Quantcast
Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
Viewing all articles
Browse latest Browse all 708

ZÉ GATÃO - O CÍRCULO VERMELHO

$
0
0

Estou relendo algumas HQs da Cripta do Terror, uma publicação da Record que saiu por aqui nos anos 90 e que infelizmente só teve 7 edições. Mais uma vez constato que a única coisa que faz algum sucesso por aqui é Turma da Mônica, heróis e alguns mangás.
Os quadrinhos da EC Comics, que originou a Cripta do Terror aqui no Brasil, será o próximo tema do meu "As Melhores HQs de Todos os Tempos".
Mas voltando ao foco desta postagem, entre as muito brilhantes histórias, destaco aquelas desenhadas pelo Bernie Kringstein; pra quem não sabe, este artista é o ilustrador favorito de muitos grandes da industria americana como Frank Miller e Art Spielgman. Ele se sobressaiu pelo modo ímpar como narrava a ação. Detalhes de movimento e soluções de passagens de tempo eram esmiuçadas por ele de maneira febril. Era um artista culto que sonhou viver da pintura, mas por força das circunstâncias teve que entrar para o mercado de comics para sobreviver. Desprezava esta mídia, mas ao perceber as inúmeras possibilidades que ela oferecia em termos de comunicação com o público, se apaixonou por ela. No entanto, se frustrava por se ver sempre limitado pelo número de páginas que lhe eram oferecidas (oito, para ser exato), o que lhe impedia de exercer sua imensa criatividade, ele queria explorar mais as capacidades que os quadrinhos ofereciam através do desenho. Com o código de ética em vigor nos anos 50, tudo piorou para Kringstein e ele terminou seus dias magoado e frustrado, dando aulas de desenho.
Me identifiquei com ele em muitos aspectos. As vezes olho a arte mais do que uma profissão que pague minhas contas, envolve criação, formas de confabular com quem se identifica, entre outras coisas.
O álbum ZÉ GATÃO - CRÔNICA DO TEMPO PERDIDO foi o livro que mais se aproximou do, podemos dizer, ideal de Kringstein, ali experimentei diferentes tipos de narrativa, materiais diversos e técnicas onde cada uma pudesse despertar uma emoção peculiar no leitor. Claro, essas coisas não são percebidas conscientemente, e eu meio que tateava no escuro, mas pensava estar no caminho certo.
Houvesse um mercado promissor no Brasil eu poderia ter contado muitas outras histórias, o que não foi possível.


A ilustração acima intitula-se O CÍRCULO VERMELHO, foi minha primeira ideia para introduzir o Felino no horror e nunca plenamente desenvolvida. Sempre pensei em como eu poderia usar os morcegos em meu universo antropomorfo. Teríamos um culto demoníaco, sacrifícios e conjurações. Assim como muitas outras concepções, ficou no limbo e utilizada de outra forma no conto DIA DOS MORTOS e na saga MEMENTO MORI. Mas ela ainda pede para sair, não com as mesmas fabulações de dias pregressos mas somando-se a novas concepções onde, acho, os morcegos nem estarão presentes. Estou maturando aqui para uma futura HQ curta; veremos. Ela entra na fila, ainda há histórias mais urgentes a serem desenvolvidas. O tempo dirá se terei condições de por tudo isto no plano físico.
Bernie Kringstein tinha muitos planos, a voragem, a maré contrária foi mais poderosa que ele. A diferença é que hoje a publicação independente é mais fácil se não almejo um público astronômico.

Fica claro que eu ainda quero contar minhas histórias. Veremos o que nos diz o amanhã.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 708