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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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ENTREVISTA CONCEDIDA À P.A.D.A. EM 2012.

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1) Para quem não conhece ainda, fale-nos um pouco sobre o Zé Gatão.

ES - Vivendo num universo antropomorfo (animais humanizados), o personagem título é um gato mestiço de lince que luta para sobreviver num mundo implacável e caótico. Ele é  soturno e com problemas de adaptação, não venceu na vida, tem o utópico desejo de ter um emprego fixo, uma companheira e viver longe da pressão cotidiana. É basicamente isto.

2) Seu trabalho como Zé Gatão é bastante visceral e polêmico. A violência e o sexo chegam a ser explícitos, chegando a incomodar os mais puritanos ou sensíveis. O que o leva a inserir elementos tão “pesados” em suas histórias? Você os julga realmente necessários?

Es - Minha proposta quando iniciei esta série era retratar o mundo conforme eu o via (e sentia) sem maquiagens, não poupando o leitor, se ele estivesse afim de algo "suave e engraçadinho" que fosse ler as histórias do Bidu. Preciso sublinhar que nunca fiz hqs para agradar ao público, e sim usar a narrativa gráfica como uma catarse, um meio onde eu pudesse berrar a plenos pulmões cada vez que algo na minha própria vida me incomodava, uma forma de extravasar minhas frustrações, na minha cabeça é algo que se aproxima da teoria do "Grito Primal" do Arthur Janov. Já reparou que na maioria dos crimes violentos tem sexo envolvido? Daí o porque d´eu raramente separar uma coisa de outra. 
Se julgo necessário? Não, necessário não é, mas eu me identifico mais com os filmes do Quentin Tarantino que os do Frank Capra.   


3) Por outro lado, Zé Gatão também vai fundo na discussão filosófica da procura do eu e na denúncia de problemas sociais como pobreza, truculência policial, corrupção e, até mesmo, falta de educação nas grandes cidades. Por que tocar nesses assuntos em uma história onde a ação é o principal chamariz?

ES - Como já disse, uso os quadrinhos  (embora pareça presunção da minha parte) como uma forma de terapia. Inserir os temas que você citou em minhas aventuras seria algo natural, pois são coisas que me estarrecem. Quanto "a procura do eu"é algo que acrescento de forma meio instintiva. Embora eu faça minhas hqs para mim mesmo, há sempre alguém que se identifica, que grita de volta, a presença de alguma filosofia (ainda que barata) existente em Zé Gatão é uma forma de me comunicar com aqueles que veem meu trabalho como um espelho.


4) Quais são seus mestres e quais as suas fontes de inspiração?

ES - Muitos, vão de Gustave Doré aos ilustradores americanos da "golden age", mas sempre repito que o trio que serve de base para o meu trabalho, são Richard Corben, Bernie Wrightson e Tanino Liberatore. 

5) Quais os trabalhos que você está envolvido no momento?

ES - O que tem colocado comida na mesa (desde sempre) são as ilustrações para livros; a mais de três anos tenho criado imagens para os clássicos da literatura brasileira para uma editora de Recife, paralelo a isto, crio álbuns e manuais de desenho para editoras de São Paulo. Nos quadrinhos estou trabalhando numa biografia do poeta americano Edgar Alan Poe roteirizado por Rubens Lucchetti, mas infelizmente tive que interrompe-la momentaneamente por falta de tempo, devo recomeça-la assim que minha vida serenar um pouco. 

   
6) Como você avalia o cenário Nacional atual? E quais são os nomes que merecem destaque?

ES - Não há resposta fácil, os quadrinhos aqui se parecem muito com o próprio Brasil, está crescendo, muitas mudanças pra melhor, a maioria dos gringos já sabem que existimos (e não só por causa do Pelé e do café como era antigamente), tudo muito bonito e tals, mas para o cidadão comum, que acorda cedo, pega ônibus, trabalha duro por seu salário (que nunca acompanha o aumento das coisas) o cenário parece sempre ser o mesmo. Ano passado tivemos recordes de publicações, inclusive eu, com dois álbuns de Zé Gatão. O problema pra mim é que a maioria foi de independentes. Romanticamente falando é muito bonito, mas ainda não temos um mercado. 
O material independente, com raríssimas exceções, é algo que atinge poucas pessoas, geralmente da sua própria tribo, e isto não permite ao autor viver deste ofício. Estamos avançando, diriam os mais otimistas! Sim, de fato, mas avançando pra onde? Há anos estamos nesta luta, e se 2011 foi profícuo para as hqs nacionais, o mesmo não pode se dizer de 2012, se não estou enganado. Não parece haver uma evolução no quadro, mas uma parada para recuperar o fôlego, e sabemos o que acontece quando o atleta para pra respirar, ele perde o pique. O que sobra no final são sempre os mesmos no pódio, aqueles bem aventurados com recursos para emplacar seus trabalhos aonde o mercado ainda sobrevive, como nos EUA, por exemplo. Estes mesmos já tem destaque demais para que eu cite seus nomes, prefiro falar daqueles que batalham a muitos anos sem o mesmo reconhecimento. Sou um fã do pessoal da velha guarda, como Júlio Shimamoto, Sebastião Seabra e Artthur Garcia, mas pra mim, atualmente, disparado, o maior autor brasileiro é o Nestablo Ramos Neto.      

7) E o Nordestino (e mais especificamente, o Pernambucano)?

ES - Pelo Facebook tive contato com um rapaz muito bom chamado Alan Goldman, arte sensacional, o cara é muito bom! Aqui em Pernambuco gosto dos traços do Wamberto Nicomedes e Rael Lira, mas meu destaque vai para o Luciano Félix, é raro um desenhista com talento pro humor ter uma narrativa gráfica e design de página tão brilhante como ele expressa em seu trabalho. Como roteirista, algo ainda pouco destacado no meio, eu gosto do Léo Santana.

8) Muita gente já deve ter lhe perguntado se o Zé Gatão era um alter-ego seu. O que você diria para essas pessoas?

ES - Acho que todo autor coloca muito de si em seus personagens, mas no meu caso e de Zé Gatão isto é escancarado, as coisas que disse acima sobre o personagem parecem muito com minhas próprias características, principalmente quando era solteiro e andava mais perdido. Porém, o que posso dizer é que eu o uso para coisas que nunca tive coragem de falar ou fazer. 


 9) Quais os artistas ou grupos que você destacaria no cenário Nordestino como de relevante importância para os Quadrinhos Nacionais (Sejam produzindo ou incentivando os quadrinhos e artistas nacionais) ?

ES - A PADA tem realizado um trabalho hercúleo no sentido de promover e publicar as hqs aqui em Pernambuco, aliás, não conheço outro grupo que faça algo semelhante em qualquer outro lugar do Brasil.

10) Quais os projetos para esse segundo semestre de 2012 e para o próximo ano?

ES - A Devir promete para este ano ainda a continuação de Zé Gatão-Memento Mori, há também um outro álbum totalmente fora do universo Zé Gatão, pronto já, desde 2004, esperando um momento apropriado para oferecer ás editoras (não sei se será bem aceito, pois é muito truculento e recheado de cenas de sexo), além da já citada bio do Poe. Se tudo isto dará as caras o ano que vem, só Deus sabe.  

 
11) Como você definiria o Eduardo Schloesser e seu trabalho?

ES - Sinceramente? Como um animal em extinção, tanto na forma como vejo o mundo, como na forma de executar meu trabalho.  


12) Você tem algum sonho ou objetivo que ainda espera alcançar?

ES - Desde que comecei neste meio, em 1986, em Brasília, e principalmente no início dos anos 90, quando retornei a São paulo, eu tinha grandes expectativas em relação as artes. A maioria foi frustrada. Tive algumas realizações, poucas me trouxeram o retorno financeiro tão sonhado. Hoje, chegando aos 50 anos, não me dou ao luxo de esperar nada além do que o que tenho conquistado. 
Não posso reclamar, penso que meu trabalho é pouco comercial e mal divulgado, ainda assim publiquei quatro álbuns de Zé Gatão, várias histórias eróticas, diversas revistas de passo a passo de desenho e quatro álbuns de anatomia, dois deles esgotados.
Há quem diga que meu antropomorfo teria boa aceitação no mercado gringo, ainda não queimei este cartucho e nem sei bem como faze-lo, mas está na pauta, assim que tiver mais tempo livre.
Ainda espero poder escrever e desenhar uma última saga de Zé Gatão para por um ponto final na carreira do personagem, e também criar um álbum com algumas histórias do cotidiano que a anos pedem pra sair da minha cabeça. Veremos.  

