Quantcast
Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
Viewing all 669 articles
Browse latest View live

CAPA PARA UM CLÁSSICO.

$
0
0


Detalhes de uma arte para capa de um clássico da literatura brasileira só para a segundona não passar batida.




UNS ESBOÇOS.

$
0
0


Pois sim, amados e amadas, tá complicado de manter a atualidade deste blog, gostaria de escrever mais mas o tempo não deixa, os dias tem sido muito corridos, mas acho que semana que vem as coisas vão se acalmar se Deus quiser.
Pra não desapontar quem passa por aqui na expectativa por novidades, fiquem com alguns esboços da capa para livro citada na postagem de segunda-feira. Bem, nem sei se estes desenhos já deram as caras por aqui, mas vamos assim mesmo.



NU A CARVÃO.

$
0
0

Esta arte foi feita para o álbum Desenhando Anatomia - Figura Feminina, então não é novidade para os que possuem o compêndio, mas para os que não conhecem, fica aqui o registro.
Um bom fim de semana a todos.


MEMENTO.

$
0
0

As primeiras lembranças que tenho da vida são estas: morava com meus avós maternos numa casinha em Cumbica (SP). Meu avô, o velho Schloesser, trabalhava no ramo de construção, viera da França logo depois da primeira guerra mundial, onde, segundo minha mãe, ele serviu nas colunas de seu país. Era de Strasburgo, cidade situada ao leste da França, na margem esquerda do Reno. Por causa da guerra não pode se formar em engenharia, abandonou seu país natal e veio para o Brasil, interior de São Paulo onde conheceu dona Silvéria, minha avó. Fixado na região de Ourinhos, ele construiu casas, escolas, projetou prédios, alambiques e era exímio enxadrista. É tudo que sei dele. Tinha bom porte , austero. As lembranças que tenho é de um senhor de cabelos branquíssimos, que sempre saía com uma boina azul típica usada na França antiga, terno bem cortado, sapatos pretos e uma bengala. Apesar de idade avançada e já doente, ele construía sozinho uma casa bem defronte onde morávamos, no mesmo terreno. Havia uma estrada de chão batido em frente a nossa morada, seguido de um barranco alto e mata espessa de árvores centenárias.
Minha avó era uma senhora miúda, magrinha, de cabelos acinzentados, sempre curtos, analfabeta de pai e mãe, cega de um olho devido a um infeliz acidente. Minha mãe, uma jovem mignon, de cabelos longos negros lustrosos, e meu pai um cara robusto, de compleição taurina, olhos verdes e cabelos escuros penteados com gomalina, sempre calado e ensimesmado. Na verdade ele me dava medo. Estava sempre ausente, trabalhando em algum lugar. Minha mãe também aparecia pouco, trabalhava como governanta na casa de uma italiana chamada dona Franca (não tem nada a ver com estas memórias, e embora eu não os tenha conhecido, até hoje lembro os nomes dos filhos desta mulher de tanto que minha mãe comentava, Humberto, Eduardo e Gigliola, esta morreu aos 15 anos de idade num acidente de carro em 1969).
Tínhamos um cachorro chamado Rintintin, de pelagem avermelhada, parecia uma raposa. Morreu por aqueles tempos, provavelmente envenenado, pois segundo minha mãe, as aves de rapina nem se aproximaram do local onde jazia o cadáver. Eu me pergunto hoje, porque meu avô não o enterrou?
Minhas recordações deste período são difusas, afinal, que idade eu devia ter? Três? Quatro anos? O único brinquedo que me lembro de possuir era uma bonequinha de um palmo de cumprimento com uma diminuta chupeta em sua boca e usava uma fraldinha de plástico quadriculado azul, o mesmo material que se usava antigamente para encapar cadernos. Sei disso pois uma noite antes de minha mãe partir para a cidade, eu tinha que fazer xixi para de me botarem na cama e eu disse que a boneca tinha que fazer o mesmo, simulei com a boca o som da urina saindo do brinquedo.
Minha madre foi cantora muitos anos, se apresentava em programas de rádio, e cantava com sua voz doce de soprano músicas para me fazer dormir, uma delas,  "Luciana" interpretada pela Evinha, uma artista popular da época, tinha o poder de me fazer chorar, dada a sua comovente melodia..
Eu tinha uma sensação muito forte de tristeza e desamparo, embora a dona Silvéria fosse onipresente naqueles dias.
Eu vivia me acidentando. Fui até onde meu avô estava trabalhando e um tijolo caiu na minha cabeça. Ganhei um galo e chorei muito, mas não tanto quando coloquei pimenta nos olhos. Foi assim: minha avó punha as vezes, semente de pimenta para secar ao sol em cima de um tambor de metal bem mais alto que eu, não se sabe como, eu devia ser bastante inquieto, peguei aquilo e devo ter posto na boca e esfregado as mão nos olhos. Gritei pra valer, minha avó veio me acudir e meu avô veio como uma bala, da construção onde estava e passou uma violenta reprimenda na pobre senhora com seu sotaque estrangeiro pensando que ela tinha batido em mim. Na verdade ela só ousava bater em mim quando ele saía e eu não parava quieto.
Lembro vagamente da Cidinha e do Paulo, meus padrinhos, havia uma mulher com três filhos e um aleijão na perna esquerda chamada Júlia, era casada com um italiano. Aquela mulher metia medo, não era boa pessoa, como tenho lembranças nefandas dela e de seus filhos, é melhor guarda-las para mim.
Mina mãe conta uma série de fatos mais ou menos pitorescos dos quais não tenho a menor recordação, coisas engraçadas que os petizes dizem ou fazem que põem os adultos a rir. Parece que eu não gostava de andar, então quando ela e minha avó tinham que sair e eu era pesado para ser levado no colo, me levavam dentro de uma sacola destas de feira.
Quando ganhei um sapato novo, eu mostrava pras pessoas um pé e depois dizia solenemente: "olha o outro", como se não fosse uma coisa óbvia. Ao comentar sobre uma fogueira de São João, falava assim: "fizeram uma FODERONA!" Me queimei com ferro de passar roupa e eu tinha medo de chegar perto dele mesmo quando não estava em uso. Talvez por isto hoje eu tenha tanto receio de materiais que emanam muito calor.
Foi deste período o caso em que eu e o filho da madrinha brincávamos com uma cobra coral verdadeira, já relatada numa postagem antiga.
Estas coisas todas eu poderia procurar confirmação com minha mãe, mas preferi relata-las como estão em minha memória.
Continuamos em outra ocasião.

