas defesas. Falam que gripe é doença de pobre. Logo meu corpo se recupera, eu vou tentar colaborar com ele tomando bastante água e me alimentando bem (nada posso garantir quanto ao repouso, se eu paro um dia, a roda deixa de girar).

Um breve comentário aqui sobre a produção de quadrinhos (again). Eu costumo dizer que criar HQs é tarefa de um masoquista incurável. Sempre falei por mim, mas tive a certeza que acontece com todos lendo o livro "Marvel Comics - A História Secreta". É uma tarefa inglória principalmente em países onde não existe mercado, inexiste público consumidor do seu produto, não há investimento nem divulgação, tampouco editoras que se arrisquem em obras que não tenham pedigree. Porque fazer quadrinhos que quase ninguém lê, nem dá a mínima? Só pode ser por muito amor à coisa, e aí me vem uma metáfora: o cara que investe em narrativas gráficas no Brasil é como aquele sujeito que ama uma mulher que o despreza. Ela diz ao infeliz que não o ama, desfila na frente dele com outros, mas ele continua mandando flores e presentes na esperança de que um dia ela reconheça que ele é o homem de sua vida, mesmo sabendo lá no fundo que tal não acontecerá.

Reflito muito sobre isto. Porque faço o que faço a essa altura da vida? Já publiquei os álbuns que queria, mesmo que não tenham tido sucesso. Porque continuo? Para deixar algumas obras póstumas? Seria uma reposta, mas não faz sentido. A razão eu já esmiucei aqui - HQ é minha única forma que tenho de desabafar devidamente, mas só seria viável se publicada, fazer para deixar guardado é como conversar com um poste.

O que me levou a falar sobre isto mais uma vez foram duas postagens feitas por uns amigos do Facebook que vi por acaso. Na primeira, o colega perguntava: "Você compraria produtos licenciados de personagens dos quadrinhos brasileiros?" O que me chamou a atenção foram as respostas (teve muitas!). Ninguém dá a menor bola para o que é produzido aqui, as HQs tupiniquins são tratadas com desprezo e escárnio. Claro, exceções feitas sempre aos mesmos, os tais medalhões que brilham de longa data.

É chato falar, mas o principal responsável pelo insucesso das obras nacionais na minha opinião é o público que sempre se mostra viciado no que vem de fora e é preconceituoso em relação ao que se faz em sua terra. O cara não leu e não gostou. "É quadrinho feito por brasileiro? Não quero nem saber!"É lógico que tem muita porcaria sendo lançada com acabamento de luxo por editora de renome, gibis superestimados de carinhas que acham que inventaram a roda e não entendem nada de narrativa gráfica, anatomia, perspectiva e etc, mas envernizam seus projetos com a desculpa que o traço é expressionista. Mas em contrapartida temos autores e obras que são sensacionais, mas ainda permanecem como pérolas jogadas no meio do cascalho.

Na segunda postagem o feicibuquiano perguntava na seca: qual o seu desenhista brasileiro de HQs preferido? Eu já sabia o que diriam as inúmeras respostas: artista fodões que trabalham para a Marvel e DC.

É isso, pura e simples, quadrinho nacional nunca vai dar aquele passo além.

Ok, senhor Eduardo Schloesser, o senhor tá com dor de cotovelo por que seu nome nunca é citado como um dos fodas do meio, tampouco suas obras são comentadas e quando são, pelos ditos entendedores do assunto, é sempre de forma dúbia. Eu digo que não é isso. Eu tenho o meu público, que de tão pequeno, não me permite viver disso, mas que de tão especial, faz toda a diferença no meu ego.
O que eu lamento é que personagens legais como a Mirza, Velta, O Judoka, o Raio Negro, O Morto do Pântano, O Garra Cinzenta, sejam tão pouco conhecidos, e obras como Zoo, Zona Zen, O Cabeleira, FDP, Wander, Herói Por Que Sim, O Hotel do Terror, A Revolta Da Chibata, Fantasmagoriana e muitas outras, hoje ainda, sejam totalmente desconhecidas da maioria dos leitores brasileiros de gibis.

Fecho com mais uma imagem de A Escrava Isaura.



MAIS UMA BELA HOMENAGEM.

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Meu barco continua no meio do oceano. As velas não se agitam, não há vento que me leve a um porto seguro, a nau continua parada, balançando ao sabor das águas. Menos mal, pelo menos não há tempestades e ventos furiosos.

Esta semana tive a grata satisfação de receber a homenagem de um artista muito talentoso, o cartunista Evandro Luiz. É sempre muito bom saber que outros feras do traço admiram meu trabalho.
Ele criou esta divertida charge.


Valeu mesmo, Evandro! Fiquei feliz!

Para conhecer mais um pouco sobre ele é só acessar a página dele no Facebook:
https://www.facebook.com/Evandro-Luiz-Cartunista-318069661929570/?pnref=story

Eu continuo batalhando em cima da HQ "O Bicho Que Chegou À Feira". Mais um pouco e eu termino o capítulo quatro.
Aqui tem uma mostra de como ela está ficando.


Abraços e beijos para vocês e se tudo der certo nos falamos de novo na próxima semana.
Até lá!

O TEMPO EM QUE VIVI TEMENDO QUE O CÉU DESABASSE SOBRE MINHA CABEÇA.

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Amadas e amados do meu coração, boa noite.

