Hello folks!
Ontem, domingo, eu passei muito mal. Almocei bem - muito bem! - mas devido ao cansaço que faz parte do meu estado natural, ou seja, não é uma fadiga própria de um esforço físico ou mental, mas um esgotamento vindo da alma, por fim eu não me sinto exausto, eu SOU exausto! Bem, por conta disso eu me deitei um pouco para relaxar e cochilei, afinal, domingo deveria ser um dia para dar uma pausa das tarefas cotidianas. Acordei com cefaleia e dores nas juntas e uma sensação de febre. Virose? Dengue? Não sei. O caso é que eu preferi não trabalhar, tomei um paracetamol e fiquei diante do notebook ouvindo um pouco de música, vendo uns vídeos e lendo uns gibis que eu tinha baixado há um tempo atrás.
E antes d´eu falar sobre isso deixe eu salientar que meu inglês sempre foi muito ruim, eu nunca tive grana para fazer cursos como outros garotos conhecidos da adolescência (naquela época eles aprendiam na Cultura Inglesa). Como muitos colegas artistas que conheci depois, eu tentei aprender inglês sozinho, traduzindo quadrinhos, músicas, tentando cantá-las para ter boa pronúncia e etc, mas nunca consegui avançar, ao contrário dos tais colegas que viraram até tradutores de livros. Acho que eu era preguiçoso demais, sei lá. Outra coisa que não me conformo é de não saber dirigir um carro, é coisa de necessidade, mas não tive oportunidade quando era jovem e de uns 30 anos para cá acabei desenvolvendo um medo patológico disso. E eu via que pessoas muito mais limitadas que eu se tornaram bons motoristas, vovózinhas dirigem e eu permaneço esse retardado que mal anda de bicicleta.
Eu sempre fui meio lento da cabeça, na escola eu demorava muito para aprender as coisas, elas começavam a fazer sentido só um tempo depois e mesmo hoje, regras de português por exemplo, eu confundo tudo. Gostava de história mas abominava matemática, física, biologia e todas essas coisas que requerem fórmulas para serem devidamente compreendidas. Fui meio que obrigado, um tempo desses, a fazer um teste de autismo, em casa mesmo, e o resultado foi que eu tenho algo de autista no extenso espectro da coisa. Isso explicaria muito, inclusive a minha eterna sensação de inadaptabilidade a tudo e a quase todos. Ok pra mim, o que podia dar errado já deu, nessa altura da vida pouco importa essa merda toda de convívio social ou fazer parte de um mercado que nunca cheguei a participar, sequer conhecer.
E, sim, agora depois dessa digressão volto aos gibis que baixei para ler, um deles foi o primeiro volume da revista Heavy Metal, aquela que nos EUA causou frisson nos acostumados aos comics de super heróis ou o underground. A edição foi aquela primeirona, de abril de 1977, com arte de capa do Nicollet que ilustra esse post. Como eu disse, por não saber inglês, só agora, traduzida, eu pude ler o conteúdo e confesso ter ficado um tanto decepcionado; talvez nos anos 70 os temas como drogas, sexo e certa distopia fossem alguma novidade e causasse espanto no público, mas não sei, desde os anos 60 com a Zap essas coisas já eram abordadas de forma mais franca e com menos pudor. Pode ser que a variedade de estilos e temas aliado ao acabamento gráfico tivessem feito a diferença, se foi isto, continua recebendo os meus aplausos, mas a qualidade das histórias na grande maioria deixou a desejar, pelo menos nessa edição de estreia. Temos lá as artes inigualáveis do Druillet, do Alain Voss, do Moebius com seu Arzach (ponto alto, para mim) e o Corben com Den (sobre ele especificamente falarei mais uma vez numa outra postagem).
Mas uma coisa que me chamou a atenção, foi a amostra grátis de um capítulo do Livro do Terry Brooks chamado "A Espada de Shannara" (não sei se foi publicado no Brasil), na época alardeada como a maior saga de fantasia desde o Senhor dos Anéis. A saga de Brooks teve, parece, 27 livros, mas não obteve o sucesso que esperavam, apenas uns anos mais tarde o Robert Jordan, com "A Roda do Tempo" alcançaria popularidade quase (eu disse quase) como Tolkien.
O primeiro capítulo de A Espada de Shannara é bom, mas nada que eu não tivesse me empolgado mais lendo Conan e Bran Mak Morn do Robert E. Howard (onde tudo parece ter começado).
Na segunda metade dos anos 70 havia uma certa febre por literatura fantástica de ficção científica (que muito deve ter mexido com a cabeça dos criadores da Metal Hurlant), como Duna e Cavalo de Troia, títulos lidos pelos garotos que conhecia, Perry Rhodan era quase uma obrigação, mas nunca me senti o público alvo desses livros. Eu ainda gostava mais de ler os clássicos brasileiros e os romances góticos, tipo Drácula, O Médico e o Monstro e fascinação por tudo o que o Poe escreveu. Devo lembrar que Frankenstein eu só vim entender o verdadeiro sentido - e apreciar devidamente - depois de mais velho. Os livros que viraram filmes, como Em Algum Lugar do Passado, Vampiros de Almas, Poderoso Chefão, Papillon e etc, fazem parte da minha biblioteca até hoje.
Eu ainda continuo arrastadamente (pelo fator tempo) lendo o Don Quixote pela segunda vez e tendo agora uma melhor visão desse que para mim é um dos melhores livros de todos os tempos.
Pareci detratar o número de estreia da Heavy Metal? Não, só esperava um teor mais inteligente nos textos, mas com certeza ela abriu portas e acima de tudo ainda permanece a memória afetiva dessa revista que tanto me encantou quando pus os olhos nela pela primeira vez e muito me inspirou a fazer os quadrinhos que gosto de produzir.
Ainda me sinto febril e fraco, espero melhorar logo, há muito trabalho a ser feito.