13) Espaço Livre: Fique agora a vontade para dizer o que quiser para os leitores dessa sua entrevista:

ES - Aos que não me conhecem, procurem pelo que já produzi, pode ser que vocês gostem e entabulemos uma amizade, ainda que através da 
 magia autor, trabalho, leitor, ou mesmo face a face, quem sabe?

Aos que que já leram as bobagens que escrevo e desenho, por seu prestígio e paciência, a minha 
gratidão.







CONTOS FLUMINENSES ( 07 )

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Não consegui trabalhar hoje, estou tentando mas minha cabeça não foca no assunto. Ilustrar livros didáticos significa ler textos e interpreta-los na forma de desenhos, pode ser o óbvio ou algo tolo, mas tem-se que arrumar solução plausível para o problema. Mas hoje não está sendo o dia, acontece quando há um problema imediato tirando a paz. Amanhã tudo dará certo.

Finalmente consigo voltar a este blog, ultimamente tá complicado; vir aqui apenas para dar um oi, colocar um desenho qualquer não me bastam, vocês que estão acostumados com meus blá-blá-blás merecem mais que isto, e também é verdade que não tenho nada relevante para dizer no momento, gostaria muito de postar um conto que tenho na minha cabeça a tempos e não arrumo jeito de lapidá-lo e escrever, tampouco a continuação de umas memórias da infância, mas não encontro paz de espírito para tanto.
A culpa é da minha situação atual, os trabalhos estão um tanto irregulares, os pagamentos também. No início desta semana me antecipei e perdi parte do meu dia indo até a editora assinar os contratos, tudo pra ver se recebo mais rápido. Não recebi e ainda ouvi dizer que haverá um período de entressafra por lá. A coleção de livros clássicos, que ilustrei mais de 40, deu uma parada por conta de umas modificações nos setores editoriais e não mais se definiu. Se Deus quiser em janeiro do ano que vem começo a bater em novas portas, tal qual um vendedor de enciclopédias, daí vamos ver se teremos novidades, por hora continuo com desenhos para livros didáticos. Mas quem sabe as coisas não mudam? Espero. Trabalho para eles já vai fazer 4 anos, sempre me deram bastante liberdade e pagam direitinho. Me acomodei muito nos últimos anos, não fico mais brigando tanto por aumento de valores, desde que dê para manter o padrão de vida a que estou acostumado e, creiam, é bem modesto. Aguardemos os acontecimentos.

A bíblia diz que aquele que encontra uma ESPOSA, encontra uma benção de Deus, e eu encontrei. Claro, temos nossos problemas, mas quem não tem? Esta semana ela disse pela milésima vez que assim que ela tiver condições me dará uma vida de rei. Poderei me dedicar totalmente à pintura a óleo e escultura em argila, publicar meus quadrinhos sem ter que precisar de editora, apenas para atender ao meu público. Oxalá isso fosse mesmo possível pois me sinto bastante cansado. Meus irmãos disseram o mesmo algumas vezes.
Quem sabe uma hora, né? A Verônica participa de tudo que é promoção que aparece, do chocolate ao produto de cabelo. É só o caldo de galinha anunciar o sorteio de casas e um X e grana e lá está ela se cadastrando. Uma hora....
Mas enquanto isso não acontece eu continuo trabalhando duro.

Tenho uma novidade para os que gostaram do conto de Zé Gatão chamado de SECA CRUEL escrito pelo meu amigo Luca Fiuza, ele já deu início a uma continuação. Li a primeira parte e posso afirmar que está tensa. Já esbocei duas artes para a narrativa, pelo menos o que temos até agora. Esperemos que ele acabe o quanto antes para estar logo por aqui. Da minha parte fico muito satisfeito, já que a Devir demora para lançar a conclusão de Memento Mori, o felino mestiço invocado continua vivo por outros meios.

Acabei de assistir a primeira temporada de Under The Dome, série baseada no livro do Stephen King, que tem a produção executiva do mesmo e do Spielberg. No começo achei morno, mas depois acabei me envolvendo, claro, não se compara com Breaking Bad, uma das melhores séries de todos os tempos, mas dá para divertir, espero que a segunda temporada não demore tanto.

Estou lendo Amberville, a Lista da Morte (estou gostando bastante, Carla, tanks again). É incrível se envolver numa trama onde os personagens são todos bichos de pelúcia.

Atualmente ouço PRIVATEERING, o último cd do Mark Knopfler, eita músico foda!

Histórias em quadrinhos? O de sempre.

Mais uma cena de Contos Fluminenses pra fechar a semana.
Cuidem-se.













APENAS ESBOÇOS E NADA MAIS.

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Definitivamente perdi leitores deste blog. O número de visualizações caiu drasticamente. Deve ser, com certeza por causa do aviso de conteúdo adulto. Este espaço continua o mesmo mas a maioria não sabe disto, pensam, talvez, que ele agora contenha imagens pornográficas ou textos subversivos, sei lá. Bem, já tentei reverter o processo, mas não sei como esta joça funciona direito até hoje, e por outro lado, quem se espantou dificilmente vai voltar. Deixemos assim por enquanto. Importa mesmo são os que continuam me acompanhando e que gostam do meu trabalho, independente do conteúdo.

Tenho trabalhado em câmera lenta. Didáticos não inspiram muito. Estou me sentido estranho, não exatamente no corpo, apesar de muita coisa nele não estar reagindo como acho que deveria, a dor nos calcanhares que me atormenta quando caminho um trecho mais longo continua, associada a uma perene fadiga muscular, mas é mais o fator psicológico que me incomoda. Uma tristeza muito grande me acossa já faz um bom tempo.

Tem algumas coisas que dão mesmo preguiça, cortar as unhas é uma delas, as minhas estão bem aparadas, mas a barba está de uma semana, começa a coçar. É algo tão simples e que demora tão pouco tirar, mas eu vou postergando o máximo que posso, nem sei porque. Ainda bem que minha mulher não se incomoda com isto.
Sabem, se pudesse não sairia debaixo do chuveiro frio. Queria também que o tempo não passasse tão depressa, nunca dá tempo de fazer tudo o que queria.

Nem sei se estes esboços já deram as caras por aqui, realmente não lembro.

Cuidem-se, amadas e amados, são tempos difíceis.





COMMISSION : ZÉ GATÃO.

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Minha new commission não é sobre heróis das hqs gringas ou dos games como podem notar e fiquei muito feliz de executar, além dos motivos óbvios que me deixaram muito confortável, o cliente, uma pessoa ótima, fã ardoroso de Zé Gatão (não o conheço pessoalmente) deixou-me muito a vontade para fazer como melhor me conviesse, tema, técnica, formato e tals. De posse dessa liberdade viajei na ideia quando se trata de meu próprio personagem. Sabem, fico me perguntando se tenho algo dentro da cabeça para me divertir tanto com ilustrações assim, digo, devo ser muito adolescente (tô caminhando para os 51) para ficar desenhando animais cheios de testosterona saindo na porrada. Acho que sou maluco mesmo. Yeahhh!


É uma pena que neste país não se possa cobrar um valor legal por uma arte exclusiva destas que permita respirar aliviado por uns tempos (ainda não alcancei o mercado gringo e não tenho a menor ideia de como faze-lo), tenho que me adequar ao tamanho do bolso do cliente brasileiro. Mas tudo bem, uma arte de encomenda é algo legal porque ajuda a fugir um pouco dos trampos de editoras de livros. É diferente também de fazer retratos; queridos e queridas, como odeio este tipo de coisa! E já fui obrigado a fazer muitos pra defender um troco. Outro troço insuportável é pintar paisagens em paredões (Rio de Janeiro) ou figuras de mulheres peladas em cinema pornô (São Paulo). Hei, preciso fazer um post sobre estas experiências. Ok, qualquer dia, quando tiver saco eu faço.