O título da postagem de hoje não quer dizer que eu me sinta um gaulês (entendedores entenderão), mas faço uma recordação de certo tempo em Brasília. Eu já não suportava mais viver em São Paulo, aquilo estava me enlouquecendo. Era o ano de 1998, e um um amigo, recém conhecido, fez a sugestão de eu voltar a Brasília, não importava que eu não tivesse suporte, ele me ajudaria, como pudesse, a arrumar um emprego. Em tempos anteriores em que voltei para visitar meu irmão (que ainda residia lá) eu tinha recebido vários convites de velhos amigos para me hospedar na casa deles. Liguei para um em particular, por quem nutria grande afeição, falei do meu intento e ele disse: "venha, aqui você tem um lugar." E acrescentou: "você vai me decepcionar muito se voltar atrás!" Munido de certa coragem eu decidir arriscar tudo mais uma vez. Conversei com minha mãe e filha (nesta época ela era uma adolescente e morava comigo). Apoiado por elas e meus dois outros irmãos eu fiz as malas levando algumas roupas, uns livros e material de desenho e pintura. Não disse nada ao meu pai, eu queria evitar um possível conflito.

A Verônica tinha voltado para Pernambuco em 1997, nossa relação se deu à distância, sempre usando telefones públicos e fichas em todo este tempo.

Cheguei na Capital Federal otimista e com apenas uns 30 reais no bolso.

Devo sublinhar aqui que meu irmão que morava em Brasília vivia um momento delicadíssimo em sua vida e eu não iria ser um peso extra em sua amarga existência. Por isto não fiquei na casa dele. Fui até o amigo que jurou abrigo ao telefone. É nestas horas que a gente vê como é duro viver de caridade. A princípio, tudo correu bem, mas foi só nos primeiros dias. Eu tinha como meta ser o menos pesado possível, por isto só chegava na casa dele na hora de dormir. Ele morava com uma magricela e brigava com a moça o tempo todo, até batia nos cachorros dele. Sou meio debiloide e a ficha comigo demora a cair, mas notei que toda aquela agressividade foi porque havia um intruso ali - EU - e ele fez tudo o que pode para me expulsar sem usar as palavras. Entrar em detalhes demoraria e eu iria parecer exagerado, além de reviver humilhações que me doem lembrar.

Durante o dia eu saía a procura de emprego, as vezes sozinho, a pé ou de ônibus, as vezes de carro com o conhecido que me prometeu auxílio nesta empreitada. Meu irmão me dava dinheiro para eu comer. Fui em muitos lugares, agências de emprego, agências de publicidade e até em supermercados para ver se trabalhava como cartazista. Nada!

Meu irmão me chamou várias vezes para eu ir para a casa dele, mas eu queria evitar a todo custo sua mulher, que na época, me detestava. Como disse, ele não vivia bem e minha presença só faria abrir ainda mais uma ferida já gangrenando.

O tal "amigo" por fim conseguiu me por pra fora da casa dele certa noite e eu só não dormi na rua porque o Ricardo Bermudez, um brother que era músico, me acolheu na ocasião. Foi aí que um antigo colega do SENAC me convidou a ficar com ele até que eu conseguisse algo. Aceitei. Ele morava na Ceilândia, uma das cidades satélites de Brasília, um lugar muito longe que dificultava ainda mais a procura por trabalho.
Ali fiquei bem, apesar daquela eterna sensação de ser pesado, de estar invadindo espaço alheio. Ele chegava muito tarde do trabalho e era gentil em trazer pizza, lanches do Mac e essas coisas para mim de vez em quando. Uma grande alma. Não cito o nome dele aqui pois acho que ele não iria gostar.


Nesta época eu só tinha o primeiro  álbum do Zé Gatão e parte do material que comporia o segundo. A história "NADA PESSOAL" eu criei ali, na Ceilândia.
Teve episódios tragicômicos em meus trajetos entre o Plano Piloto a aquela periferia, mas não estou com paciência para os detalhes.

Continuava usando os orelhões e cartas para me comunicar com a Vera.

O trem não andava. Nada de emprego. Eu já estava desistindo, devia mesmo voltar à São Paulo, ao caos cotidiano, aos fantasmas opressores do lugar, até que uma luz no fim do túnel surgiu. Um cara de uma comic store tinha falado de um workshop na UNB para recrutar artistas de quadrinhos para trabalhar numa empresa que estava se formando. "Me diga, por favor, como faço para entrar em contato com os responsáveis." pedi ao cara. "não vai adiantar, isto foi na semana passada, o quadro já está completo", me respondeu ele. "Vou tentar mesmo assim!""Fale com o Lima." O Lima era um desenhista que trabalhava com ele e tinha passado pelo crivo dos caras da tal empresa. Perguntei a ele e consegui um telefone. Falei com uma moça apática, ela me deu um endereço que ficava no setor hoteleiro norte.

No lugar, de posse do meu portfólio, fiquei esperando para falar com o big boss. A moça apática era a secretária e já havia me advertido que o quadro de desenhistas estava completo. "Falo com ele mesmo assim, se não for hoje, volto amanhã ou depois de amanha e ainda depois, se preciso for," afirmei.  
Fui atendido primeiro pelo gerente de produção, um negro arrogante que mais tarde eu descobriria que não passava de um bosta. Ele não ligou para as imagens do meu portfólio mas se impressionou com álbum branco do Zé Gatão. Pegou o livro e pediu para eu esperar um instante e entrou numa sala. Voltou uns minutos depois e pediu para eu entrar. Me deparei com um cara de meia idade, grisalho, baixinho de olhos verdes, bem apessoado, muito eloquente e disse que nem precisava analisar minha arte, bastava ele por a vista em mim para saber que eu tinha talento e caráter (tá! pensei ironicamente). Ele estava dando início ali a uma empresa que rivalizaria com a do Maurício de Souza Produções. Ok, disse a mim mesmo, isto é muito interessante, mas e a porra do emprego?
Como se lesse minha mente ele falou que me queria no setor de quadrinhos instrucionais. Contudo, eu só começaria em abril, quando seria inaugurada a nova sede da empresa. Nós estávamos, se não me falha a memória, no fim de fevereiro.

A secretária apática me deu endereço e telefone do novo lugar e era para eu estar em abril, sem falta, lá.

Ainda tive um mês para amargar, sem eira nem beira, pelo Planalto Central.