EXPOSIÇÃO SANSÃO TAMBÉM FAZ 50 ANOS.

$
0
0
A alguns dias atrás um amigo meu, que trabalha como roteirista para diversas publicações do Maurício de Souza, me ligou para me falar dos 50 anos que a Mônica completa em 2013, as comemorações diversas que se darão e por aí vai. Os tais festejos começam com uma exposição focada no Sansão, o infeliz coelho da Mônica. Evento idealizado por um velho conhecido, o cartunista JAL, que segundo soube, atua também como relações públicas do Maurício.
Meu amigo sugeria que eu participasse, que seria legal e assim por diante. Relutei por três motivos: 1 - tenho pouco tempo atualmente. 2 - ando com a mente embotada, afinal, uma exposição assim, com tantos cartunistas, requer muita criatividade e humor. 3 - estou afastado deste universo do Maurício de Souza a muito tempo.
Mas agradeci ao meu camarada a lembrança, sugestões e incentivo. Fiquei pensando no que poderia fazer.
Gosto as vezes de brincar com as tintas fazendo uma releitura de obras clássicas. O próprio Maurício de Souza já expôs uma série de pinturas legais emulando artistas do passado com seus personagens.
A primeira coisa que me veio à mente foi criar um Baco bem ao estilo Caravaggio (o atual pintor barroco da moda) só substituindo o personagem pelo coelho azul. Mas aí teria dois problemas: seria esta uma imagem tão conhecida a ponto de ser reconhecida pelo público médio? A figura do Baco seria adequada? Matutava estas questões quando bati um papo com meu irmão naquela mesma tarde, ele sugeriu que ao invés de Caravaggio eu poderia fazer o Van Gogh. Ótima ideia, só não sabia se poderia imitar o estilo delirante do pintor holandês. Gosto de desafios. Como o prazo para envio era curto, parei tudo o que estava fazendo e trabalhei na manhã seguinte cometendo a ilustração que vocês conferem hoje.


Ela foi bem recebida. Tanto que foi usada para ilustrar a postagem do blog Gibizada como mostra este link:
http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada/posts/2013/03/02/parabens-monica-488317.asp#.UTJ1Oks82bw.twitter


RABISCOS A NANQUIM.

$
0
0

É comum sobrar um pouco de nanquim no recipiente toda vez que vou executar uma arte a bico de pena. Para não desperdiça-lo, pego um pincel e começo a rabiscar sem pensar muito. O que vemos hoje é resultado de uma destas brincadeiras. Tenho uma porção desses desenhos aqui, inclusive uma historinha de luta (tipo MMA) de Zé Gatão todo de pincel grosso e quase sem esboço, preciso concluí-la, inclusive. Aos poucos estas "artes" vão dando as caras por aqui.


Espero que vocês esteja tendo uma boa semana, porque a minha, pra variar, está complicada.

PEDAÇOS.

$
0
0


Procurava desesperadamente umas artes antigas para pra uma republicação quando dentro de um envelope achei estes desenhos totalmente esquecidos. Logo me veio à memória a época que os fiz, foi a mais de 10 anos, morávamos neste período na SQS 411, em Brasília. Um ano antes eu havia realizado algumas histórias eróticas para algumas editoras de São Paulo, pagavam um preço bem razoável e muito me ajudaram naquela fase pois foi quando eu e Verônica passamos a morar juntos. Sempre foi a intenção do Franco de Rosa juntar todo aquele material e mais algumas hqs que permaneceram inéditas num único e bem acabado álbum.
Em 2003 isto quase virou realidade com ele a frente da finada Opera Graphica, me pediram alguns desenhos para ilustrar as matérias que seriam incluídas no compêndio. Então fiz estes estudos de cangaceiros e criaturas do período pleistoceno, nada muito elaborado, lápis sobre um cartão que eu tinha em casa. Existem outros mas não tenho ideia de onde possam estar. Não sei se enviei com outras artes para São Paulo, se ficaram comigo....o livro nunca saiu, é claro, mas o Franco insiste que ainda vai coloca-lo na praça.
Bem , independente do que aconteça, fica aqui o registro de mais um bom tempo que voou.





IRACEMA ( 01 )

$
0
0



Foi legal ilustrar "Iracema, A Virgem Dos Lábios De Mel", apesar de ser um livro insuportavelmente chato (opinião minha, claro). Pude sair do lugar comum, que é desenhar "pessoas conversando"- na maioria das vezes - para delinear índios, ainda que estes também passem boa parte do tempo confabulando, mas são silvícolas, então já mudo de rotina.


Pra ser sincero não fiz pesquisa, quis ilustrar este tomo baseado em minhas memórias, pois no passado busquei muitas referências para pintar alguns dos nossos selvagens.


Vale lembrar aqui que as imagens que vocês estão vendo são minhas artes originais antes d´eu fazer "reparos" a pedido da editora. Tive que tampar alguns peitos e bundas para não escandalizar a garotada.