Bem, estou um tanto vagabundo esses dias, então deixa eu ir trabalhar, a net já roubou uma boa parte da manhã.

Fiquem bem, e não deixem de me visitar aqui.
Beijão.

CONTOS FLUMINENSES ( CENAS FINAIS )

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No words, just drawings.
We talk when I have more time.
Kisses to all.


COMPLETANDO HOJE 51.

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Este texto curto corre o risco de parecer piegas, paciência. Hoje completo aninhos e não teremos imagens, pelo menos até agora; fui fotografado hoje pela manhã pelo meu cunhado em meu ambiente de trabalho, sem camisa, descabelado e barba por fazer e ele insiste em que eu poste as imagens. Não, disse eu, nada de fotos em blogs e redes sociais. Raramente tiro fotos, antigamente tirava mais e nem sei porque o fazia. Não gosto da minha cara e nem leio meus contos e hqs (não sem morrer de constrangimento). Talvez mais tarde eu poste essas fotos de hoje aqui por um curto espaço de tempo. Talvez. Vou pensar a respeito. É, posso me dar ao luxo de fazer cu doce, afinal passei de meio século.
Ontem a noite, como faço todos os dias de minha vida, agradecia a Jesus, pelos meus anos, por este que eu tinha conseguido sobreviver, e como sempre senti uma pontinha de tristeza, a causa pensei eu, é que sou abençoado demais e não me sinto merecedor de tais bençãos. Longe de ser rico, vivo num lugar decente, faço mais de três refeições por dia, pago minhas contas, sustento família com desenho. Quantos podem se dar ao luxo? Livros publicados, um personagem marcante, um bocado de fãs que sempre dão retorno das coisas que faço, e penso, são só desenhos, tem um monte de cara muito melhor por aí. Acima de tudo, tenho pais e irmãos maravilhosos, uma esposa dedicada e paciente e ainda me dou ao luxo de reclamar e achar que podia estar melhor. Meus livros demoram demais pra virem a público, podia ganhar mais pelas minhas artes, ter mais fãs, morar num local melhor e menos quente e por aí vai. Sou é muito ingrato, isso sim.

Almocei hoje muito bem e tivemos uma excelente sobremesa, mas foi só. Não teremos bolo nem festa. Minha família está longe. Aqui sogra e cunhados com muitos problemas para darem conta. Amigos também estão distantes e eu tive muito mais do que merecia. Me basta. Estou satisfeito. Devo tudo isto a Deus e a vocês que me acompanham por aqui, digo isto de coração.
Obrigado a todos.
Este é o primeiro dia caminhando numa estrada já conhecida e convido vocês, amadas e amados, a caminharem comigo.
Até mais tarde, quando talvez eu poste umas fotos neste texto, ou talvez não. Ainda estou pensando.

FOTO DO PRIMEIRO DIA COM 51

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Essa coisa de mostrar ou não a cara na internet já deu o que falar por aqui. Já postei fotos antes é claro, mas era numa outra situação. A família da minha esposa já pegou no meu pé por eu ser anti-social e tudo mais. Fizeram uma votação e quase por unanimidade querem que eu bote as fotos, todas o mais natural possível, só a Vera ficou do meu lado.
Ok, topei, desde que seja uma única e que fique no ar apenas neste fim de semana.
Então aí está (com minha cara sempre animada).


Até segunda ou terça, se Deus nos permitir.

TIMELESS, DE GILBERTO QUEIROZ.

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Quadrinhos são muito difíceis de se fazer, textos e desenhos tem que ser coesos, passa-se muito tempo na construção de situações que prendam o leitor. Uma boa hq tem que ter um narrativa competente, clima e "musicalidade" própria, ou seja, aquele "Q" que a diferencie das demais. Repetindo: é muito cansativo e complicado. Não a toa, conversando com o Jô Oliveira em Brasilia certa vez, ele me disse que depois de ter feito tantas pranchas de quadrinhos em sua juventude, não tinha mais paciência para tanto, dava preguiça. No lugar de uma página de quadrinhos ele preferia fazer várias ilustrações para livros, que aliás, eram muito mais rentáveis.
Malgrado tudo isso, qualquer um que tenha habilidade para desenhar e uma boa história para contar pode criar o seu gibi. Se não formos contar o fator tempo (time is money), é fácil, basta ter papel, lápis, borracha e régua. Depois dela completa, você pode grampeá-la e ela está pronta pra ser passada de mão em mão e lida por quem estiver disposto. Se tiver uma graninha pode ainda ser xerocada e distribuída no meio da moçada da sua comunidade. Só isso? Sim. Assim nasceram muitas boas ideias e fanzines. Minhas primeiras histórias em quadrinhos foram criadas como descritas acima, e eu só tinha um único leitor, meu amigo Luca, meus irmãos eram muito novos na época. Claro que uma coisa mais profissional a conversa é outra. Dizem que hoje ficou ainda mais fácil fazer gibis. Eu não acho. Embora tenha sido publicado em editoras de peso ainda encontro muita dificuldade para lançar meu material, talvez pelo conteúdo ou por não haver mercado, o fato é que estou mesmo convencido de que o esforço não vale a pena, se ainda crio alguma coisa é pela grande necessidade de faze-lo, como aquele espirro que não dá para conter, mas atualmente faço apenas para mim mesmo. Ainda resisto ao crowdfunding e detesto ler hqs na tela do computador.


Bem, tudo que disse até agora foi para comentar que o amigo Gilberto Queiroz teve colhões para lançar sua própria revista. E num capricho de fazer inveja a qualquer editora de renome, excelente impressão, papel de boa gramatura e um acabamento perfeito.

Como diz a música, "o carteiro chegou e o meu nome gritou, com uma carta na mão", assim mesmo, e como é bom receber presentes desta natureza; um: por vir da parte de uma pessoa querida, dois: em dias amargos uma encomenda assim é como mel descendo suave pela garganta. Muito obrigado, Gilberto.


A obra contém três histórias, todas muito bem narradas e bem desenhadas, duas dela com roteiro de Rynaldo Papoy. Gostei particularmente do primeiro conto. Sinistro.


Alguém poderia argumentar que o desenho do Gilberto ainda está verde para este tipo de publicação, mas eu responderia que de certas frutas verdes ainda se fazem os melhores doces. Não parece ser a pretensão dele agradar pela arte, o desenho dele é o que ele é, sua marca, seu estilo, e ele, como todos nós, vai se aperfeiçoando a cada trabalho. E esta é a segunda obra que vem a público. Que venham outras. Mais detalhes você encontra aqui:
https://clubedeautores.com.br/book/154212--Timeless?topic=quadrinhos%28hq%29#.UqcckfRDtt1

PARABÉNS PELO ESFORÇO E CORAGEM, GILBERTO.


ALGUMAS IMAGENS DO LIVRO DE ANATOMIA.

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A corrida continua desabalada, não adianta os músculos das pernas reclamarem, nem os pulmões clamarem por descanso, a estrada se descortina à frente convidando a uma maior aceleração, parar significa perder, perdendo, corrompe-se a vida, morre-se, mesmo estando vivo. Um breve descanso talvez? Sim, muito breve, pois você pode ser ágil como um coelho e a morte muito lenta como uma tartaruga, mas sabe que ela vai vence-lo no final. Tome pois, distância enquanto puder, enquanto ainda existe algum fôlego.

Amadas e amados, perdoem-me, sei que como filósofo e poeta eu sou de uma mediocridade invencível, mas as vezes não resisto em usar essas metáforas para exprimir as sensações que a vida me trazem. Desabafo é necessário de quando em quando.


