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Channel: A ARTE DE EDUARDO SCHLOESSER
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COMO ANDAM OS QUADRINHOS?

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 No início do aguardado e temido novo milênio (poxa, isso parece tão velho agora, no entanto na minha cabeça a impressão que dá é que 2000, 2001 aconteceram a alguns meses!) os quadrinhos, esta forma tão peculiar de contar histórias, teve sua morte anunciada por muitos "experts" no assunto, deixariam de existir como o conhecemos em poucos anos, virariam peças de museus. Ainda lembro quando ouvi isto da boca de um rapaz que se dizia um grande leitor de Stephen King e de livros de ficção científica no escritório da extinta Pandora Books. Ele estava cheio de argumentos que não tenho saco para reproduzir aqui, mas certamente alguns deles até hoje sobrevivem, como o encolhimento de leitores, fato este que não dá para refutar, uma vez que hoje a criança/jovem tem outras fontes onde exercitar a imaginação, ou se preferirem, "escapar" da realidade cotidiana. O desenvolvimento ultra rápido do Vale do Silício foi o que mais contribuiu para o retraimento da forma de narrar histórias com desenhos em sequência.
O tempo mostrou que aqueles profetas estavam enganados, ouso dizer que a HQ é única forma de arte que (para o bem e para o mal) evoluiu, prova disto é que mais que nunca ela oferece matéria prima para boa parte das produções cinematográficas que vemos hoje, e não falo apenas do gênero super-heróis, Old Boy, a cultuada produção sul-coreana é oriunda de um mangá.

Como andam os quadrinhos hoje? A situação pra mim soa estranha, mas se pararmos pra pensar bem as coisas sempre andaram estranhas para este meio de comunicação.
Aqui no Brasil eu noto uma produção com qualidade cada dia mais impecável, mas que não consegue chegar a todos apesar da divulgação promovida pela internet.
A bem pouco tempo, em 2011 pra ser bem específico, o produto nacional, com ênfase na produção independente, atingiu proporções estratosféricas (eu mesmo tive dois álbuns lançados) com muitos títulos elogiados e com festivais pipocando por todo o país. Editoras, muitas delas de renome, começaram a publicar hqs e grandes livrarias abriam espaços. Era natural pensar que a coisa rolaria de vez e um mercado consolidado se faria sentir. Infelizmente não foi isto que aconteceu. E porquê? Os artistas continuam aí, famintos. Teria o público ficado tímido? Seria culpa da inflação, que embora não seja alardeada como outrora, está de novo presente em nossas vidas? Difícil dizer o motivo, ou motivos.

Fazer quadrinhos não exige muito se formos pensar em termos de material, só é necessário lápis, borracha, caneta, régua e folhas de papel. Boas ideias, energia, e técnicas narrativas são outros quinhentos. Com o básico que acabo de citar você constrói o seu mundo (algo como aquela música "Aquarela" do Toquinho), daí encontrar outros que queiram dividi-lo com você é o passo natural. Todos temos histórias para contar, sempre haverá quem esteja disposto a ouvir, então, ouso dizer que os quadrinhos não morrerão jamais. Como acertar o passo de quem cria ao de quem consome é uma questão para a qual não existe uma solução fácil. Usa-se todo tipo de recurso. Atualmente artistas (alguns até já com nome consagrado no cenário) tem recorrido ao sistema de pedir ajuda financeira aos seus (possíveis) leitores prometendo artes originais e outros bônus. Tudo isto no afã  de ver seu trabalho circulando. É válido, mas espero jamais ter que me valer deste artifício. Sonho com um mercado de fato, onde exista material de qualidade com grandes tiragens e público ávido por produto sempre presente em bancas e livrarias.
Sei lá se este dia chegará em terra brasilis, mas até lá nossos contadores de histórias seguirão, geração após geração, resistindo nas trincheiras.

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