Outras cenas chegarão oportunamente.

ROTINA

$
0
0
Minha vida tem se resumido à prancheta e ocasionais idas ao mercado, padaria e consultórios médicos para checar como andam uns probleminhas de saúde que não dão sinais de melhora. Sabem, depois dos 40 a máquina começa ranger aqui e acolá, e já estou com 50, embora insista em dizer que minha cabeça ainda é a de um moleque. Isto torna o fardo do envelhecimento mais leve? Apesar de tudo ainda consigo malhar pesado, mas as vezes me pergunto o que quero provar com isto. A maioria vai dizer que o que importa é o espírito jovem e todas essas coisas bonitas que na hora da verdade não querem dizer porra nenhuma. Bom, acho que estou mais azedo hoje que de costume, cansado talvez, querendo alguma novidade boa, uma viajem de alguns meses pra algum lugar bonito, fresco, com alguma grana pra gastar. Rapaz, seria ótimo! Mas qual o quê, devo amargar o meu exílio até o dia que o Todo Poderoso quiser, eu de mim mesmo não posso fazer mais do que já tenho feito.
Ouço alguns colegas de profissão dizer de boca cheia que estão fartos e vão parar de prestar serviços pra sanguessugas, estão de saco cheio de trabalhar pra encher os bolsos de editores milionários, chefões que choram as pitangas quando o artista pede um aumento no valor das ilustrações, mas estão sempre trocando de carro, comprando impressoras importadas, viajando pra praia com a família, expandindo seus negócios. Se estes desenhadores tem outras opções, não me mostraram o caminho das pedras, se eles tem alternativas pra fugir dos exploradores, sorte deles pois eu não tenho.
Outro dia estava trocando ideias pelo Facebook com o Sebastião Seabra e ele falava do mercado editorial brasileiro com muita revolta. Ele está certo, mas o que eu posso fazer? Até hoje não consegui cobrar um valor de mercado pelos meus desenhos, sempre sou obrigado a fechar acordo com um preço um terço do que na realidade valem. Se não faço isso não consigo trabalho e não boto comida na mesa. Os dias não andam bons, embora o governo queira passar outra impressão.

Well, o teor da postagem mudou sem que eu percebesse, era pra eu falar sobre a velhice, de bandas boas que não existem mais como o Fleetwood Mac, em como a vocalista Stevie Nicks continua bonita apesar dos anos pesarem sobre seus ombros. Bem, está dito, mas não da forma que eu queria. Quem sabe um outro dia.
Pra fechar este texto melancólico, um desalentado rabisco com caneta bic.
So long.



ARTES PARA LIVROS DIVERSOS.

$
0
0


Segundona que promete ser cascuda.
Alguns desenhos para a semana não começar em branco.




DESCENDO LADEIRA ABAIXO.

$
0
0


Intervalo de trabalho exaustivo mas altamente compensador. Rola Eric Clapton no som. Eu aqui diante do monitor sem saber exatamente o que escrever, tantas coisas para recordar, dividir, mas sem a energia e inspiração para tanto.

Segunda feira última eu e Verônica levantamos muito cedo, na verdade era para termos levantado mais cedo ainda, mas cansados como estávamos (por termos ido dormir muito tarde - não por gosto, mas por hábito) não ouvimos o despertador tocar. Na verdade eu ouvi, como se ele estivesse a quilômetros de distância, lembro vagamente de vela desligando-o e ela não tem recordação disso. Ao acordar as 4:30 ela levantou assustada: "Meu Deus, vamos perder a consulta!"
Ela tinha um exame marcado, eu iria, como sempre, acompanha-la. Tomamos banho as pressas, o café da manhã frugal por causa do tempo e ganhamos a rua. No ponto, os coletivos lotados, o que nos interessava não aparecia. Os ponteiros do relógio correndo como se um cão louco estivesse em sua cola. "Se não chegarmos até o mais tardar 7:30 perco a consulta e daí só no mês que vem!" Disse-me ela. "Tô ligado, acho melhor pegarmos uma van até o Santa Genoveva e lá pegarmos o Jardim Catamarã, deve vir vazio e nos deixará quase no mesmo lugar." Falei. "Certo, então vamos logo." Respondeu ela.
Assim fizemos. O dia prometia chuva pesada. No ponto em frente ao tal do Santa Genoveva o ônibus não estava nem aí pra nossa agonia. Quando finalmente apareceu, veio lotado até a tampa. Estranho, não estávamos distante do terminal dele.
Os auto-carros cheios são assim, pessoas que passam se esfregando em sua bunda, não porque queiram, muitas vezes, mas é que não há outro jeito. Hoje todo mundo fala ao celular ao mesmo tempo, tornando a viagem mais insuportável, gordos dormindo nos bancos, bafos matinais, bolsas como se carregassem o mundo dentro lhe pressionando em cima de outras pessoas.
Na altura da praia de Boa Viagem, o trânsito empacou como se quisesse provar a São Paulo que não ficava muito atrás. Ao menos a vista era bonita, a praia com suas ondas procelosas infestadas de tubarões cabeça-chata estava magnífica aquela manhã. No horizonte, um céu lovecraftiano de nuvens negras e cinza-chumbo prometia tormenta. Era possível ver uma cortina de água como se fosse uma muralha prestes a se romper. Um espetáculo que só o Deus Todo Poderoso pode oferecer.
Como se o ônibus não estivesse lotado o suficiente, um batalhão de gente se apinhou na porta traseira, eram egressos de um outro que quebrara no caminho. O olhar de Verônica para mim dizia que iríamos perder a viagem. Pisquei um olho como quem diz, relaxa, não há nada que possamos fazer a respeito, vamos aguardar. Eu tinha esperança que o coletivo fosse esvaziar a medida que fosse avançando. Não esvaziou. Esperava que saindo do trecho beira mar ele fosse acelerar. Isto pelo menos se concretizou.
A chuva prometida pelos céus escuros, caiu em pontos isolados, como verificamos depois, felizmente não onde estávamos, senão atrasaríamos mais ainda.