A minha estada na casa do amigo do SENAC acabou logo, a mãe dele vinha visitá-lo e ficaria lá por longo tempo.
Saí de lá e fui incomodar meu amigo Luca e sua esposa Lurdes. Depois fiquei na casa do Ariel, um conhecido de infância, cuja mulher, que antes era toda sorrisos comigo e muito simpática quando me via, passou a me olhar como se eu fosse um cagalhão fresco caído no tapete da sua sala. Tudo aquilo foi demais para mim, engoli a seco o meu orgulho e fui ao meu irmão. Fiquei na casa dele, e foi o melhor período. Eu devia ter ficado lá desde o princípio.

Como eu comecei na Mix Comunicação é uma narrativa que ficará para uma futura postagem. Por hoje chega de reminiscências.

Só encerro dizendo que hoje, com tudo o que tem acontecido, parece que o céu ameaça desabar sobre a minha cabeça de novo. É uma sensação estranha, mas eu sei que a solução virá. Deus é Deus e Ele tem o tempo certo para tudo.

Os rabiscos de hoje, claro, são aqueles feitos para os fãs do Zé Gatão.

Até a próxima e fiquem bem.












LOGAN.

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Cansaço de fim de domingo. Foi um dia agradável - de trabalho - como sempre, mas bem produtivo. Concluí uma arte que precisa ser enviada amanhã pela manhã para a editora pois o livro entra em gráfica na terça-feira. Isso não muda nunca, um valor baixo (sempre vou reclamar disso) para uma ilustração que tem que ser executada a toque de caixa com o padrão Schloesser de qualidade. Mas tudo bem, é o que tenho no momento e preciso ser grato a Deus por conseguir pagar minhas contas com a única coisa que presto para fazer.

Não pude mais ir ao cinema, mas a curiosidade de assistir ao último filme do Wolverine foi tanta que assisti pela internet numa qualidade de imagem e de som bem sofrível. Mas sabem, valeu a pena. É um bom filme, Gostei! Claro, está muito longe de ser aquele filme de super-heróis que sonho em assistir, acho mesmo que nunca farão um filme como são os quadrinhos. São universos e linguagens diferentes embora um beba na fonte do outro, mas acho que idealismo e cores são mais aceitáveis nos gibis do que nos fotogramas. A Marvel  tem chegado bem perto com suas produções. Até agora tenho me divertido bastante, torcendo meu nariz apenas para Homem de Ferro 3,  ainda assim tem momentos interessantes. Não posso dizer o mesmo da DC, infelizmente; Batman x Superman pra mim foi uma bomba e o Esquadrão Suicida eu gostaria muito de esquecer que assisti, mas é difícil ignorar um filme tão ruim, só não foi pior por causa do Batman, um personagem que sempre tem algo a dizer, mesmo que não abra a boca.

Eu sempre gostei do Wolverine, cara turrão, atormentado, pavio curto, muito inteligente, que luta para que sua natureza animal não sobreponha à sua humanidade. O Logan dos cinemas me aborreceu a princípio, muito alto, o que descaracteriza o personagem, o herói das HQs é baixinho, bem musculoso e peludo, que ouve e sente aromas como o animal que lhe empresta a alcunha. O das telas tem seu um metro e noventa e é bem mais contido. Mas com o tempo a simpatia e esforço do Hugh Jackman me fizeram aceitá-lo, afinal a gente tem que pensar que  personagens transpostos para uma outra mídia é apenas uma versão diversa. O problema é quando não conseguem manter o mesmo espírito e isto não aconteceu de todo com o Wolverine, na minha opinião.

O primeiro filme dos X-Men é bem razoável, o segundo já melhora bastante, o terceiro deixa a peteca cair. "Primeira Classe"é muito legal (embora o carcaju só apareça numa rápida cena), "Dias De Um Futuro Esquecido" se  esforça e quase chega lá e "X-Men Apocalipse"é uma bosta. Dos filmes solo do Wolverine é melhor nem mencionar o Origens, o Wolverine Imortal (de onde tiraram que ele é imortal? Ele apenas envelhece mais devagar) eu gosto da primeira metade do filme.

Logan, filme que marca a despedida do Jackman do personagem é bem legal, tem suas falhas (e como tem!) mas penso que os acertos pesaram positivamente na balança. Um filme violento, com sangue e mutilações (filme do Wolverine em que ele não decepa membros? Tá de brincadeira!) Esse até pesa nas tintas, mas o mérito dele não está nisto. É um filme triste, que fala sobre velhice e decadência e empurra o dedo na ferida. Charles Xavier sofrendo de doença degenerativa do cérebro, Wolverine perdendo o fator de cura e tomando ibuprofeno. Mistura de faroeste, road movie com super-herói. A mistura me agradou. Deixa um gosto amargo na boca.

                                                           LONGA PAUSA....

A queda na internet não permitiu concluir a postagem ontem (domingo a noite), termino agora.

Tenho vivido dias tormentosos e vou envelhecendo sem a certeza de que o bonde que perdi um dia vai passar de novo (acho que se passar que vai estar lotado). Um filme como Logan cai como uma luva para mim. É como quando você está mal do fígado e toma um chá de boldo para ajudar a vomitar. É desagradável mas alivia um bocado.

O rabisco de hoje faz parte do que eu costumo chamar de Meu Crazy Sketchbook.


O VELHO ALQUEBRADO E UMAS IMAGENS DE UM LIVRO INFANTIL.