Mas falemos de coisas mais interessantes, esta semana estava dando uma faxina no meu computador e me deparei com estas fotos numa pasta. Eu havia me esquecido completamente delas, e nem tem tanto tempo assim, tirei-as no dia que chegou a caixa contendo meus exemplares da reedição (revisada e ampliada) do meu Desenhando Anatomia - Figura Humana. Ficou um livro bonito pacas. A Editora Criativo prima pela qualidade. Se alguém se interessar é só acessar este link:

http://www.artcamargo.com.br/product_info.php?cPath=40_870&products_id=10398


Sabem, já tentei comunicação com o blogger pra retirar a restrição a este nosso espaço e torna-lo de novo acessível a todas as idades, mas ainda não tive sucesso, que coisinha complicada! Isto deveria ficar ao critério do dono do blog, se ele quer só para maiores vai lá e clica, se decidir mudar de ideia, clica de novo e pronto, mas não é assim, sei lá porque. Quando puder vou tentar de novo.


Bom final de semana pra vocês todos. Abraços pros gatões e beijos pras gatinhas.







MARÍLIA DE DIRCEU ( CENA 01 )

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Amadas e amados, bom dia.
As coisas continuam estranhas como sempre estiveram, não há debaixo do sol um momento prolongado de descanso, foi assim com os primeiros homens logo depois da queda do primeiro e de lá pra cá só piorou. Acho que me preocupo demais, penso demais, ou de menos. Já faz um bom tempo intento criar um texto específico para postar aqui e nunca consigo as palavras certas, o momento certo. Não é algo com o que eu deveria me importar, afinal, estas coisas só dizem respeito a mim, transforma-las em palavras e dividir com vocês é a mais pura vaidade. Como não consigo evitar, vou ruminando e uma hora a coisa sai. Meu problema maior é o tempo, como sempre. Atualmente estou de novo assumindo mais compromissos de que posso dar conta, é a maldita luta pela sobrevivência, não consigo terminar o mês com algum dinheiro sobrando, mas o nome que construí me possibilita ter atividade remunerada para pagar todas as contas, graças a Deus.

Os que me acompanham aqui desde o princípio sabem que tenho pronto uma antologia em quadrinhos chamada PHOBOS E DEIMOS, um dos meus livros mais amargos, cada história desenhada com uma técnica distinta. Ontem, depois de quase um ano, finalmente o editor de uma conhecida empresa paulista entrou em contato para informar que um projeto autoral deste porte não dá pra ser publicado por eles, é arriscado demais. Ele me sugeriu o Catarse. Acho que não, ninguém iria apoiar e isto colocaria uma pá de cal em minha auto-estima, ademais não tenho tempo nem saco para gerenciar este tipo de coisa, mas sei lá, sinto que este livro deveria chegar aos que gostam do meu trabalho, pois mostra algo bem diferente de Zé Gatão, quer dizer, nem tão diferente assim, mas este não é com antropomorfos. Bem, depois do banho de água fria preciso pensar direito no que fazer, adio qualquer plano em relação a isto para o ano que chega, se estiver vivo até lá.

Chega agora até vocês, meu cada dia mais reduzido e fiel público, as imagens de Marília de Dirceu de autoria de Tomás Antônio Gonzaga, poeta arcadista luso-brasileiro e um dos protagonistas da Inconfidência Mineira, para mim um dos mais enojantes episódios da história brasileira.


UMA CASA COM MUITAS ESCADAS.

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Se a memória não me trai, foi em 1969 que eu e minha avó fomos morar com meus pais. Pode ter sido também em fins de 1968, nem minha mãe está muito ciente disto, o certo é que foi logo depois da morte do meu avô e pelo que minha mãe conta, foi um período extremamente amargo na vida dela, tanto que ela não gosta de relembrar aqueles tempos, eu não forço a barra.

De início moramos na casa da dona Bárbara, uma alemã, amiga do velho Schloesser. A residência situava-se próximo à base aérea de Cumbica, ficava numa rua de chão, com uma ladeira que seria impossível esquecer pois foi ali que meu pai me ensinou a andar de bicicleta. Era uma época em que os guris não eram tratados a pão de ló e leite com pera, eu sofria minhas quedas, me ralava todo e meu pai me dizia, levante-se e tente de novo.
A casa ficava num ponto elevado da rua, subíamos vários degraus até chegar à porta principal. Me impressionou as dimensões daquele lugar. Ali eu tive contato com as coisas que viriam a fazer parte da minha vida: arte e fantasia. Haviam livros e revistas em quadrinhos. Um grosso volume de papel amarelado e espesso exibia imagens fascinantes de fábulas conhecidas como Chapeuzinho Vermelho (seriam de Doré?). O marido de dona Bárbara era um italiano, talvez por isto tivesse por ali vários volumes de Topolino, como eram conhecidas as revistas do Mickey na Itália. Claro que eu não sabia ler aquilo, mas devorava as figuras, me impressionava muito a violência de algumas histórias, principalmente a forma bruta com que um dos Metralhas tratava seus irmãos.
Não tinha ainda tido contato com televisão, havia uma por lá, de madeira e válvulas, mas sobre ela eu falo mais adiante, mas deixa eu adiantar que foi através dela que conheci o Brejeiro e o Marinheiro, mascotes de
uma importante marca de arroz da época. Os sacos de cinco quilos vinham com bonequinhos de brinde e foi para mim uma maravilha ter nas mãos os personagens que via nas propagandas de tv.





Talvez para recuperar o tempo perdido, meu pai sempre que podia estava comigo, me ensinando alguma coisa. Uma lembrança forte que eu tenho foi numa das primeiras vezes que nos falamos a sós e ele me perguntou se eu sabia quais eram as cores da bandeira brasileira. Abobalhado, eu balancei a cabeça em sinal de afirmativo. "Não, não balance a cabeça, responda." Sim, disse eu numa voz fina e nervosa. "E quais são?" Eu que nem sabia exatamente o que era uma bandeira, fiquei mudo. Ele me ensinou isto e também todo o alfabeto. Recordo que ele e meu tio Etevaldo me fizeram decorar todos os estados e capitais brasileiras. "São Luís é capital de qual estado?" ARANHÃO, respondi. Gargalhadas. "Não, é Maranhão." Aprendi bem aquilo tudo, tanto assim que meu tio me levou certa vez a um bar onde ele costumava beber e disse aos outros bebedores: "Meu sobrinho conhece todos os estados e capitais do Brasil!" Os caras fizeram perguntas e eu não errava. Eles me presentearam com muitos doces naquele dia.
Meu pai usava uma cartilha para me ensinar a ler, eu aprendi na base de muitos bofetões. Desenvolvi, por este motivo, um medo dele que beirava a insanidade, e quanto mais o temia, mais o admirava, queria ser como ele, saber o que ele sabia, rir como ele ria (alguma semelhança com Kafka?). Ele trouxe do ministério uns enormes cadernos de folhas grossas e eu tinha que copiar meu nome cem vezes, depois os nomes de minha mãe, da minha avó e o dele próprio. Se eu não completasse a tarefa até a hora dele chegar - geralmente no princípio da noite - eu levava uma surra. Certa vez ele exagerou e me lembro bem que minha avó e minha mãe, que também morriam de medo dele, tiveram que me lavar numa bacia com salmoura.

A televisão era um escape e tanto, um dos primeiros programas que assistia passava a noite, era o do Topo
Gigio e era apresentado pelo humorista Agildo Ribeiro. Fiquei fascinado pelo ratinho italiano. Não demorou e fui estudar formalmente, não exatamente num colégio, mas com uma professora particular. Bem, também não era tão particular assim, ela tinha outros alunos em sua casa. O local ficava na base aérea e a mestra era esposa de um oficial. A casa dela ela muito aprazível. Não tem como me esquecer dela por três motivos: Um - por eu falar muito no rato italiano ela passou a me chamar de Gigio. Foi o primeiro e único apelido que tive na vida. Ao longo da minha existência tentaram me pôr outros: He-Man, Conan, Supermouse, Bronson, mas nenhum pegou por muito tempo, aliás, nem o Gigio, pra falar a verdade. Acho que desde cedo nunca me importei com este tipo de coisa, apelido pega quando ele te irrita ou quando você gosta tanto que o incorpora.
Dois - certa vez ela soltou um peido, aspirou profundamente e disse: "Ah, que gostoso!"
Três - a filha dela, que devia contar com uns 16 anos, reproduzia uma figura do Pateta, da Disney, em seu caderno, era idêntico ao original. Quero fazer isto. Não foi exatamente um desejo consciente, mas uma vontade de colocar no branco do papel as coisas que me impressionavam. Aquela foi a primeira vez na vida que senti ardentemente alguma coisa: o desejo de desenhar, e desenhar bem.

