Quantcast
Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
Viewing all articles
Browse latest Browse all 708

ROTINA

$
0
0
Minha vida tem se resumido à prancheta e ocasionais idas ao mercado, padaria e consultórios médicos para checar como andam uns probleminhas de saúde que não dão sinais de melhora. Sabem, depois dos 40 a máquina começa ranger aqui e acolá, e já estou com 50, embora insista em dizer que minha cabeça ainda é a de um moleque. Isto torna o fardo do envelhecimento mais leve? Apesar de tudo ainda consigo malhar pesado, mas as vezes me pergunto o que quero provar com isto. A maioria vai dizer que o que importa é o espírito jovem e todas essas coisas bonitas que na hora da verdade não querem dizer porra nenhuma. Bom, acho que estou mais azedo hoje que de costume, cansado talvez, querendo alguma novidade boa, uma viajem de alguns meses pra algum lugar bonito, fresco, com alguma grana pra gastar. Rapaz, seria ótimo! Mas qual o quê, devo amargar o meu exílio até o dia que o Todo Poderoso quiser, eu de mim mesmo não posso fazer mais do que já tenho feito.
Ouço alguns colegas de profissão dizer de boca cheia que estão fartos e vão parar de prestar serviços pra sanguessugas, estão de saco cheio de trabalhar pra encher os bolsos de editores milionários, chefões que choram as pitangas quando o artista pede um aumento no valor das ilustrações, mas estão sempre trocando de carro, comprando impressoras importadas, viajando pra praia com a família, expandindo seus negócios. Se estes desenhadores tem outras opções, não me mostraram o caminho das pedras, se eles tem alternativas pra fugir dos exploradores, sorte deles pois eu não tenho.
Outro dia estava trocando ideias pelo Facebook com o Sebastião Seabra e ele falava do mercado editorial brasileiro com muita revolta. Ele está certo, mas o que eu posso fazer? Até hoje não consegui cobrar um valor de mercado pelos meus desenhos, sempre sou obrigado a fechar acordo com um preço um terço do que na realidade valem. Se não faço isso não consigo trabalho e não boto comida na mesa. Os dias não andam bons, embora o governo queira passar outra impressão.

Well, o teor da postagem mudou sem que eu percebesse, era pra eu falar sobre a velhice, de bandas boas que não existem mais como o Fleetwood Mac, em como a vocalista Stevie Nicks continua bonita apesar dos anos pesarem sobre seus ombros. Bem, está dito, mas não da forma que eu queria. Quem sabe um outro dia.
Pra fechar este texto melancólico, um desalentado rabisco com caneta bic.
So long.




Viewing all articles
Browse latest Browse all 708