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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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A VELHA GUARDA.

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Houve uma manhã esta semana, não lembro exatamente qual, acordei com o dia raiando, os primeiros lumes do sol expulsava a madrugada. Precisava ligar a bomba d´água, Vera toma banho logo cedinho. Caminhei até o portão, vinha um vento fresco oriundo da praia que fica a umas três quadras de onde moro. Observei o céu que prometia mais um dia quente e me veio à memória as palavras do salmo 121: "Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que criou os céus e a terra".
Preciso deste socorro estes dias mais que nunca. Mas tenho que esperar com paciência, tudo acontece no momento certo.

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Qual será a música mais famosa dos Beatles? Yesterday? Hey Jude? Help? Eu diria que é Yesterday. E dos Rolling Stones? Satifaction? Lady Jane? Angie? Eu penso que seja Satisfaction.
Vou falar abreviadamente de música hoje, uma das poucas coisas, além do desenho, que me acalmam a alma. Mas não de música gringa, mas das canções que ouvi quando moleque.

Minha avó ouvia sertanejo de raiz, Tonico e Tinoco, Trio Parada Dura, Cascatinha e Inhana e muitos, muitos outros. O rádio de pilha vivia ligado. Ela acordava muito cedo, tipo as 4 da manhã para fazer café e era nestes momentos que eu ouvia as músicas de viola caipira com mais frequência.

Eu falei de Beatles acima não foi? Pois bem, acho que em 1968 eu ouvi Hey Jude. O longo refrão "Hey Jude, da, da, da, dá...." vinha de alguma casa onde o rádio estava ligado na maior altura. Lembro de ouvir também o Brucutu na voz do Roberto Carlos, aliás, quase tudo que tocou dele e de outros da Jovem Guarda.
Durante os anos 70, além dos gibis eu era viciado em rádio, ouvia de tudo, os bregas eram muito frequentes naquele período: Vanderley Cardoso, Jerry Adriani, Nelson Ned, Odair José e etc. Houve uma invasão muito grande de músicas internacionais no Brasil no período de regime militar, não só de língua inglesa mas muita coisa francesa e italiana, muita mesmo.
Acho que isso desenvolveu em mim um gosto bastante eclético, não tenho preconceito em relação a este ou aquele estilo musical, existe sim a música que nos soa bem à alma e outras nem tanto, refinamento é algo muito particular.

Mas quero comentar aqui sobre os anos de 1975 e 1976 onde tocava muito na vitrola de casa alguns discos que meus pais gostavam de curtir. Minha mãe ficava com Ângela Maria, Orlando Silva, Ataufo Alves, Sergio Bittencourt, Agnaldo Rayol, entre outros e meu pai com Nelson Gonçalves, Noite Ilustrada e mais alguns que me fogem da memória agora. Eu gostava também daquelas letras cheias de romantismo e poesia. Eram cantores de verdade, não os enganadores da chamada MPB (se bem que eu gostava do Caetano e do Gilberto Gil). Mas teve uma época em que comecei a ouvir rock pra valer em que eu reneguei isso tudo. Coisa de adolescente descolado que se julgava antenado e essas velharias era coisa de gente quadrada.
Certa vez meus pais deram uma festa em casa para seus amigos (nossa casa na SQS 202 era frequentada pela nata da política brasiliense, até um ministro não sei das quantas aparecia em nosso apartamento. Era muito comum receber visitas ilustres, aqueles coroas com sua mulheres distintas, perfumadas e cheias de joias para tomar uma sopa de cebola que fez minha mãe famosa entre eles). Em muita dessas ocasiões eu e meus irmãos ficávamos no quarto com minha avó vendo tv.  Bem, o caso é que nesta festa em particular o som era alto, os sofás foram afastados e a dança rolava solta na voz de caras como Cauby Peixoto. Era comum a moçada mais nova entrar de penetra onde rolava uma festinha na quadra. Então eu vi uns caras que eu conhecia entrando pela porta sorrindo debochadamente do estilo musical que rolava. Caramba, pensei, esses caras vão me sacanear pelos séculos dos séculos, doravante. Morri de vergonha. Não ficaram muito, logo se mandaram. Nos dias seguintes ninguém comentou nada, provavelmente não se ligaram que era a minha casa.
Sendo bem sincero, eu não ouço mais essas músicas, só gosto de me ligar em algumas criações do Lamartine Babo que sempre achei um gênio. Mas sei que artistas como aqueles hoje não existem, não há lugar para eles, letras e melodias como aquelas não fazem mais. O axé, o funk e o sertanejo universitário tomaram conta de tudo.

Os nordestinos tiveram um papel importante nos fins de 70 na minha vida: Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Ednardo, Belchior, Fagner, Raul Seixas (bem, Raul veio bem antes).

Neste fim de ano de fel eu quis relembrar aqueles tempos mais amenos. Só isso.

Apesar de tudo, meu trabalho prossegue, executo uma pintura de matizes bem complicados para um amigo e o resultado tem me agradado bastante.

O desenho de hoje foi uma encomenda, um lápis simples.

 

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