Agora, nos cadernões do ministério, além de copiar cem vezes as palavras que me eram ordenadas, eu também tentava desenhar meus heróis. Alguns deles eu conheci primeiro na tv, foi o caso do Superman com o George Reeves, eu era fissurado no herói, vê-lo tirar o terno, mostrar o "S" no peito e pular pela janela do edifício, alçar voo e salvar quem precisava de ajuda era sempre uma emoção renovada. De verdade, eu
pensava que ele existia. Certa vez, na entrada da base, para ir à aula, eu teimei com dois soldados do portão que o Super-Homem existia, EU TINHA VISTO NA TELEVISÃO.


Outro que me causava deslumbramento sem igual era o Batman, com o Adam West. Aquela série marcou demais a minha infância. A cada final de episódio eu ficava louco pra saber como ele e o Robin iam escapar das armadilhas criadas pelos vilões. Julie Newmar na pele de Mulher-Gato causava em mim um êxtase inexplicável.



Não perdia também nenhum episódio de National Kid. Já comentei sobre ele em um post mais antigo.
Inesquecível também era o Zorro da Disney, cujo protagonista era o Guy Willians.
Cisco Kid  e seu amigo Pancho também foi largamente desenhado (se é que aquilo podia ser chamado de desenho) nos meus cadernos.
Eram os personagens que me encheram a infância de enlevos.



Entre o aprendizado, bofetões, tentativas de desenhar e programas de televisão, eu passava meus dias em companhia de uma cadela vira-latas que ficava confinada numa área superior do quintal da casa. Tinha que subir vários degraus de escada para chegar até onde ela estava. Era a minha companheira, uma vez que não havia outra criança para brincar. Para minha vergonha evoco que eu fazia uma maldade com ela, pegava-a pelas patas dianteiras e rodava bastante e soltava num certo momento. Mas o pobre animal sempre vinha com o rabo entre as pernas pra perto de mim. Por muito tempo eu achei que todas as desditas porque passava eram mais que merecidas por brincar de forma violenta com um bicho tão meigo. Não consigo me lembrar a quem pertencia aquela cachorra, nem que fim levou.

Eu fazia muitas perguntas e torturava minha mãe com elas. E eram as questões mais idiotas. Naquela época havia um cantor da Jovem Guarda, muito popular, chamado Eduardo Araújo (sim aquele mesmo do carro vermelho e que não precisava de espelho pra se pentear), por ter o mesmo nome que ele eu achava que quando crescesse eu iria me tornar ele, e dizia pra minha mãe que queria ser eu mesmo. Mas você vai ser, dizia ela, mas eu teimava e continuava achando que ao ficar adulto eu iria automaticamente me transmutar num outro cara. Eu não conhecia nenhum outro Eduardo. Minha mãe era cantora, cantou muito em rádio e programas de tv da época, mas meu pai não lhe permitiu seguir carreira como a Ângela Maria. Ela tinha longos cabelos negros que lhe chegavam até a altura dos lombares, certa tarde ela apareceu com as madeixas cortadas nos ombros. Acho que uma nova vida começava pra ela.

Uma vez ao chegar do trabalho meu pai me trouxe a Mônica nº 1, acho que aquele foi o primeiro gibi que tive na vida.


Minhas tentativas de desenhar continuaram e meus pais me deram uma ferramenta que me deu autoconfiança, um Desenhocop. Era um caderno em espiral com folhas de papel vegetal com desenhos de bichos, momentos marcantes da história brasileira e etc, os desenhos eram como carbonos, colocava-se uma folha branca por baixo e dava pra decalcar o desenho, não consigo explicar bem, mas vocês podem fazer uma ideia. Aquilo me deu motivação. Custavam muito caros na época, acho que tive uns dois ou três, se tanto.




Foi por este período que Deus não permitiu que eu morresse afogado, mas sobre este fato eu comento numa outra postagem, se tiver paciência pra tanto.
Eu vivia com medo e muito sozinho boa parte do tempo, não eram só os olhares duros do meu pai, nem as coças de minha avó, havia uma sensação de inadequação a tudo e achava que era pesado às pessoas.

Em algum momento eu soube que minha mãe estava grávida. No mês de outubro de 69 meu pai  subiu com meu irmão enrolado num cobertor amarelo e o deixou em cima da cama pedindo que eu tomasse conta enquanto ele e meu tio carregavam minha mãe sentada numa cadeira por todo aquele lance de escadas.
Fiquei observando a criaturinha que dormia envolto no cobertor. Aquele era o primeiro dos três maiores presentes que Deus me daria na vida.


VOTOS.

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DESEJO A TODOS VOCÊS, AMADAS E AMADOS, QUE TEM A GENTILEZA DE ME VISITAR AQUI, UM FELIZ NATAL E UM 2014 CHEIO DE VITÓRIAS SOBRES AS BATALHAS.

QUE NÓS POSSAMOS NOS ENCONTRAR SEMPRE POR AQUI PARA UMAS ARTES E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIDA.

ATÉ O ANO QUE VEM.

FIRME COMO PREGO FINCADO NA MERDA FRESCA.

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AMADAS E AMADOS AQUI ESTOU DE VOLTA, pronto para pegar o touro da vida pelos chifres e domina-lo com garra. Bem, este é o desejo.

Meu final de ano foi bom, graças a Deus, mas confesso que no dia 31 eu contava os minutos pra que tudo acabasse e voltássemos à normalidade de nossas vidas. Eu e Vera (é como os íntimos chamam a minha esposa) trabalhamos muito, preparando ceia. Ninguém pra ajudar. Luta-se contra o tempo e na hora de degustar estamos "pelas tabelas", como se diz. Mas complicado mesmo foi na madrugada do dia 30. Quem me acompanha por aqui a mais tempo certamente deve se lembrar de uma postagem que fiz comentando sobre os loucos que literalmente me cercam, hão de se lembrar do cachorro maluco que late o dia inteiro. O que não falei é que os donos do tal cão não são boas pessoas. O chefe da família é um delegado, dizem, tem a esposa, um casal de filhos, uma empregada que fofoca o dia inteiro ao telefone falando de homem com as amigas (não fico prestando atenção, mas é impossível não escutar, o prédio é encostado ao nosso) e o cachorro latindo como em resposta aos desvarios de uma família que não se entende. No dia 30, por volta de 10 da noite, eles comemoravam alguma coisa, acho que era o aniversário da filha deles, uma moça bonita, porém execrável, e contrataram música ao vivo. Amados e amadas do meu coração, parecia que a festa era dentro do nosso apartamento! Os vidros das janelas tremiam com as vibrações vindas de fora! A música e os brados dos convivas só cessaram as cinco da manhã. Foi uma noite complicada. O dia 31 passamos quase o tempo todo na cozinha ou em fila de mercado, sempre tem um item que acaba faltando, aí já viu, né?
Comemos bem, na casa da sogra, estavam lá como de praxe a avó, irmãos, sobrinhos e cunhados da Verônica. Da varanda vi a queima de fogos na praia de Candeias. Isto não me trás emoção absolutamente alguma.

Para vocês saberem como foi o meu dia primeiro do ano, segue o trecho de uma carta que escrevi a um amigo de infância:

"Meu velho amigo, acabo de ler suas respostas e como sempre, me trazem muita alegria. Ontem, senti o coração turbado o dia todo, uma imensa vontade de chorar, mas não me permiti faze-lo, não quis preocupar a Vera ou quem pudesse notar. O porque? Nem eu sei direito, saudades da minha mãe e irmãos? Sim. Saudades dos poucos, mas sinceros amigos? Certamente. Pensar que todo esforço depreendido até hoje poderia ter rendido mais frutos, ao invés de me proporcionar apenas o básico? Também. Mas fazendo uma auto análise com parcimônia, reparo que o motivo maior é notar que vou envelhecendo muito depressa e o melhor da vida ficou para trás, lembrei do seu pai, do meu, de um tio que faleceu a pouco tempo e percebo a implacabilidade do tempo com mais força. Um novo ano começa e apesar de todo o otimismo comum a esta época do ano, não sinto vir no vento algo que justifique esta alegria que me parece tão afetada."