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 Quem vos escreve aqui é um homem com uma baita dor nas costas, especificamente na região lombar. Na sexta feita este velho idiota foi depositar um objeto bem pesado no chão e sentiu um choque no cóccix. Aí travou tudo. Eu nem descia e nem subia o tronco, Como não sou de pedir água, trinquei os dentes, apoiei as mãos nos joelhos e lutando contra a gravidade, fiquei ereto. Eu sabia o que iria sofrer pelas horas e dias seguintes. Tomei o último Tandrilax e fui à rua pois precisávamos de leite em casa. Na ida e volta do mercado eu andava com se tivesse uns 200 anos mal vividos. Mancando, como se algo afiado arranhasse internamente minha nádega esquerda e uma mão perversa espremesse meus testículos. Entrei em casa e a dor me disse: "Ok, filho da puta, fui legal com você enquanto cê tava lá fora, aqui dentro cê é meu!" Ainda tinha umas obrigações com uma página do quadrinho "O BICHO QUE CHEGOU À FEIRA" e me sentei para dar os retoques na folha. Meus quadris parecia sem lubrificação, cada movimento era um choque doloroso que irradiava pelas pernas. Me levantar da cadeira exigiu um esforço monstro! Estou fodido, pensei.
Tomar banho foi um suplício, principalmente lavar os pés. Me enxugar idem. Me deitei sobre uma toalha no chão da sala e coloquei gelo. enquanto sentia o meio das costas ficar dormente eu pensava: "Oh, Deus, estamos quebrados de dinheiro, eu não posso parar de trabalhar, esta HQ já demorou demais! Tenho que terminar estas últimas seis páginas para pagar as contas!" Quis chorar mas não consegui. Em casa não havia nenhum analgésico, eu raramente tomo remédio, minha esposa tem cefaleias realmente fortes e ela sempre toma dipirona e afins, geralmente não sobra nada.
Eu temia a hora de ir para a cama pois sabia que eu não ia encontrar posição adequada para repousar. Vera fez uma bela massagem com um produto a base de cânfora, me acomodei de lado em posição fetal e adormeci.
Me erguer pela manhã foi angustiante, eu precisava urinar. Vera foi à rua e voltou com comprimidos para a dor. Não gosto de me auto medicar mas ir ao SUS por aqui é pedir para voltar pior. Tentei trabalhar mas vi que era impossível, eu não conseguia ficar cinco minutos sentado, nem cinco minutos em pé. O jeito foi relaxar na cama, sempre mudando de posição de tempo em tempo. O remédio provoca sonolência.


Sabem, assisti faz tempo dois filmes onde os protagonistas de cada um tinham problemas de dores nas costas - por acaso, de dois diretores alemães - e por acaso, achei as duas fitas ruins, uma era do Werner Herzog, esqueci o título; nele o Nicolas Cage, para salvar um suicida, pula num canal, o ato o deixa com sérios problemas de coluna e ele passa o filme todo com cara de dor e viciado em analgésicos. O outro é do Win Wenders, acho que se chamava The Million Dollar Hotel e o Mel Gibson é um agente do FBI (eu penso) que sente tantas dores nas costas que tem que usar um colete especial, passa a película suado e com cara de sofrimento.
Deve ser horrível levar uma vida assim. Hoje já me sinto melhor (mas não tanto), espero melhorar logo, sobretudo porque tenho muito ainda que produzir para continuar vivendo e não ir parar debaixo da ponte (falo sério!).


As imagens de hoje são de um dos tantos livros infantis que ilustrei: O MOEDOR NO FUNDO DO MAR, uma fábula norueguesa.


Até a semana que vem, com melhores notícias, se DEUS quiser!



A ESCRAVA ISAURA (CENA 6)

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Ê, feriadão! Não estão sendo dias auspiciosos, minha lesão nas costas e a obrigação de trabalhar nas páginas finais de O BICHO QUE CHEGOU À FEIRA, tornou tudo mais amargo, repouso é absolutamente necessário neste caso mas eu tive que me virar para não deixar a peteca cair e muito menos comprometer a qualidade do trabalho, lentamente a produção segue; como se não bastasse, uma velho problema no meu organismo, que pensei estar controlado, resolveu despertar. Tudo isso em meio a uma destas crises financeiras que nos socam o nariz de surpresa, impedindo de achar soluções mais eficazes.
C´est la vie! Seguimos o curso do rio, tentando não desanimar. Por isto mantenho este blog e minha página no Facebook, para dar uma satisfação aos que gentilmente apreciam os meus traços e cores nos papéis.

O QUE TENHO LIDO? Para a minha vergonha, confesso que não estou lendo nenhum livro. Não tenho realmente tido tempo. Para não dizer que estou em jejum completo estou lendo uma HQ chamada O PERFURA NEVE, um clássico da BD francesa que acabou virando um filme que nunca assisti chamado O Expresso do Amanhã. O álbum pesadão foi um presente dado pelo amigão Elton Borges Mesquita (gratíssimo brô!) e estou achando interessante, embora a primeira parte do mesmo seja bem superior às duas partes posteriores (pelo menos até agora).

O QUE TENHO OUVIDO?  Eu vou e volto sempre revirando meu velho baú de canções e bandas do passado, nestes últimos dias só estou curtindo Queen. Acho que não preciso dizer mais nada.

O QUE ESTOU ASSISTINDO?  Algo a ver com quadrinhos sempre me chama a atenção, estou na metade da série PUNHO DE FERRO. Na minha opinião, pouco a ver com o herói dos gibis. Tá tudo lá, o acidente aéreo que vitimou os pais do herói, as pessoas que tomaram sua fortuna, o punho que fica iluminado e tal, mas não sei, fora o Demolidor, as séries da Netflix não conseguem fazer justiça aos personagens do papel. Mas não posso dizer que Punho de Ferro seja de todo ruim, Luke Cage foi uma decepção, mas esta até que distrai um pouco. Só acho falta de muitas artes marciais, que deveriam ser o ponto central da série. Até agora é esquecível.

Assisti, baixado da internet a KONG E A ILHA DA CAVEIRA. O que posso dizer? Gosto de filme de monstro, ignorei a história rasa e deixei o menino em mim vibrar com a porradaria entre o gorilão e os lagartões daquela ilha maldita. Os atores? Bah, nem Marlon Brando consegue superar o King Kong!


Bem, a arte de hoje é mais um momento de A Escrava Isaura.