Descemos no ponto certo, mas a rua que procurávamos ficava mais longe do que eu imaginava. Com certo custo atravessávamos as ruas e avenidas de Recife correndo contra os segundos, Verônica em passo acelerado e tomando cuidado para não torcer os tornozelos nas calçadas mal pavimentadas e esburacadas. Nunca vou entender as mulheres com seus batons e saltos altos.

Chegamos com meia hora de atraso. Ela não fez o exame, mas não por causa do horário, mas sim porque o aparelho necessário para o procedimento estava com defeito. "Não ligaram para a senhora desmarcando?" Perguntou a atendente, sem graça. Minha vontade foi a de responder: "Ah, ligaram sim, é que a gente passeava pelas redondezas e resolvemos vir aqui para lhe dar bom dia!" Teríamos que ligar remarcando, mas só no mês seguinte. Então já sei que daqui a um mês teremos que repetir esta emocionante aventura.

A volta para casa não foi menos custosa. Os ônibus só passavam lotados, o primeiro que apareceu, vinha do outro lado da pista junto a um comboio e fingiu que não me viu dar sinal, passou batido. Como o seguinte demorava demais, pegamos um até o bairro próximo ao nosso, de lá uma van nos deixaria em casa. Aquele pelo menos não estava apinhado de gente.
Me sentei sem vontade de conversar, fechei meus olhos e comecei a matutar sobre o atual mundo em que vivemos. Desde que nasci e me entendo por gente sei que este é um vale de lágrimas, um labirinto onde não há saída, temos que passar por ele, queiramos ou não, o que aprendi é que temos que ser íntegros tanto quanto possamos e trabalhar duro. Os homens criaram mais labirintos ainda, nos viciaram em refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados e coisas tais, agora surgem os especialistas (agora tem especialista pra tudo) e nos bombardeiam a cabeça dizendo que tudo faz mal, que causa câncer. Todos querem o conforto de andar de carro e comprar alimentos enlatados para não ter mais trabalho de colher feijões ou debulhar as espigas de milho, mas não querem o ar poluído pela fumaça das fábricas e dos veículos. O mundo está cansado. A natureza está exaurida, há pessoas demais. Até num bairro pacato onde moro, não se consegue um pouco de solidão, aquele momento a sós tão necessário à reflexão. Cheguei a pensar que se o planeta tivesse metade de sua população talvez fosse melhor. Mas será? Nos condicionamos a viver de uma forma que nos tornamos prisioneiros do monstro que criamos. Quem iria operar as usinas? As montadoras de carros? As fábricas de alimentos e de eletrodomésticos? A industria de entretenimento? A besta criada por nós cresceu a tal ponto que a humanidade atual não é suficiente para alimenta-la. Agora não vivemos mais sem internet, celulares e etc.
Mesmo que erradicássemos os desocupados, falo daqueles parasitas que sentem orgulho de serem assim, e os bandidos (leia-se assassinos, estupradores e tais) o planeta seria esta bagunça.
Niilista eu? Não, não mais. O evangelho de Jesus Cristo, assevera que este é um mundo de aflições, mas que tivéssemos bom ânimo, Ele tinha vencido o mundo.

Não liguem, meus queridos e queridas, minhas filosofias são risíveis, eu sei, então vamos às artes de hoje que a coisa é séria (bem, nem tanto), elas são detalhes de uma capa para o livro chamado "Uma Véspera De Reis" do Artur Azevedo.


 




IRACEMA ( 02 )

$
0
0


Já está se tornando hábito minhas segundas-feiras serem tormentosas, uma boa forma de começar a semana, cheio de adrenalina. Contudo, não vou relatar, sob risco de parecer repetitivo; pra piorar ontem a tarde não estava conseguindo acessar o blogger, só ontem a noite é que saquei que o problema era com o navegador que estava usando, porém ainda desconheço a causa do bloqueio pelo Chrome.

Mas hoje, cá estamos, Graças a Deus, para deixar com vocês mais algumas imagens para o clássico Iracema.
Bom dia a todos.


BIG ARNOLD.

$
0
0


Foi Bruce Lee quem abriu as portas para que eu me interessasse por atividade física, logo a seguir foi Jackie Chan com suas proezas típicas de lutador de Kung Fu mesclado a atleta olímpico; mas minha inclusão no mundo das artes marciais foi desastrosa, entrei com o pé esquerdo, ao invés de encontrar pessoas que pudessem me ajudar a vencer meus problemas de auto-aceitação me deparei com indivíduos omissos ou arrogantes, fora que eu não tinha grana pra frequentar academia. Mas fui tomado pela febre dos exercícios corporais mesmo quando pela primeira vez vi umas fotos do Arnold Schwarzenegger. Foi ainda nos anos 70 numa revista de musculação. O fisiculturismo naquela época ainda sofria uma série de preconceitos, tais como: quem pratica é homossexual, é broxa, tem pau pequeno, é narcisista e por aí vai. Mas eu tava pouco me lixando, aqueles caras me pareciam aquelas esculturas gregas que eu tanto admirava.
No cinema eu via caras fodões como Charles Bronson e Clint Eastwood e sonhava em ser como um deles: durão, tipo, ninguém mexe comigo; mas eu era bunda mole demais. Na minha vida não faltou quem me fizesse acreditar que eu era a pior criatura na face da terra, a mais medíocre. Sem problemas, eu não tinha como provar o contrário, uma vez que eu mesmo acreditava ser um imprestável, alguém com serventia apenas como saco de pancada, mas seria um zero a esquerda com um bom porte, pelo menos. Acho que foi aos 14 anos que comecei com flexões e abdominais e nunca mais parei.
Brasília é uma cidade que propicia o condicionamento físico. Logo comecei a correr, fazer barras e paralelas. Tentei incutir o gosto por atividades esportivas em meus irmãos, bem como ensina-los a abominar coisas que eu considerava perniciosas ao corpo, como tabaco e bebida alcoólica.