Estou trabalhando em quatro projetos ao mesmo tempo. Ilustro um livro didático de sociologia e o clássico de Lima Barreto chamado Numa e a Ninfa, estes pagam as contas, os outros dois são pessoais, a bio de Edgar Allan Poe (que me obrigo a trabalhar um pouco, pelo menos, todos os dias) e os desenhos que ilustrarão o novo conto de Zé Gatão escrito por meu amigo Luca Fiuza, a continuação de Seca Cruel, estes sim, fazem a coisa valer a pena.


A arte de hoje é um dos esboços para a capa do livro "A Vegetariana" da Devir. Os outros sketches vou postando com o tempo, no fim, não valeram meus esforços nem vi dinheiro, a autora, juntamente com o patrocínio de alguma empresa coreana, optaram por colocar uma foto na capa. Ossos do ofício.

Bem, chegamos em 2014. Daqui a pouco é carnaval, seguido de semana santa e depois, copa do mundo; talvez, após isto tudo, o país comece a funcionar.

Aguardo vocês semana que vem, se Deus quiser.

MARÍLIA DE DIRCEU ( CENA 02 )

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Bom dia a todos. Cá estamos de volta, graças ao bom Deus.

Assisti neste fim de semana ao programa Pipoca e Nanquim de número 178 e como sempre curti demais, os apresentadores são muito simpáticos e divertidos, neste em particular faltou o Alexandre Callari, editor da DC no Brasil, mas mesmo assim valeu a pena, por focar por quase uma hora nos quadrinhos nacionais independentes. Gosto desse canal por que é feito por quem de verdade curte histórias em quadrinhos e trabalha no ramo, caso você não conheça e tenha ficado curioso, para assisti-lo é só acessar:
http://pipocaenanquim.com.br/videocast/pipoca-e-nanquim-178-se-nao-leu-leia-especial-fiq-pt-1/

Mas o que me levou a abordar este programa é justamente o que foi falado lá, como os quadrinhos no Brasil vão bem, em como o mercado irá crescer e etc. Eu digo, TOMARA. Repito, tomara mesmo que se cumpra o que ali foi vaticinado. Meu ponto de vista é outro, menos simpático e otimista. Só para quem ainda não me ouviu comentar sobre o assunto, por mercado, eu entendo assim: Deve existir oferta e demanda.
No caso dos quadrinhos no Brasil, temos ótimos artistas, e isto não é de hoje, a mais de 30 anos (e muito antes disto se formos contar as hqs de guerra e western produzidas pelo saudoso Eugênio Colonesse) o traço dos quadrinistas tupiniquins são exportados, seja para os EUA ou Europa. E hoje em dia uma nova geração de gênios conseguem publicar materiais autorais de grande qualidade. Só que aqui, em solo pátrio, isto ainda não acontece. Não vejo um autor de HQs vivendo única e exclusivamente disto, não tenho conhecimento de um desenhista e/ou roteirista produzindo seus álbuns e pagando suas contas com eles (Maurício de Souza  e Ziraldo não contam)  Eu noto a cena independente indo muito bem, o que prova que temos uma infinidade de desenhistas/roteiristas produzindo pra caramba, o que denota que existe oferta, mas não demanda. Para ilustrar o que digo, lembro que até bem pouco tempo a Editora Abril criou um concurso para quem estava afim de produzir quadrinhos infantis (algo nos moldes da Disney), bem, os vencedores do concurso, pelas críticas que li, foram muito bem e tinham ótimas propostas, mas as revistinhas não passaram do terceiro número, e só podemos crer que foi por causa da baixa vendagem.
Pelo Pipoca e Nanquim citado acima, vemos dezenas de quadrinhos de boa qualidade, mas não sabemos que eles existem. Ficam restritos às tribos próximas de quem os produziu. Não há uma forma de divulgação e distribuição eficaz. Os gibis migraram das bancas para as livrarias, tornando-os menos acessíveis ao público alvo. Os motivos para isso não vem ao caso agora, mas embora a internet, via blogs e redes sociais, seja uma forma competente e rápida para divulgar produtos, ainda não faz o barco navegar em águas mais profundas. As vezes acontece, como foi o caso do filme A Bruxa De Blair, mas não é um fenômeno que vemos se repetindo, infelizmente.

Eu, particularmente tenho certa dificuldade de comprar as coisas via internet, principalmente sem cartão de crédito. Se o sistema for por boleto já facilita muito. Mas de particular para particular é mais complicado. Comprei os independentes do Gustavo Duarte assim, indo ao banco fazer deposito, escaneando o recibo e mandando a ele por e-mail, mas eu estava em contato direto com ele, para adquirir material do Marcatti foi mais difícil e eu acabei deixando pra lá. Meu amigo Nestablo Ramos, divulgou uma hq de cangaço, tema que atrai, chamada "Os Proscritos", de um certo Beto Nicácio. Programei-me para entrar em contato com ele e adquirir seu livro, mas acabei me esquecendo, quando lembro, estou sem grana, seria mais fácil se eu pudesse encontrar a obra na banca ou na livraria. Gosto disso, folhear o produto, pagar por ele e leva-lo na hora, mas sei que isto hoje tá ficando raro.
Certo tempo atrás eu divulguei no Facebook que tinha exemplares do primeiro álbum do Zé gatão para vender, muitos entraram em contato para adquirir, poucos concretizaram o negócio, talvez pelos mesmos motivos que declinei acima. Por isto é que digo, muito do que foi divulgado no Pipoca e Nanquim me interessou, mas como conseguir? Eu ainda tenho certos recursos, mas e aqueles que não tem, que contam as moedas para comprar um gibi do Superman?
Onde estão as editoras que a uns três anos atrás publicavam quadrinhos nacionais a rodo? Pararam de investir em adaptações de clássicos? O governo parou de comprar uma parte?
Coisas como estas eu disse numa entrevista para uma rádio e teve gente que me criticou dizendo que não adiantava ficar chorando, o negócio era continuar insistindo e produzindo. Não fico chorando, minha senhora, eu até que consegui meu espaço, tenho álbuns publicados por editoras de peso, mas sou realista, faço quadrinhos por que curto faze-los e é uma maneira que tenho de transmitir uma visão de mundo, o caso é que muita gente fica de oba-oba e fingem não ver (talvez não vejam mesmo) a barreira que existe. Daí fica esta impressão de que pelo número de hqs criadas de  forma independente, programas na web dedicado ao tema, debates, festivais e tals, temos um mercado em pleno aquecimento.

E como vencer as tais barreiras? Eu tinha teorias, mas sinceramente nem sei mais, decidi que vou parar com estes comentários, vão dizer que é dor de cotovelo, por que na real, não sou um autor de sucesso comercial.
O que sei ao certo é que esta forma de contar histórias vai continuar, embora o público diminua sempre e sensivelmente. Concordo que não se deve desistir e a produção tem que seguir em frente.
No fundo, a minha opinião é esta, o bom e verdadeiro quadrinho é feito no silêncio do quarto, por necessidade de se expressar, independente de seu sucesso.

Hoje, mais duas imagens para o clássico Marília De Dirceu.


AS MAIORES HQS DE TODOS OS TEMPOS (KEN PARKER)

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Hoje me bateu uma vontade danada de reencontrar um velho amigo, alguém muito querido que muito me ajudou a suportar os dias amargos que passei no Rio de janeiro, esteve desaparecido de minha vida por uns anos me provocando grande apreensão. Reencontrei-o em São Paulo, casualmente, para minha grande alegria. Já faz uns anos que não o vejo, mais precisamente desde que me mudei de Brasília para vir ao nordeste e agora me bate esta saudade repentina.
Infelizmente não posso vê-lo pois ele se encontra muito bem guardado dentro de uma caixa, numa pilha entre tantos outros quadrinhos lacrados que não posso abrir por falta de espaço nas minhas estantes.
O amigo a quem me refiro chama-se Ken parker, personagem da linha western, criado pelos italianos Giancarlo Berardi (roteirista) e Ivo Milazzo (desenhista).



