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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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UMA DROGA CADA DIA MENOS POTENTE.

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Chegaram dia destes umas caixas com os exemplares dos clássicos da literatura brasileira a que tenho direito. Ainda faltam outros tantos que ilustrei o ano passado. Devem me mandar logo. Muitas destas ilustrações já deram as caras por aqui.
Legal, pensei eu. É sempre bom ver trabalhos publicados, chegando a um público que nunca pude mensurar. Na verdade é a única coisa que ficará de mim por mais um tempo depois que eu me for. Mas, sei lá, fora o primeiro momento de euforia ao folhear as páginas e checar a qualidade de impressão, sentir o cheiro da tinta no papel, isto tem me causado cada vez menos enlevo.
Envelhecer seria isso? Sentir que toda a vaidade, não é nada mais que um narcótico que a medida que os anos avançam não produzem mais o efeito de outrora? Que isto só aumenta, em determinados momentos, a sensação de vazio? Faço-me ainda a seguinte pergunta: a idade está me tornando um babaca maior do que na verdade sou?
Recordo-me quando a muitos anos atrás vi uma ilustração minha ostentada na capa de uma revista de circulação nacional, exposta em bancas de jornais. Eram outros dias. Me alimentei daquela ufania durante um bom tempo. Nunca ousei revelar a ninguém que era o autor da proeza (uma carecterísca minha, ser invisível sempre que possível) mas me deleitava com os elogios que faziam à obra mesmo sem saber quem era o autor - muitas vezes, editores suprimiam minha assinatura.
Com o tempo fui me acostumando, alguém gosta do que faço e me encomenda um trabalho. Faço. Recebo. Gasto. Tempo depois vejo o fruto do esforço à exposição pública, na maioria das vezes, com retorno bem positivo, mas sem o mesmo orgulho de antes.
Por outro lado, sinto-me um tanto hipócrita, pois se não me importasse tanto, não deveria postar tais obras aqui esperando manifestações.
Sei não, pode ser que tudo isto seja fruto do cansaço.








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