Até a próxima, meus queridos e queridas!










O COMEÇO DO FIM.

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A sexta última (feriado) me encontrou bem cedo diante da UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Depois de uns dias mentalmente e fisicamente bem desconfortáveis eu resolvi procurar ajuda médica no serviço público de saúde. Na verdade, a minha lesão no músculo lombar já estava bem melhor, o que me levava ali era outro problema. Entrei e fui conduzido pelo guardinha até um guichê. Lá uma morena perguntou o que eu estava sentindo, respondi e ela pareceu não ouvir. Pegou meu pulso esquerdo e colocou aquele aparelhinho de verificar a pressão. Estava em 15 - assim, redondo! Depois ela enrolou uma  pulseira de papel de coloração verde no mesmo pulso e me indicou outro guichê. Lá uma mocinha me pediu identidade e digitou meus dados, me levou até um local amplo com muitas cadeiras e várias pessoas sentadas esperando. A UPA estava limpa e bem organizada, o problema é que tem gente demais para poucos médicos e seus assistentes,

Me sentei diante de uma tv, mas não havia programação, só as propagandas sobre o SUS. Pelo menos fui poupado de ver os jornalistas e atores da Globo. Acho que decorei cada palavra do programa de conscientização sobre o câncer de mama. Foi bom, já passei tudo para a Verônica.

Depois de um longo tempo chamaram meu nome. Fui atendido por um médico bem jovem, se bobear não tinha nem trinta anos. Expliquei o que me incomodava e ele replicou me informando o que eu já sabia a muito tempo, o que eu precisava, na verdade, era de alguma coisa para alívio, ainda que temporário, do problema, enquanto eu não me consultava com um urologista particular. Ele pediu alguns exames, um de sangue e outro de urina, dependendo do resultado ele indicaria alguma medicação.

Fiz os procedimentos. A outra morena que colheu meu sangue disse que os resultados demorariam umas seis horas para ficarem prontos. Ok, eu disse, então volto mais tarde para saber o resultado. Ela: "Nããão! O senhor tem que ficar aqui, se sair será "abandono de consulta!" Perplexo, não respondi nada. Posso pelo menos procurar um orelhão para ligar para a minha esposa avisando que isto vai demorar? Perguntei. Detalhe, como vocês podem ver ainda sou do tempo em que se usavam orelhões, não ando com celular. A morena me falou que eu poderia ligar da sala da assistente social, mas que eu teria que esperar pois não havia ninguém lá naquele momento.
Depois fui direcionado a uma sala cheia de gente sentada tomando soro. O que eu fazia ali? O médico prescreveu soro para o senhor. Soro?!? Pra mim?!? Não questionei, sentei-me assim que vagou um lugar. Me furaram de novo e o soro descia em gotas rápidas para as minhas veias.

À minha esquerda, uma jovem que tinha as proporções de um rinoceronte gemia dolorosamente, "Aaaaah! Aaaaaah! Eu...não aguento!" Soube depois que ela sofrera uma lesão na lombar, como eu, dias antes.
À minha direita um rapaz de uns dezoito anos me olhava sorridente, usava bermudas e boné, bigode ralo, falou; "Porra, tomei todas ontem, tá ligado? Quase tive coma alcoólico. E hoje a noite tem mais!"
Eu ouvia a voz de uma mulher em algum lugar, voz alta, falando sem parar, dizia que havia trabalhado muitos anos para uma família, ficou doente e a despediram sem pagar direitos, pensou em colocar na justiça mas preferiu não fazê-lo pois o mundo dava voltas e um dia ela estaria por cima e a tal família por baixo e ela riria deles. Quando ela saiu vi que era uma negra com quase dois metros de altura.
Uma senhora jovem, de uns quarenta anos, excelente aspecto físico, se lamentava penosamente de dor, estava em seu quintal quando foi picada por algo, provavelmente escorpião.
Tudo isso eu ia ouvindo e observando quando notei que um líquido escorria do meu braço e ao invés de entrar soro em minha veia, saía sangue dela para a mangueirinha. Hei, disse para a auxiliar de enfermagem, acho que há algo errado aqui! "Não, falou ela retirando a embalagem de soro do suporte e me entregando, está tudo certo. O soro acabou, o senhor pode sair e esperar lá fora." Mas com isto espetado no meu braço?!? "Sim, se houver alguma medicação receitada pelo médico após o resultado dos seus exames não precisaremos furá-lo de novo!"
Se houve um momento onde me senti de fato velho nesta vida foi aquele, eu segurando o invólucro do meu soro com uma mangueira entubada na veia. Ainda bem que não era uma sonda por onde sairia minha urina ou coisa pior.

Procurei a Assistente Social e pedi para usar o telefone rapidamente. Falei pra Vera que provavelmente eu iria demorar bastante ainda. O restante do tempo eu passava sentado, vendo os anúncios do Sistema de Saúde Brasileiro e indo ao banheiro urinar (meu problema requer ida constantes ao mictório) ou andando pelos corredores do lugar. Muitas mulheres jovens com seus filhos nos braços, infantes chorando e vomitando, idosos em cadeiras de rodas, uma delas não tinha um pé. Diabetes? Possivelmente. Um rapazinho de bela aparência facial, paraplégico, agonizava de dor por algum motivo, uma senhora que estava na sala do soro pedia a Deus que o resultado de seu exame não acusasse apendicite.

As horas passavam e com certo pesar vi o jovem médico que me atendeu ir embora. No final da tarde os resultados chegaram e finalmente meu nome foi chamado por uma médica gorda de rosto e olhos muito bonitos. Olhou rapidamente minha ficha e meus exames e disse que os resultados não acusavam infecções nem inflamações, tampouco vírus ou bactérias. O que me atormentava devia ser algo que só uma consulta com o urologista poderia atestar de fato. Eu já desconfiava. Pedi algo para aliviar meu incômodo e ela prescreveu um Buscopam Composto (estou tomando, não fez muito efeito, até agora).