Parker me foi apresentado pelo Ariel, um amigo da adolescência em 1978. Não fui muito com a cara dele a princípio, na época eu curtia Tex e Jonah Hex e achava que não havia ninguém naquele gênero que pudesse chamar minha atenção.
O gibi de estreia, editado pela Vecci se chamava Vingança, e a história tratava exatamente disso, o protagonista caçando os assassinos de seu irmão. Nada novo, mesmo assim me marcou por mostrar um drama violento e bastante calcado na realidade. Mas a partir do número dois, chamado Mine Town, que comecei a me interessar de verdade. Um número melhor que o outro e a partir daí eu e Ken Parker começamos uma relação que durou muitos anos. O desenhista Milazzo teve que se revezar com outros artistas a partir do número 8, se não estou enganado, uns muito bons, outros nem tanto, mas a qualidade das histórias sempre permaneceram excelentes.
Ken Parker fugia à regra das histórias de cowboys a que estamos acostumados, ele já trabalhou num baleeiro no melhor estilo Moby Dick, esteve entre os esquimós, defendeu a causa índia em Washington e tals.
Soube que ele foi inspirado pelo filmaço "Jeremiah Johnson" que aqui recebeu o título de "Mais Forte Que A Vingança", de 1972, dirigido pelo Sidney Pollack e estrelado pelo Robert Redford, tanto que alguns desenhistas retratavam Parker com a cara do Redford.

Mas foi no período que morei no Rio de Janeiro, nos fins de 70 e começo de 80, que comecei a minha coleção de Ken Parker, ler (e reler) aquelas histórias foi como bálsamo num período de solidão e alheamento. Comecei minha coleção comprando em banquinhas de feira livre, neste período, as feiras no Rio sempre tinham uma barraquinha de revistas usadas e foi ali que adquiri números que havia perdido (inclusive comecei uma grande coleção de Tex nesta época, mas sobre o famoso ranger eu falo em outra oportunidade).

Certo dia, muito chuvoso e frio, eu fui até a sede da Editora Vecchi que ficava num lugar no centro da cidade muito longe da onde eu residia, para finalmente completar a minha coleção, mesmo estando com pouco dinheiro. Todos os meses eu ia às bancas ansioso por uma nova edição e muitas vezes frustrado pelos comuns atrasos.
A coleção de Tex e Ken Parker começou a crescer demais e eu já não tinha espaço no lugar onde dormia de favor e a mãe do amigo que me hospedava, uma senhora muito religiosa, começou a pressionar e eu tive que me desfazer das revistas. Nesta época errante, uma revolta muito grande começou a tomar conta de mim mas eu nunca a externava, eu me achava a pior criatura da face da terra e tinha um desprezo profundo pelas pessoas à minha volta. Ouvia muito rock (escondido) e tava sempre com garotas (cujo nomes nem lembro mais). Foi meu período de "sexo e rock´n´roll", não teve drogas porque esta merda nunca me interessou, sério, mesmo naquela época de total inconsequência nunca entendi como um ser humano pudesse ser tão imbecil a ponto de usar tais substâncias para fugir da realidade (ou fazer parte dela).


De volta à Brasilia recomecei minha coleção de Ken Parker, mas aí já era muito mais difícil, não lembro se a Vecci já tinha fechado as portas, mas encontrar números antigos era como procurar agulha num palheiro. O Tex encontrou casa nova, mas o Parker, que nunca foi popular, muito menos um sucesso de vendas, encerrou seu ciclo no número 53. O Ariel, que a muito perdera o interesse no personagem, me cedeu várias edições que faltavam. Com muito custo fui agregando um número aqui outro ali, até que tive em mãos todos os exemplares tinham saído pela Vecchi, com exceção de um que tinha o título de Sangue Vermelho (o número 49). Foi o período em que o Parker sumiu, sempre que eu ia a sebos, vez ou outra eu encontrava vários volumes antigos, mas nunca aquele. Já cheguei a ver certa vez a coleção inteira na Muito Prazer, estava tudo lá....menos o número 49. Cheguei a conversar com outros colecionadores e muitos não tinham aquele tomo. Cheguei mesmo a duvidar que ele tivesse sido publicado. Sem exagero, sonhei algumas vezes que o referido número chegava às minhas mãos. ATÉ QUE NUM BELO DIA alguém se desfez da sua coleção e na mesma Livraria Muito Prazer, EU O REENCONTREI! O ansiado volume que me faltava lá estava me esperando. Como disse acima, foi como rever uma pessoa querida, desaparecida a muito. O tal Sangue Vermelho, nem era lá uma história tão boa, mas eu finalmente tinha a coleção completa.


O personagem parou no Brasil mas continuou na Itália, então a Best News anunciou uma série de títulos de quadrinhos, entre eles Ken Parker a partir do número onde tinha parado, saíram duas ótimas edições, mas as hqs desta editora tiveram vida curta.


Posteriormente saíram alguma edições especiais em formato álbum, com papel de boa qualidade e histórias coloridas, todas ótimas, mas o final da saga permanece inédito pra mim até hoje. Uma editora nova (Tapejara, Cluc, nem sei bem agora) relançou todos os números com um melhor acabamento, formato igual ao original italiano e com uma tradução mais fiel. Pensei em comprar de novo, mas o preço salgado e a publicação irregular me impediram, mas prometi a mim mesmo que os números faltantes eu compraria quando saísse. Os tais números foram lançados e eu nem fiquei sabendo, quando fui atrás já não se tinha mais notícias deles, sumiram do mercado e eu que a muito tempo não sou mais aquele Eduardo de outrora, deixei minha vontade de ler a conclusão daquela fase do personagem hibernar. Um dia, quem sabe, eu corra atrás disso.




Em São Paulo, a Mithos colocou na praça uma nova fase do nosso herói, posterior aquela que eu perdi. Nela Ken Parker é caçado por um xerife implacável por um crime cometido anos antes. Uma boa sequência que acompanhei todos os números, mas não era a mesma coisa. Não sei, amigos mudam como mudam as estações, e o velho Rifle Comprido, como é conhecido entre os índios, talvez tenha ficado mais maduro, mais sorumbático, mas nada apaga aqueles primeiros tempos, aquelas velhas histórias.

Li destes que ele voltará a ser publicado na Itália, será muito bem vindo, mas como eu já disse, as velhas revistas da Vecci, esta sim, é a saudade que gosto de ter.


Mais informações sobre Ken Parker vocês encontram no excelente blog http://kenparker.blogspot.com.br/ , dedicado ao personagem.



MARÍLIA DE DIRCEU (CENA 03)

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Eita, que cansaço! E o trabalho está longe de acabar, no momento estou ilustrando, paralelo aos didáticos (que são um pé no saco) o clássico "Numa e a Ninfa" do lima Barreto, este sim, dá prazer de fazer, apesar da complexidade da técnica usada. Por isto a fadiga é compensada pelo prazer de ver a imagem criar vida no branco do papel.
Minha prancheta está uma bagunça, montes de canetas, lápis, livros de referências, pó de borracha (tenho que espana-la) e o notebook bem na beirada onde escrevo a vocês aproveitando para dar uma descansada. Rola um Zé Ramalho no meu som. Minha posição não é lá das mais confortáveis apesar de manter as costas eretas, não é a toa que no final do expediente estou com as costas ferradas, clamando por um Dorflex.

Meu polegar esquerdo continua luxado, me impedindo de segurar as coisas com firmeza, o esporão no calcâneo direito continua me torturando, agora dando sinais também no esquerdo, a editora não mandou os contratos para serem assinados apesar das artes entregues no prazo, resultado, nada de dinheiro esta semana. Duas contas venceram, os juros não querem saber, ou seja, nenhuma novidade. Espero que com vocês esteja tudo bem.

As artes de hoje são para Marília de Dirceu.

Preciso voltar ao trabalho. Bom fim de semana para vocês, meu amados e minhas amadas.

MAIS SOBRE A BIOGRAFIA DE EDGAR ALLAN POE.