No Rio de Janeiro ao praticar um pouco de boxe, vi a necessidade de aumentar a massa muscular e assim que pude comprei uns pesinhos para me exercitar. Virei um fanático pela coisa, como não podia frequentar uma academia, eu improvisava paralelas em cadeiras, levantava botijões de gás, cheios ou vazios, o que estivesse à mão, subia vários lances de escadas na maior velocidade possível tanto quantos os músculos de minhas pernas aguentassem. Quando tinha que ir a algum lugar e a distância não fosse impossível, eu ia correndo. Vivia suado.

Isto inspirado em boa parte por Arnold.


Na verdade, acabei me desviando um pouco do objetivo deste post, que era comentar sobre a biografia deste que se tornou o maior fisiculturista de todos os tempos. Como fã, um relato de sua vida, em suas próprias palavras, era algo que eu não podia deixar passar. Meu irmão me deu o livro no final do ano passado e eu o devorei em pouco tempo.
As melhores partes, claro, foram seus relatos sobre seus primeiros anos de pobreza na Áustria, sua aversão ao comunismo, sua dedicação ao fisiculturismo e sonho de tornar o esporte popular bem como ser o maior de todos na modalidade, suas aventuras como recruta no exército até sua chegada nos EUA, se tornar republicano a partir dos discursos de campanha do então candidato à presidência Richard Nixon, suas vitórias no Mister Universo e Mister Olympia. Na verdade o livro se divide em três partes, os anos como campeão de musculação, sua entrada no mundo do cinema onde ele se tornou o mais bem pago ator de filmes de ação e seu período na política como governador da Califórnia.
Tudo conquistado com muita luta. Pra se ter uma ideia o projeto de se levar Conan ao cinema levou uns cinco anos até virar realidade. Muitas vezes o livro, na maneira como é escrito, assemelha-se a um manual de auto-ajuda. Tenha objetivos, planeje, empenhe-se, conquiste. Ficou rico muito antes de se tornar ator em Hollywood, investindo no ramo imobiliário.
Arnold teve a cara de pau, eu diria, de insistir em se cercar dos melhores e aprender com eles e não se deixar abater quando as coisas pareciam não avançar. Diziam que para ser protagonista em um filme ele não serviria, tinha um físico muito grande, o nome era impronunciável, o sotaque alemão muito forte e o pior, um ator limitadíssimo. Ele se esforçou muito para suplantar essas barreiras e muitas delas usou a seu favor. Na maior parte dos relatos notei que não temos nada em comum. Ele gosta de aparecer, falar com todos quanto possa, estar ao máximo em evidência, eu não, eu prefiro a invisibilidade, a minha pessoa não importa, apenas o que sai do meu lápis.
O livro tem seus trechos maçantes como sua vida matrimonial e os meandros da política, mas tudo bem, é a vida dele e ele tinha que esmiuçar. Não se isenta de culpa, fez muita besteira por ser um boquirroto, mas faz parte da existência de todos.

Minhas sincera homenagem e agradecimento ao Arnoldão por ser um bom companheiro de jornada. Espero termos ainda muito que caminhar.





IRACEMA ( 03 )

$
0
0


Mais umas imagens do clássico Iracema pra fechar a semana.
Nice weekend for all.



ZÉ GATÃO E OS ESCÂNDALOS.

$
0
0


A arte de hoje é uma fanart de Zé Gatão criada pelo Gil Santos, um jovem artista pra lá de talentoso. É muito legal ver sua criação nos traços e cromatismos de outros artistas. Obrigado Gil, de coração.
É curioso notar que a visão do Lancelott para o felino é a postagem mais popular deste blog a muito tempo.
                                                                        
                                                                          ****
Sábado último, estreou na Rádio Federal de Brasília, o programa ENERDIZANDO, capitaneado pelo grande artista Nestablo Ramos Neto, criador das hqs Zoo, PETS, Carcereiros entre outros. O programa discute e divulga a cultura nerd com informações sobre séries, cinema, quadrinhos, games, mirabilias e tutti quanti, tudo entremeado de boa música e muito bom humor. Prestigiem, é todo sábado de 10 hs da manhã ao meio dia,   http://www.radiofederal.com.br/ .

Aconteceu um negócio interessante no programa, o Nestablo convidou umas pessoas a participarem, um rapaz, dono de uma loja de toys (se entendi bem), e uma garota que faz cosplay - aliás ela foi à radio vestida de Capitã América - bem, a certa altura entre os muitos comentários dos participantes, mandei um recado via e-mail ao programa sugerindo ao Neto que fosse pautado, quando possível, uma matéria falando dos veteranos dos quadrinhos brasileiros, pessoas como Colin, Zalla, Shima e outros. Minha mensagem foi lida e tiveram a fineza de me apresentar como o criador do felino antropomorfo Zé Gatão. Neste ponto a Capitã América interrompeu para dizer que a muitos anos quando ela era ainda uma criança, na casa da avó, havia um exemplar do Zé Gatão no armário (acho que foi isso) e ela folheou o álbum. O que ela viu ali a traumatizou profundamente. Ela colocou emoção na voz: "Cara, o pior é que ele é um bicho!" Evidentemente um puta feedback negativo. Notei que o Netão fora pego de surpresa e a única coisa que ele pode dizer em minha defesa (muito acertadamente) é que aquilo se tratava de quadrinho underground destinado ao público adulto. 
Me vi mais uma vez na mesma lista onde figuram Crumb, Bukowski e Liberatore sem ter a mesma projeção deles.
Não sei o que foi dito no intervalo mas a mina depois se desculpou no ar comigo pelo seu testemunho desastrado.