Um dia inteiro perdido naquele lugar.

A noite tinha chegado. Agora eu precisava batalhar grana para uma consulta particular e os exames que certamente vão pedir. Não posso demorar, cada segundo conta.

Ao voltar pra casa, no asfalto, vi sangue, tripas e ossos esmagados. Pela coloração da calda vi que se tratava de um gambá.

O desenho de hoje é mais um esboço no meu Sketchbook para um fã do felino taciturno.  







A ESCRAVA ISAURA (CENA 07).

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Amadas e amados, o cansaço é extremo. Não posso me delongar aqui. Estou nas etapas finais de uma HQ que era pra ter ficado pronta a uns meses atrás. Existem trampos que são muito acidentados, o que atrasou todo o meio de campo nessa fase derradeira foi a minha lesão na lombar, seguida de uma outra enfermidade logo na sequência (lendo a postagem anterior nem parece que já faz pouco mais de uma semana que fui ao pronto socorro!). Estou bem melhor, felizmente, mas ainda sinto dores se passo mais de uma hora na prancheta, quando me levanto os músculos costais da minha parte média do corpo ardem horrivelmente, refletindo nas minhas pernas, depois de uma caminhada pela casa já não sinto mais nada. Minha bexiga ainda me  avisa que tenho que procurar um especialista no assunto, mas para tanto eu preciso de dinheiro e, dinheiro...bem, existem algumas formas de conseguir, a única que conheço é trabalhando. Por isto, tenho que ignorar o desconforto, a ardência na vista, a dor na mão, o cansaço das longas horas na mesa e seguir em frente, fazendo a única coisa que presto para fazer: tentar dar formas e vida através de traços e cores na superfície do papel.

Sabem, eu odeio muitas coisas, uma delas é trabalhar sob pressão, cobrança. Eu preciso de tempo para achar a forma correta, a expressão adequada, o gestual que acompanhe o texto, a luz precisa que trás a atmosfera que imagino provocará uma reação no expectador, pode ser que tudo seja uma ilusão paranoica e megalomaníaca da minha cabeça doente, mas é como eu sinto que devo fazer o meu trabalho. Mas eu entendo que existem prazos a cumprir, outros envolvidos tem suas agendas e suas datas, pois se depender de mim eu risco e apago o desenho mil vezes até encontrar o que imagino ser a nota certa. Sou um profissional e vou entregar o que prometi até amanhã no final da noite, mas dificilmente minha alma estará inserida neste material por mais bem desenhado que fique.

Isto posto, me despeço de vocês agradecido a Deus por ter me concedido mais uma semana de vida e produção.

Fiquem com mais uma imagem do clássico a Escrava Isaura (recordando que nestas ilustrações eu usei apenas pincel na finalização),

Abraços para os gatões e beijos nas gatinhas.

Fui.



A ORIGEM DO NOME ZÉ GATÃO.

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Aconteceu algo estranho esta noite, acordei como se alguém tivesse tocado um interruptor dentro da minha cabeça. Uma forte tontura me fez ter a sensação de que a cama girava numa velocidade incrível. Eu tenho labirintite já faz muito tempo, até me acostumei com ela, as vezes quando estou andando pelas ruas, se movo a cabeça muito rápido para o alto ou para os lados, eu caminho como um ébrio,  depois me recomponho. Já tomei algumas medicações mas não resolveram. Porém esta noite a coisa foi feia. Com um certo custo me levantei e fui ao banheiro aliviar a bexiga. Retornei e me enfiei debaixo do lençol. Mas era tarde. O sono havia fugido e eu sei que ele não iria voltar. Eram quatro horas da madrugada. Me levantei com cuidado para não acordar a Vera e vim para o estúdio trabalhar. Porém, não me senti estimulado a pegar no lápis. Eu não queria fazer nada, sentia-me cansado, mas não com sono. Resolvi responder a uns e-mails e depois comecei a organizar meus desenhos que vão se acumulando dentro de envelopes. Lá eles ficam como eu, esquecidos, amarelando. Isto não me incomoda. Enquanto ia executando esta tarefa trivial, eu matutava umas questões.

Antes deixem-me dizer que a sensação de vórtice que me acordou, bem pode ter sido um sonho e na hora eu não me dei conta, devia estar naquele limbo esquisito entre o sono e o despertar.

Bem, vamos às minhas reflexões: Porquê batizei meu personagem de Zé Gatão? Porque foi o primeiro nome que me veio à mente e também porque eu iria usá-lo como um personagem de tiras cômicas (pra ser sincero, na época, eu não estava certo se usaria ele em algo além do que tinha feito). Acho que já disse que o protótipo deste antropozoomorfo foi usado em uma ou duas estampas de camisetas para uma confecção de um conhecido de Brasília chamada Fast Cat. Ele era bem diferente, assemelhava-se ao gato Tom, só que era mais bombadão. Não tinha nome e não pensei mais nele até criar a primeira HQ onde, ao invés de situações cômicas, o que se viu foi violência, dor e tristeza. Na verdade eu nem lembro direito porque me veio na cabeça Zé Gatão; havia em Brasília um fisiculturista local, bem conhecido que tinha o apelido de Zé Gatão e antes disso ainda parece que era o nome de um personagem de um programa infantil na TV Brasília nos moldes de Bambalalão, mas também não tenho certeza. Se colocarmos no Google vocês verão algumas referências ao bodybuilder, ao meu personagem e sobre uma dupla sertaneja.

A primeira HQ foi puro desabafo, uma resposta à imensa depressão que me engolia em 1992. Nunca pensei em publicar. Está esquecida ou desaparecida em algum lugar, mas o nome do gato ficou.

Uns artistas que conheci dizem que o nome era bem apropriado, simples, direto, fácil de lembrar e era bem brasileiro: um zé qualquer, como Zé Carioca. Outras pessoas disseram que era uma alcunha muito idiota para um personagem tão rico.