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Edgar Allan Poe fez aniversário a poucos dias e a biografia dele que estou quadrinizando ainda está longe de ficar pronta. Ela avança a passos de tartaruga devido a minha impossibilidade de me dedicar a ela integralmente. Mas ainda que pudesse, nem por isto ela estaria finalizada neste mês ou no outro, isto porque a técnica empregada é trabalhosa, delicada e não tenho mais as energias de antigamente. Trabalho hoje de forma mais metódica e mais lenta.


Dia destes o roteirista perguntou se dentro de três meses eu a terminaria, pois há uma editora no Rio de Janeiro interessada em publicar neste prazo. Eu disse que não poderia prometer, mas que era muito provável que não. Ele então quis passar a bola para outro artista , zerar tudo e recomeçar nos traços de um outro cara que fosse mais rápido. Eu disse a ele que tudo bem. Só seria pena que as mais de 50 páginas que fiz, que já estão prontas, ficariam no limbo.


Fiquei muito chateado com o cancelamento, mas o tempo cura tudo, principalmente nos dias de hoje em que sonho menos e tento ser mais prático. Sendo assim, foi com uma mescla de mágoa e alívio que me vi livre deste encargo e poderia me dedicar aos trabalhos que me sustentam e alguns projetos pessoais que tenho deixado empoeirar faz tempo.


Até que o artista e editor ligado ao projeto me ligou perguntando como estava o andamento da história. Disse a ele da decisão do escritor. Ele, parece, conversou com o roteirista e recebi do mesmo uma mensagem para eu continuar com a obra. Que esperaria.
Eu estou tentando acelerar o processo sempre que possível, mas não é fácil. Ainda estou na juventude do biografado, ele está prestes a ir para West Point, ou seja, tem ainda muito chão pela frente.


Hoje posto alguns traços, rabiscos, design de página e esboços finais, para vocês conferirem mais ou menos como é o meu processo.


Aos poucos a coisa vai ganhando corpo. Uma hora fica pronto.


Edgar Allan poe merece.



ESBOÇO RAPIDEX.

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Ai, ai. Me sinto um peixe fora do aquário. Sempre. Em todos os lugares  e situações. Só não me sinto um estranho ao lado dos meus irmãos e da minha esposa, e também com mais uns dois ou três amigos. De resto, não consigo me adaptar. Acho que já falei isto aqui.
Esta semana, perdi um tempinho navegando pelo Facebook, coisa que não fazia a muito tempo. Vi umas artes muito bacanas criadas por uns artistas brasileiros muito fodas. Hqs e ilustrações maravilhosas. Deixei o meu positivo e um comentário parabenizando. O curioso é que apesar de gostar do que vejo, não me sinto inserido nestes grupos, nem o trabalho deles tem a ver com o meu estilo de traço ou com a minha forma de ver a vida. Acho que por isto mesmo Zé Gatão ainda é um corpo estranho no meio disso tudo. Nunca devidamente aceito. Os que estão na ribalta, o ignoram, os que batalham por seu lugar ao sol, esnobam, como se o esnobe fosse ele.
Então, no silêncio e solidão do meu estúdio, remando contra a maré, eu continuo trabalhando.

Para não deixar vocês, meus queridos e queridas, sem um desenho, fiquem com este esboço de segundos, não aproveitado num livro didático.


Se cuidem e tenham um bom fim de semana.

FANART DE ZÉ GATÃO POR LUCA FIUZA.

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Meu amigo e brother Luca escreveu um novo conto do felino taciturno e ele ainda não está aqui, no ar, por minha culpa. Isto porque estou ilustrando a narrativa, tentando dar uma caprichada extra nas artes. Estou mais lento na minha forma de trabalhar, é certo, e embora eu tente dar um espaço diário a cada projeto, nem sempre consigo cumprir a promessa feita a mim mesmo, preciso priorizar os comissionados, senão, como vocês podem imaginar, não pago minhas contas.

Concluí ontem o clássico da literatura brasileira Numa e a Ninfa do Lima Barreto e enquanto outro livro não me cai nas mãos toco a bio do Edgar A. Poe e acelero a produção das ilustras para este aguardado conto.

Os que me acompanham desde o início devem ter lido uma postagem que fiz sobre este querido amigo de infância ( http://eduardoschloesser.blogspot.com.br/2011/07/meu-amigo-luca.html ), sabem que ele foi uma das grandes influências na minha arte. O Lucão, como costumo chama-lo, abandonou os desenhos, concentrando-se na sua vida profissional como professor de história e nas horas vagas gosta de escrever para dar ares à sua fértil imaginação. Sorte a minha.

Ele voltou aos desenhos e rabiscou estas duas imagens do gato cinzento. Na de cima ele esqueceu as suíças que acusam o hibridismo do personagem, nova tentativa e saiu a imagem que vemos abaixo.

É sempre legal ver uma criação pelo talento de outras pessoas.
Já tivemos outras fanarts aqui. Eu sou mesmo bem afortunado.


ZÉ GATÃO E FRITZ, THE CAT.

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Parece mesmo que Zé Gatão será foco das postagens esta semana, então vamos lá: um dia qualquer do ano passado recebi uma mensagem in box no Facebook de um jornalista do Correio Brasiliense me pedindo uma colaboração para uma matéria que ele estava escrevendo sobre Robert Crumb. Pelo que entendi a referida matéria consistia em opiniões dos artistas de Brasília sobre o modo como Crumb os influênciou. Bem, dois ponto aí: não sou exatamente de Brasília embora tenha morado lá a maior parte da minha vida e tenha declarado amor à cidade. Estou afastado do Planalto Central a mais de 10 anos. Outro ponto é que embora eu seja um fã do Crumb, ele não foi exatamente uma influência na minha arte. Eu o conheci já na idade adulta, embora já visse os desenhos dele desde a adolescência, mas só de volta a São Paulo em 91 é que pude ler suas hqs e me impressionar com as suas ousadias. Seu personagem mais famoso, o gato antropomorfo Fritz, foi citado/homenageado no meu primeiro álbum do Zé Gatão, ali eu juntei alguns felinos famosos dos quadrinhos para dar um tom mais leve a uma narrativa pesada, mas Zé gatão e Fritz pouco ou nada tem em comum. Crumb usa seu personagem quase como uma brincadeira, uma sátira às situações e costumes dos anos 60, uma espécie de ambiente "disneyano" subversivo. O meu é aventura escapista travestida de hq de ação com tons de filosofia pessoal. Também nada tem a ver com Maus, um dos maiores quadrinhos de todos os tempos, ganhador de um Pulitzer e que muitos admiradores meus insistem em comparar. Creio mesmo que meu felino mestiço tenha mais a ver com os bichos de pelúcia de Amberville, A Lista Da Morte, de Tim Davys, como observou a escritora Carla Ceres.
Mas voltando ao pedido do jornalista do Correio, respondi que faria o texto com prazer, ele solicitou também uma arte se fosse possível. Fiz o texto e o desenho e enviei. Só pedi a ele a gentileza de me informar quando a matéria saísse para eu requerer de meus irmãos a compra de um exemplar do jornal. Espero a informação até hoje. Acontece sempre. A matéria já deve ter saído, afinal já se passou muito tempo. Ou não, já vi muitas matérias de jornalistas barradas pelo editor depois de prontas.
De qualquer modo, fiquem aqui com o desenho e o texto para a matéria que nunca vi, Zé Gatão e Fritz, the cat, como se fossem bons companheiros.


"A primeira lembrança que tenho da arte de Robert Crumb data em fins dos anos 70 numa estampa de camiseta. Era o clássico desenho de uns homens entrando pelas partes íntimas de uma mulher e saindo pela boca da mesma. Causou-me uma forte impressão. Alguns anos mais tarde pude ler os primeiros álbuns lançados pela LPM. Virei fã pelo modo impudico em que ele retratava sua própria vida e situações do cotidiano. E esta foi a forma que fui influenciado, não exatamente pelo seu desenho, que é espetacular, mas pelo modo de contar histórias. Ele é um dos gigantes dos quadrinhos, ao lado de Eisner, Kirby e Moebius, não por causa da sua arte transgressora e subversiva (vê-lo só sobre este prisma seria diminui-lo) mas pela forma honesta com que retrata sua maneira de sentir o mundo"
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