Sabem, nesta horas eu tento rir da situação e pensar como o tremendão Erasmo Carlos: "Falem mal, mas falem de mim." Mas fico me perguntando se há motivo para tanto barulho. Sei que ninguém tem a obrigação de saber mas os quadrinhos de Zé Gatão embora contenham muitas cenas de ação e filosofia barata, ele serve para mim como válvula de escape. Um meio pelo qual eu possa dar vazão aos meus arroubos de fúria.
Só isso.

Certa vez no Park Shoping em Brasília, durante uma tarde de autógrafos fui acusado por uma mulher de ser "INDECENTE". Fui barrado de ter uma matéria publicada numa revista especializada em cultura pop pelo editor e acusado de ser IMORAL e VIOLENTO.
Tenho muitas histórias mais para contar, mas não me resta paciência para faze-lo. Estou enfastiado de me justificar. Não concebo hqs para agradar, mas para sacudir e mostrar como vejo este mundão "bonito" que aí está.
Apesar disso tudo Zé Gatão continua na estrada. Não lhe resta alternativa, ele tem que faze-lo. E eu também.

FAN ART DE ZÉ GATÃO POR CHAIRIM ARRAIS.

$
0
0

Uma bela homenagem da desenhista e designer Chairim Arrais esta, não concordam? Fiquei particularmente empolgado com a ilustração, pois é a primeira arte do felino feita por uma mulher jovem e muito talentosa, trazendo cores mais sensuais e menos tristes para o universo de Zé Gatão.


Obrigado, Chairim!







PARA MUITA GENTE, DESENHISTAS NÃO PASSAM DE BOSTA DE CACHORRO COLADOS NAS SOLAS DE SEUS SAPATOS.

$
0
0


Conheço muitos desenhistas, artistas, designers, ilustradores, quadrinistas e sei lá mais o quê. Alguns chegavam a ter todos os títulos citados. Grandes astros de uma constelação de meia dúzia. Noventa por cento deles são uns tipinhos que se julgam muito maiores do que na verdade são. Claro, temos caras fantásticos, pessoas que me ajudaram, inclusive. Mas são excessões, não regra. Junte a isso, os editores ou diretores de arte, os críticos e jornalistas especializados na área e, pronto, você tem um ambiente composto de muitos caciques e poucos índios.
Se isto tivesse pelo menos criado um mercado que valorizasse quem trabalha a sério ainda vá lá, mas não é isto o que acontece. Desenhista, este eterno coitado, ainda é aquele cara que faz algo do qual podemos passar sem, ou sempre tem um que faz melhor e mais barato.
Depois de mais de 30 anos trabalhando profissionalmente em estúdios de produção, em agências de publicidade, produzindo campanhas, quadrinhos, ilustrações e o que mais você possa imaginar dentro da área, hoje ainda tenho que aguentar pessoas me pedindo desenho de graça. Quando a arte já está pronta, eu até cedo, não porque eu queira fazer o gênero gente boa, não é isso não, é que não me custa, uma vez que não vou precisar suar a camisa, o produto já está criado e eu sei que nem todo mundo tem grana pra bancar, e uma divulgada pro meu nome sempre cai bem.
Não faz muito tempo, um pessoal de teatro me pediu umas artes para promover um espetáculo. Não posso, disse eu, estes desenhos são de propriedade de tal editora, falem com eles, se liberarem, por mim tudo bem. A tal editora não liberou.
-Puxa, será que o senhor não faria outros pra gente?
-Posso sim. Custa $$$ cada arte.
-Nossa, tudo isso!?!
-Na boa, não tá caro não, costumo cobrar bem abaixo das tabelas do mercado.
-É que nosso orçamento tá muito reduzido, mas vou falar com o patrocinador e te retornamos.
-OK.
E nunca mais dão notícias. É incrível, mas isto acontece com uma frequência que vocês não imaginam.
-Quanto você cobra pra pintar meu retrato? Eu queria um desenho assim e assim, quanto é? É só eu dizer o preço e a pessoa nunca mais toca no assunto. Acho que elas gostariam que eu respondesse que é uma honra fazer a arte de graça, afinal isto não é trabalho, é diversão. Como se trata de traços e cores num papel não é para ser levado a sério.

Faz muito anos em São Paulo, meu irmão era residente em medicina e trabalhava com um renomado cirurgião que me encomendou umas ilustrações para um livro que ele estava escrevendo. O prazo era apertado, pois ele queria levar as artes para um congresso que haveria na Grécia dali a pouco tempo.  Acertamos o preço e lá estava eu varando noites, desenhando e aquarelando tripas. Na data de entrega do trabalho o tal professor não pode aparecer no local, mas deixou instruções com meu irmão para que eu pegasse um táxi e fosse até onde ele morava para levar os trabalhos e fazer possíveis correções. Dei o endereço ao taxista e lá fomos, ficava num local longe pra burro, um condomínio fechado de mansões. Passava das 21 horas e o cara do táxi errou o local duas vezes. Por fim chegamos. O professor conversou com o motorista e pediu que esperasse. O taxímetro ficou ligado. Entramos. Levei material para fazer os reparos necessários. Quando terminamos passava da meia noite. Ele fez o cheque e me pagou. Acertou o valor com o taxista - que não sei quanto foi - o que incluía me deixar em casa.
No dia seguinte, meu irmão me disse que o professor me achou muito careiro. Dá pra acreditar? O cara deve ter pago uma grana preta ao motorista de táxi por toda aquela operação e achou alto o valor pelas artes que ele publicou em seu livro, que aliás, foram bastante elogiadas, segundo soube depois.