Dia desses numas postagens de uns caras no Universo HQ, li comentários sobre isto. "Nome de gosto duvidoso." "Um personagem com nome assim não tem como vender, eu não conheço e não compro." e outras coisas mais. Semelhante a isto foi um certo cara no Facebook que falou que um nome legal ajuda a vender um gibi, este não poderia vender pois o nome não combinava com os aspecto vigoroso do personagem.

Bem, se eu tivesse que mudar hoje, eu nem sei que nome colocaria. Me acostumei com este.

Um amigo meu ao ver uma arte do felino que fiz a caneta, falou: "O seu José ficou bem forte, aí!" Acontece que o nome dele não é José. Ou pode até ser. O fato é que eu não sei o nome dele. Zé Gatão é  um apelido, obviamente, o nome de fato eu nunca criei. Isto é citado duas ou três vezes na saga Memento Mori e sua continuação. O felino nunca revela seu verdadeiro nome, gerando assim um mistério a mais.

Bem, gostando ou não, gerando controvérsias, o fato é que o personagem é conhecido como Zé Gatão, algo difícil para os estrangeiros pronunciarem, visto que a terminação ÃO é complicado em outro idioma que não seja o nosso, o que dificulta uma tradução gringa.

Bem, é o que eu tinha para falar sobre o nome deste incompreendido e tristonho protagonista.


MÍSTICA.

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Os dias estranhos continuam sua caminhada firme e inexorável nesta etapa da minha vida sem dar demonstrações de que vai parar para recuperar fôlego. Pudesse eu falar de tudo que me atormenta, muitos entenderiam porque eu afirmo que esses últimos meses têm sido carrascos. Na verdade eu já deveria estar acostumado, passei pelas mesmas situações na juventude e não sei como suportei. Existem pessoas capazes de sobreviver às maiores tragédias e no fim ainda dar uma lição de vida. Definitivamente não sou esse tipo de pessoa.

Hoje, entediado, após terminar uma página A3 toda aquarelada para o novo livro infantil que estou fazendo, pensei: mais uma para ficar esquecida numa pasta, mais uma para se juntar a tantas outras numa pequena literatura que fará parte de uma coleção que ninguém saberá onde encontrar para ler, sequer saberão que existe, a menos que eu a exponha numa rede social e diga: ARTE PARA LITERATURA INFANTIL e meus admiradores, que não são tantos assim, dirão: "Uau! Que ilustração bacana!" e depois esquecerão dela. Sim, você está certo, eu reclamo de barriga cheia, afinal, depois de suar a camisa por anos, consegui dar algumas soluções para o problema do branco do papel, como preenchê-lo com traços e cores e dar uma alma ao que ali vai sendo formado. Esta alma não será do agrado de todos, certamente, mas ainda assim ela estará viva e provocará reações e isto eu sei, não e para qualquer um. Muitos ainda labutam sem conseguir dar vida e personalidade aos seus desenhos mas conseguem enganar bem as pessoas, alguns até ganham bastante dinheiro. Pensando bem, esse negócio de alma na arte é uma questão de ponto de vista. Eu posso achar que os meus traços, por mais toscos que possam me parecer, tenham o poder de tocar o coração de alguém, outros acharão que meus desenhos não tem brilho algum..... Ok, ok, vou parar, eu sei que como filósofo eu sou de uma mediocridade de dar dó!

Eu deveria ter continuado trabalhando, afinal, como sempre, esses projetos tem prazos apertados, mas parei para comer algo e depois fui ver um episódio de uma série e em seguida procurar uma arte que foi comprada por um admirador. Abri muitas caixas e envelopes e fiquei perplexo com a quantidade de desenhos que já fiz nessa vida. Muitos permanecem inéditos do grande público, principalmente uma série para livros didáticos que nunca foram publicados. Como sonhar ainda não paga imposto, pensei: "Cara, se um dia meu nome se tornar alguma coisa além de que é atualmente e eu morrer, minha família pode faturar uma boa grana num desses leilões da vida, pois o que não vai faltar é desenho para vender ou publicar postumamente." Ah, como estou cansado! Mas não dá pra parar e beber um pouco d´água, simplesmente porque não há água, tampouco onde sentar. A vida exige que eu continue ininterruptamente e assim faço.

Não lembro exatamente porque fiz esse desenho da Mística (vilã mutante dos X-MEN que no cinema transformaram em heroína), mas aí está.


Hoje foi Dia das Mães, eu deveria ter vindo aqui mais cedo fazer uma postagem que falasse disso, mas pensando bem, dizer o quê? Agradeço a Deus que minha mãe está viva e bem. Meu beijo a todas as mamães que me visitam aqui.

Ainda não consegui colocar as mãos em meus desenhos pessoais mas hei de fazê-lo. Não sei até quando vou suportar a pressão, mas não vou desistir, essa palavra não existe em meu dicionário.

ABRAÇADO PELA SOLIDÃO.

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Era muito cedo e ele já estava acordado, não dormira bem as últimas noites, na verdade ele não se lembrava da última vez que tivera um somo tranquilo e reparador, havia em seu universo um sem número de elementos que provocavam o caos, pequenos asteroides que promoviam o desequilíbrio e sua impotência em ordenar as coisas lhe traziam aflição à alma. Ele sorria, mas era um movimento de músculos faciais forçado, muito mais fácil era verter grossas lágimas, lágrimas de arrependimento, lágrimas por desejar que o impossível se tornasse possível. Ele tinha consciência de que seu lugar no mundo não era dos piores, haviam criaturas, milhões delas, em situações abjetas, mas isso não lhe servia de consolo e este egoísmo também lhe pesava na alma. A arte, esta grande irmã, que tantas vezes o tirou do lodaçal, parecia agora impotente, ausente.
Mas a tristeza, essa amiga que tantas vezes o inspirou no ato de criar, naquela manhã em particular doía-lhe no âmago.

