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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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SEM TEMPO PARA MELANCOLIA, NEM FEIJOADA.

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Faz tempo que não como uma feijoada das boas, como as que minha mãe fazia em outros tempos. Na receita dela não ficava um prato tão gorduroso e o sabor era inesquecível. Pensei hoje: queria comer algo que não vejo na mesa a muito tempo e a feijoada foi a primeira e única opção. Hoje também seria um ótimo dia para ir ao cinema. Ver o quê? O Homem Formiga, da Marvel, estaria de bom tamanho, falam que é um filme muito bom, com aventura, ação, comédia, tudo muito bem dosado.

Hoje o dia amanheceu chuvoso (e continua), soturno e bem úmido, um clima atípico nesta terra, que logo me remeteu ao clima do "País de Outubro" do Ray Bradbury, este escritor fantástico com uma prosa cheia de lirismo e nostalgia.

O País de Outubro "é o país onde o ano está sempre chegando ao fim. O país onde as colinas são nevoeiros e os rios são neblinas; onde os meios-dias passam rápidos, as sombras e os crepúsculos se alongam e as meias-noites permanecem. O país constituído de porões e sub porões, carvoeiras, sótãos e despensas que não fazem frente para o sol. O país cuja as pessoas são pessoas de outono, que pensam tão-somente pensamentos de outono. Pessoas que, ao passarem à noite nos caminhos vazios, emitem ruídos de chuva..."

Sei muito bem que a feijoada se identifica mais com os domingos festivos, gente reunida e dentes reluzindo ao sol, mas eu nunca fui afeito ao convencional, então para mim seria o dia perfeito para esta iguaria.

Entretanto é algo momentaneamente impossível, tão pouco ir ao cinema assistir o Homem Formiga ou me recolher agradavelmente, melancolicamente, num canto e ler um livro como o País de Outubro, tudo o que posso fazer é ficar sentado aqui e desenhar figuras como a que vemos hoje. Mas isto não é um castigo, muito pelo contrário.

  

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