Trabalho anda difícil, pelo menos por aqui.
Soube por um outro desenhista que tal fulano está agora desenhando Red Sonja para uma editora americana. Vi umas páginas (boas pra caramba).
-Esse cara deve estar ganhando uma grana legal!
-Ah, sim, 40 dólares por cada página finalizada.
-Quê?!? Só 40 dólares!?! Tá de brincadeira?
-É que ele tá começando agora.
-Mesmo assim. Já vi preços melhores aqui no Brasil!

Editores me ligam chorando as pitangas. Me pedem paciência para efetuar meu pagamento. A coisa anda ruim e tal. Tá ruim mesmo. Imagino que esteja complicado pra todo mundo. O que sei é que sem desenhista não existe um produto para eles colocarem no mercado. Sem desenhista o público não terá o que ler, seja uma hq ou um manual de como aprender o ofício.

Reparo que existe uma porção de gente querendo aprender a desenhar, hoje existem muitas oficinas, palestras e o que mais você imaginar, além é claro da internet que oferece scans de obras como as do lendário Andrew Loomis por exemplo e tutoriais disso e daquilo. Num tempo não muito distante teremos um monte de gente desenhando mas ninguém para ler o que eles ilustram. Parece até argumento de um episódio de "Além Da Imaginação".

Os desenhadores legais que conheci e que tantas dicas dividiram comigo se tornaram competentes  aprendendo na dura lida diária, lendo gibis, indo a museus, tentando na solidão de seus quartinhos criar algo parecido com o que faz seu ídolo, seja ele Kirby, Frazetta ou Rembrandt. Estudou por conta própria num período onde escolas formadoras deste tipo de profissão não existiam ou eram muito caras; um tempo em que não tínhamos tantos títulos disputando espaço nas bancas. Isso tudo para ter que passar por certas situações vexatórias.
É a vida.





MINHA ROTINA ATUAL.

$
0
0

Acordo entre 6:30 e 7 horas. As vezes fico uns 10 minutos enrolando na cama.
Faço a refeição matinal que consiste em sanduíches frios, ovos cozidos, bananas e suco (não tomo café, não suporto), as vezes uma vitamina ou chocolate quente, há variantes.

Após um banho e higiene bucal, sigo para o quartinho que me serve de estúdio, meu mundo particular, com meus livros, tintas, pincéis, papeis e etc, para ganhar a vida.
O ventilador sempre ligado. Trabalho quase invariavelmente ao som de música. Neste momento estou ouvindo Talking Heads.
Atualmente estou ilustrando MARÍLIA DE DIRCEU do Tomás Antônio Gonzaga.

Pontualmente ao meio-dia, Verônica me chama para o almoço.   
Ao final, enxugo a louça que ela vai lavando.
Ultimamente tenho tirado um cochilo após a refeição (tenho sentido certa cefaléia e sonolência devido aos efeitos colaterais de uma medicação que preciso tomar), mas em geral dou continuidade ao trabalho logo após o alimento. Tenho que ressaltar que não produzo o meu máximo no período vespertino.
Nunca deixo de ler, atualmente devoro a biografia do Johnny Ramone.
Entre 3 e 4 horas como uma fruta ou tomo uma vitamina.
Perto das 5 horas saio para ir à padaria. É bom respirar um pouco o ar que vem do litoral.

Tomo outro banho e janto entre 18:30 e 19 horas.
Infelizmente, pra ser sincero, estou negligenciando meus exercícios físicos. Sempre prometo que vou voltar aos pesos e caminhadas, mas vou adiando. Quem me viu, quem me vê.

Como minha produção é muito boa à noite, volto ao estúdio para mais umas horas de trabalho até por volta das 23 horas.

Antes de dormir assisto com minha esposa algum programa ou série. Terminamos a sétima temporada de Dexter a agora estamos vendo a terceira de Walking Dead.

Não consigo ir pra cama se não tomar um banho. Durmo entre 12:30 e 1 da madrugada. 

Basicamente é isso, quando não tenho que resolver coisas na rua.



IRACEMA, CENAS FINAIS.

$
0
0

 Bom dia queridos e queridas.
Para começar a semana, mais imagens de IRACEMA.
Seguimos nos fanado oportunamente.





O PRIMEIRO HERÓI FANTASIADO.

$
0
0


A última vez que vi o velho Schloesser, foi em 1968. Ele estava deitado em um leito de hospital, com um curativo sobre um dos olhos (não lembro qual) devido a uma cirurgia para remoção de catarata. Foi estranho ve-lo ali, tão fragilizado, os bigodes branquíssimos, a barba por fazer, ele que sempre tivera um porte tão distinto. Ele morreria no ano seguinte motivado por um ataque cardíaco. Mas eu saberia disto muito mais tarde, quando as lembranças dele, como hoje, já estavam envoltas em brumas. Não tenho recordação se perguntava dele à minha avó. Hoje não há como saber, ela se foi a muito.