"Podemos conversar um pouco?" Perguntou à esposa.
"Tem que ser agora? Estou ocupada com tais afazeres."
"Não, tudo bem, não é nada importante." Respondeu ele.

Pensou em falar com a mãe e os irmãos, mas o telefone que tinha em casa não permitia chamadas interurbanas e depois, imaginou: eles também estão cheios de problemas, não precisam de mais um.

Não muito tempo depois, encontrou uma amiga querida.
"Que bom te ver!"
"Digo o mesmo, mas eu preciso ir, meu companheiro me espera!"
"Por favor, fique mais um pouco, só cinco minutos, por favor!"
"Não posso, ele já me observa da varanda! Me ligue e conversamos, ok?"
"Ok."

Ele lembrou-se de um tempo em que viveu numa grande cidade cosmopolita. Tantas pessoas nas ruas, nas praças, nos trens, todas alheias, mergulhadas em si mesmas e ele acossado pelo abatimento.

Foi assim no passado, era assim no presente.

O dia seguiu seu curso, com todos os obstáculos físicos e imateriais que o impediam de se dedicar ao seu ofício. Olhou decidido para a estrada que tinha a sua frente, respirou fundo e seguiu por ela de mãos dadas consigo mesmo.

A ESCRAVA ISAURA (CENA O8).

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Criar arte, viver de arte, pensar a arte, para mim, é como o exercício de ser mãe, uma mãe zelosa, e como tal trás prazer e algumas dores. A concepção é cheia de expectativas, o parto na maioria das vezes - falo apenas por mim - é difícil, extremamente aflitivo até, mas quando vem à luz é um deleite indizível. O que segue poderíamos chamar de administrar, educar, preparar para a vida e o resultado de tudo pode ser tanto orgulho e alegria quanto decepção e tristeza (sem exagero!).

Elaborar meus quadrinhos sempre teve um pouco disso tudo, é bem verdade que preparei a minha cria (fazendo o que estava ao meu alcance) para que ela fosse grande, que se destacasse no mundo, mas por motivos que estão além dos meus esforços, ela ficou num patamar mediano, humilde, mas, acho, honrado.

Minhas artes pessoais (pinturas, HQs, desenhos, esboços) sempre me encheram de satisfação, eu dei vazão a tudo que ia no meu íntimo, euforia, dor, contentamento, decepção, para isto elas serviam, para ser minha porta voz, a forma de me comunicar com um possível público. Não encontrei eco na maioria das vezes, quase não me trouxeram retorno financeiro, mas serviram como ponte para clientes. Hoje vivo - não tão bem, devo devo frisar - do que aflora dos meus traços e cores.

Esses arroubos, atualmente, já não tem sido possível, não há tempo mais para meus exercícios artísticos. Nem meus rabiscos espontâneos em meus caderninhos eu consigo. Parte disso acentua este meu estado de amargura.

Não vou falar de trabalhos que me trouxeram dissabores (não digo apenas de empregadores chatos mas de desenhos que desprezo por não terem ficado do meu agrado) mas comento aqueles que apesar de difícil execução foi prazeroso ver o resultado.

A coleção de clássicos da literatura brasileira foi uma destas empreitadas que foram felizes. Foram 45 livros com 15 ilustrações cada. Na verdade, como já foi comentado aqui, era pra ter fechado em 50 livros mas pararam a coleção antes. Há planos de continuar, ainda há muitos títulos relevantes que ficaram de fora mas até agora não deram notícias.

O que mais gostei de estruturar nesta obra foi a liberdade de gerar as cenas, é bom produzir assim, sinto como se eu participasse do engendramento do escritor. A editora mandava sugestão de imagens mas eu é quem decidia como seria feito.

Nem todos os livros foram impressos; a metade, eu diria.

A Escrava Isaura foi o canto do cisne.

Uma boa semana a todos.

O LOUCO NO ESPELHO.

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Boa noite, amadas e amados!

Foi um domingo tranquilo para mim. O sábado nem tanto; por vezes uma certa tensão se faz presente (é uma situação que sou obrigado a enfrentar, não há como fugir dela no momento). Eu tento não deixar estas emoções nefandas comprometer o andamento do meu trabalho, mas as vezes não sou tão forte, ele fica mais lento quando sinto o coração acelerar, minhas mãos tremerem, me obrigando a respirar fundo para evitar um desmaio. Nestes momentos eu sinto como se alguém fizesse roleta russa na minha cabeça. Mas Deus tem me dado um bom auto-controle e a vida segue.

Eu queria ter um pouco mais de dinheiro, nem precisava ser tanto, o suficiente para eu tirar umas férias de quando em vez. Não por acaso eu comecei o meu primeiro álbum de quadrinhos colocando Zé Gatão no selim de uma velha motocicleta e saindo sem destino, fugindo sabe-se lá do quê. A música que eu imaginei para aquela cena foi Born To Be Wild do Steppenwolf. Ah, como eu queria poder...!

A arte de hoje foi encomendada para a capa do livro O Louco No Espelho (faz uns meses já que realizei este serviço, nem sei quanto, pô, perdi totalmente a noção de tempo!). O autor entrou em contato hoje informando que o tomo saiu. Imagino que ele esteja feliz. Um livro é como um filho que vem ao mundo.

Sempre me perguntei por quanto tempo ainda manterei este blog. Quem se interessa? eu me pergunto. Tem vezes que os acessos são grandes, na maioria das vezes a frequência é muito baixa. Por hora, continuo, ele permanece como meu diário (hum, semanário acho que é mais apropriado) onde lanço meus desabafos.

Eu queria muito neste momento ter uma chave para abrir minha caixa torácica e deixar meu coração sair um pouco, respirar livre, tossir e tirar um tanto da tristeza que sente, expulsar parte da saudade que o oprime. Mas não é possível. Ok, vamos em frente!


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