Daquela casinha em Cumbica onde me lembro que morei com meus avós maternos até os acontecimentos que narro hoje parece haver uma lacuna em minha memória, sei que moramos depois numa pequena casa em Guarulhos de propriedade de uma amiga da minha mãe. Desta vez éramos apenas eu e minha avó. Rememoro muitas caminhadas, sempre em casas de conhecidos dela. Não há como esquecer aquele menino, cujas rodas de um ônibus deixaram esmagado em frente a uma igreja próxima à nossa residência. Assomo os muitos velórios, flores, velas de cemitérios, os rádios antigos, as músicas que tocavam muito naquele período, coisas da Jovem Guarda, muito Roberto Carlos e Beatles. Por onde eu andava naquelas estradas de chão ladeadas por matagais, de algumas casas vinham sons de "Hey Jude", "Quando" ou "Brucutu". Minha avó em particular acoradava muito cedo e sintonizava o seu dial em programas de música sertaneja, daquelas bem antigas, de viola.
Certa vez na casa de alguém, numa manhã, um aparelho transmitia o programa do Gil Gomes, e aquela voz peculiar narrando casos escabrosos da violenta vida cotidiana, eu ouviria muitas vezes, à minha revelia, nos anos porvir.

Não raro, minha avó desmaiava em algum lugar, sempre na casa de alguém, por este motivo, analisando hoje, não dá pra discernir se isto acontecia devido a um derrame que ela tivera muitos anos antes (e lhe custara um olho) ou se a sua lendária necessidade de atenção a fazia encenar um ato dramático. Qualquer que fosse a causa, ela produzia em mim um efeito devastador.

Meu melhor período nestes anos foram os tempos que que minha mãe pagou ao Seu Evilásio e Dona Sebastiana, velhos conhecidos dela, para que eu e minha avó fôssemos morar na chácara deles até que a vida estivesse finalmente organizada. Na verdade aqueles senhores eram caseiros do lugar, tal sítio não pertencia a eles, mas a um sujeito que aparecia de quando em quando chamado Aníbal.
Foi uma época muito difícil para minha mãe, exposta a todos os tipos de constrangimentos, sei hoje, por vagas evocações minhas, como foram custosas as negociações para que permanecêssemos lá.
Uma série de tragédias em que ela foi coadjuvante, a dura luta com as enfermidades do pai, até o desfecho com a morte deste, a fizeram por uma pedra sobre tudo o que se relaciona com este ciclo. Tanto que ao indagar-la por alguns fatos para que melhor ficasse esclarecido aqui, ela me disse que não se recorda e prefere não lembrar. Tenho que respeitar.
Mas alheio a estes imbróglios de adultos, eu gostei de morar aquele ano na chácara. Sentia-me mais seguro. Havia o neto da Dona Sebastiana que ela criava como filho. Foi o primeiro amigo. A vida era uma brincadeira só, frutas comidas diretamente dos pomares, caquis, ameixas, uvas (que estavam sempre azedas), goiabas, enfim, foi o meu período "Chico Bento". Muitas sovas também, por desobedecer a vovó. Que mão pesada tinha aquela senhora!
Certo dia meus pais vieram nos visitar. Foi uma bela surpresa. Minha mãe sempre trazia um brinquedo para mim e para o outro garoto. Meu pai desta vez parecia mais descontraído do que das outras vezes que eu o tinha visto. Sorria e conversava.
Foi naquele lugar que eu tive contato com a primeira história em quadrinhos. Disney. 000 e Pata Hari. Mas eu só saberia do que se tratava muito depois.
Seu Evilásio com seu rádio verde e branco de pilhas, a noite ouvíamos novelas de rádio. Teria saído daí o meu gosto por contar histórias? 
O que mais me lembro? Aranhas, cobras, borboletas multicores que lutávamos para pegar, os mais velhos diziam que aquele pozinho das asas das borboletas causavam cegueira se colocadas no olho.
Bebíamos água de poço. Andávamos, eu e o amiguinho, sempre descalços, estávamos cheios de vermes. Minha mãe trouxe um vermífugo e ao toma-lo recordo-me que passei muito mal, botei muita lombriga pra fora.
Uma das piores dores de que tenho memória se deu naquele sítio, botei a mão sobre um Mandruvá. Chorei o dia todo, só não sei o que me deram pra me curar daquilo.
Tivemos um Natal por lá. Minha genitora me presenteou com um belo trenzinho amarelo, e trouxe um caminhãozinho para o outro guri.
Teve o caso do "Robbie, o Robô", mas este eu já relatei numa outra postagem com o mesmo título.

Em 1969 finalmente fomos, eu e minha avó, morar com meus pais. Sair da chácara foi um tanto traumático, eu tinha criado raízes ali, tinha um amigo, o primeiro que tive na vida e que muitos anos mais tarde me daria as costas, ignorando toda a infância que tivemos.

Nossa nova residência ficava próxima à base aérea de Cumbica. Era um casarão que pertencia à dona Bárbara, uma alemã, amiga do meu avô. Foi ali que minha vida de fantasias começou. Muitos livros, revistas e televisão.



O primeiro herói na minha vida foi o National Kid, um ser que veio do planeta Ândromeda para lutar pela paz na Terra contra os Incas Venusianos, depois contra os Seres Abissais, seguidos pelo Império Subterrâneo e os Zarrocos do Espaço.
Eu vivia correndo com os braços abertos sonhando que era o herói em seu voo e todos gostavam de mim. Era uma tristeza quando o seriado, por algum motivo, não era exibido. Acompanhei-o enquanto foi transmitido na tv. Ainda lembro da frase de abertura dos anos 60:
"Mais veloz que o jato, mais duro que o aço, super-homem invencível, cavaleiro da paz e da justiça,
Nacional kid!"


Muitas coisas mais a contar sobre minha permanência naquela casa, mas ficará para uma outra postagem.



Viewing all 669 articles
Browse latest View live




Latest Images